Vídeo complementar:
Estive ontem numa palestra com a candidata à Prefeito Carmem Migueles do Partido Novo para o Rio de Janeiro.
Professora da FGV, super competente, é, com certeza, o melhor currículo entre os candidatos a prefeito.
Porém, o Partido Novo tem problemas. E passa justamente por querer ser pragmático e incremental, num mundo que exige visão clara do futuro e da disrupção Tecnocultural que estamos passando.
Vamos ao problema central que nos trouxe à atual crise da representação política.
Dados: https://pt.wikipedia.org/wiki/Demografia_do_Rio_de_Janeiro_(cidade)
Podemos observar que a cidade do Rio de Janeiro cresceu, pelo menos, seis vezes o tamanho da população nos últimos cem anos.
Cada vez mais, os vereadores têm que atender a mais gente. E, cada vez mais, cada vereador e prefeito é menos controlado por quem o elege.
Se abriu um fosso cada vez maior ao longo do tempo entre representante – representado. Podemos, assim, diagnosticar que:
O principal motivo da crise da representação política atual é da incapacidade de quem elege controlar quem foi eleito.
O que vivemos hoje – e isso se estende para todas as organizações da sociedade – é uma crise do modelo de controle sociedade – organizações, que faz com que as organizações defendam mais o seu interesse do que o da sociedade por gozar de falta adequada de fiscalização social.
Vivemos hoje momento similar ao que nossos antepassados viveram diante da monarquia, quando inventamos a república.
O rei deixou de ser capaz de ser controlado, pois houve aumento das cidades, da complexidade, e cada vez mais as crises fizeram com que a monarquia fosse ficando obsoleta.
Sim, o que motiva as grandes inovações sociais é o aumento da Complexidade Demográfica Progressiva.
Note que a superação da monarquia só foi possível com a chegada da Prensa, que, como a Internet hoje, permitiu a descentralização de ideias, o aumento de autonomia de decisões de cada indivíduo, o que nos levou a recriar o modelo de controle, nos permitindo passar a eleger os “novos reis e os novos nobres”.
Passamos com a chegada da república do Controle 1.0, oral, para o 2.0, Escrito. Mas isso foi bom para uma determinada complexidade e não para a atual, com muito mais gente no planeta, países e cidades.
Vivemos hoje, igual ao fim da Idade Média, a obsolescência de um modelo de Controle , O controle 2.0, oral e escrito, tem limitações na sua capacidade de controlar as organizações, incluindo os partidos políticos e seus representantes.
A saída já parece clara.
Uma nova linguagem como a que vem sendo praticada pelo Uber, AirBnb, Mercado Livre, que permite que muito mais gente possa controlar pessoas e processos, através de aplicativos, resolvendo o problema da fiscalização na nova complexidade.
Um motorista do Uber não é mais bem intencionado do que um de uma cooperativa, mas é controlado de outra forma pelo consumidor, que tem o poder de decisão se ele continua ali trabalhando.
Assim, não está se resolvendo o problema do transporte coletivo com uma elevação espiritual dos motoristas de táxi, que passarão agora, depois de uma “purificação interna ou seleção apurada” a serem mais respeitosos com os passageiros.
Os motoristas de táxi passaram a ser desrespeitosos pela incapacidade da sociedade de poder controlá-los.
Os motoristas de táxi são bem parecido com os políticos: estavam ( e ainda estão) incontroláveis na forma de se servir da sociedade e não a servir.
O que existe de novo hoje não é colocar o nome Novo em um partido, mas procurar outras formas de controle em que vai se aumentar a participação do cidadão, via novas tecnologias sobre todos os antigos intermediadores, incluindo os políticos.
O Partido Novo me lembra os movimentos monarquistas que queriam resolver o problema do rei, sem acabar com o trono, através de uma transfusão de sangue azul para um sangue ainda mais azul.
Há muito boa vontade, mas pecam pelo excesso de pragmatismo num mundo disruptivo, que exige inteligência estratégica.
Isso se reflete na forma que escolheram candidatos, através de seleção que lembra de grandes corporações. O problema não é o currículo dos políticos, mas a forma como iremos controlá-los antes, durante e depois.
É preciso uberizar os políticos, colocando atrás dele eleitores com aplicativos, dando estrelinha o tempo todo!
No Controle 2.0 só se obtém pureza (e controle) limitando a quantidade, tornando lento o processo. É o que tem tentado o Partido Novo, reduzindo os candidatos, fazendo seleção apurada, ou dizendo que não são políticos profissionais ou que não terão mais que duas reeleições.
Isso é incompatível com uma cidade de quase 7 milhões de habitantes ou um país de quase 210.
É a tentativa de purificar o Controle 2.0, que já não dá mais conta do atual processo de complexidade.
O cidadão não está de saco cheio da política, mas percebe que se esgotou a forma de controlar os políticos. O que é verdadeiramente Novo é apresentar uma nova forma em que se saiba que isso será possível.
É preciso que o Novo faça uma reavaliação e estude profundamente o futuro, entenda que não é o político que está em crise, mas o modelo partidário do Controle 2.0.
E que o que é realmente Novo é começar a inovar para procurar novas formas de Controle, tanto internamente, quanto nas propostas para a sociedade.
Não foi à toa que a proposta de Uberização da cidade partiu de um candidato de um partido não tão novo, deixando o Novo para trás. Ver aqui o vídeo que fiz sobre isso.
O Partido Novo tem que entender que Partido é algo que está completamente velho.
Fantástico Nepô! Precisamos uberizar as organizações de um modo geral, dando mais liberdade ao indivíduo nas suas decisões. Vamos precisar de uma mudança cultural e até legal muito grande! Tenhamos fé!