Temos a fantasia de que apenas algumas decisões na sociedade importam.
Acreditamos que a sociedade vai melhorar se os líderes tomarem decisões melhores.
E, por causa disso, ficamos imaginando colocar “salvadores da pátria” que fantasiamos que vão decidir melhor por todos.
Cada pessoa que vai ao supermercado está tomando decisões que importam para todos os outros.
O problema é que quanto mais centralizada forem as decisões, mais chances teremos de ter problemas. E vice-versa: quanto mais pulverizadas, melhor.
Sim, existem algumas decisões que mudam a vida de mais gente, porém, quanto mais uma sociedade vai se descentralizando, mais as decisões vão se distribuindo.
E as decisões só vão se distribuindo por aumento da taxa de autonomia de tomada de decisões de qualidade por cada pessoa, que ocorrem por dois motivos:
- pela melhoria da capacidade cultural-educacional, através do discernimento, através do domínio das linguagens (idioma e matemática) e lógica;
- pela descentralização de mídia, que permite que a informação circule e serve como uma espécie de formação cultural-educacional gratuita.
As pessoas vão, aos poucos, tomando para si as decisões e ações que pediam para que outras pessoas, reintermediando processos.
Antigos intermediadores vão perdendo espaço, pois mais e mais pessoas não veem mais sentido nesta intermediação e vão procurando novas alternativas distribuídas.
A sociedade vai se modificando lentamente de uma taxa de centralização para outra muito mais baixa, num processo de descentralização de processos de tomada de decisão.
Podemos dizer, assim, que existe uma relação verdade individual- problemas individuais. Quanto melhor for a verdade individual de cada um, com mais qualidade vai resolver problemas individuais.
Milhões de problemas individuais sendo tomados com mais qualidade vai fortalecendo um modelo de sociedade mais descentralizado.
Assim, uma sociedade não muda no dia de uma determinada eleição, quando se vota. Ou quando um congresso resolver modificar determinada lei.
Isso é o resultado de bilhões de micro decisões que vão sendo tomadas, que favorece a esse ambiente mais descentralizado.
Assim, é preciso entender que a “verdade” na sociedade, baseada no conhecimento de cada pessoa diante de cada problema é individual.
A melhoria da verdade de cada um vai impactar nas verdades de todos, aperfeiçoando a sociedade de baixo para cima.
Cada pessoa constrói sua própria verdade para lidar com respectivos problemas.
Temos bilhões de decisões sendo tomadas todos os dias.
Países em que temos centralização de poder, monopólios, regras muito definidas o leque de decisões a ser tomada é menor.
As pessoas são direcionadas a um número pequeno de opções e vice-versa. Em países em que temos mais descentralização de poder, o leque de opções é maior.
Um mundo melhor e mais descentralizado se baseia em melhoria gradual e massificada de decisões melhores por cada vez mais gente.
Cada pessoa tem trajetória de conhecimento individual na melhor forma de resolver cada um da dezena de problemas diários.
Não existe, portanto, verdade central, ou a melhor verdade, ou a verdade única, que são característica de regimes mais centralizadores, do autoritarismo ao totalitarismo.
Há um leque enorme de verdades que irá guiar pessoas para decidir, conforme a sua individualidade seus respectivos problemas.
Assim, temos micro verdades parciais, distribuídas, individuais de cada um diante dos problemas que têm pela frente.
A verdade é individual, pois os problemas são individuais.
É da qualidade dessa relação problema-verdade individual ou verdade-problema que um país se modifica.