Muita gente acha que o liberalismo foi criado, mas, na minha avaliação, ele foi interpretado. Coloco a figura abaixo para provocar, diria que ele foi quase psicografado pelas tecnologias (para deixar muita gente nervosa e provocar).
A espécie humana vive movimentos que chamei de Pêndulos Cognitivos, que nos levam à concentração e descentralização de poder, em função das Tecnologias Cognitivas disponíveis.
- Quando temos uma Revolução Cognitiva há um movimento natural de empoderamento de mídia pela sociedade, o que nos leva a ter facilidade da criação de movimentos de descentralização de poder e vice-versa.
- Quando temos uma Evolução Cognitiva, com mídias centralizadoras, há um movimento natural de desempoderamento de mídia pela sociedade, o que nos leva a ter facilidade da criação de movimentos de centralização de poder e vice-versa.
Muitos dirão que isso é um despropósito, pois acreditam na neutralidade tecnológica e vão me chamar de determinista tecnológico. O grande salto para compreender o século XXI, entretanto, é justamente refazer essa visão filosófica ineficaz do humano.
Somos uma tecno-espécie, conforme bem percebeu McLuhan, que é fortemente influenciada por mudanças de mídia.
Ele diz:
O meio é a mensagem.
A televisão muda a sua cabeça, independente o canal que você assiste!
Ou seja, a tecnologia é o nosso DNA.
Mudam as tecnologias, principalmente as cognitivas, se alteram as formas de como interagimos, aprendemos, consumimos, pensamos, atuamos, nos mobilizamos, nos representamos e, portanto, muda a sociedade, pois a interação é a base da espécie.
Diferente de outros animais, o ser humano tem o ambiente de comunicação e governança mutantes, o que nos permite crescer em tamanho da espécie sem limitações.
Os outros animais são escravos dos tamanhos dos bandos, pois não conseguem reinventar a sua própria governança.
Vivemos fases de centralização e descentralização de poder em função de dois fatores:
- – mídia disponível;
- – complexidade demográfica.
Nós humanos, por sermos uma tecno-espécie, temos caminhado na direção da reinvenção das nossas Governanças: Oral (1.0), Escrita (2.0) e Digital (3.0).
Assim, o movimento liberal grego, que criou a república, foi possível graças ao surgimento do alfabeto que barateou o custo da escrita e se massificou.
(Leiam mais sobre isso no maravilhoso livro do Havelock, “A Revolução da Escrita na Grécia”, membro da Escola Canadense de Comunicação:)
E depois os livros de Pierre Lévy, da mesma escola, em especial o “Cibercultura”, que fala da chegada do mundo oral, escrito e agora do digital e as mudanças que tais mudanças provocam na sociedade e da nossas tecno-especificidade.
O que podemos perceber, então, é que os autores liberais, não inventaram o liberalismo, mas interpretaram um macro movimento da espécie em direção à descentralização, que se tornou possível com o papel impresso e antes tinha sido possível com o alfabeto grego. Como será possível reinventar o liberalismo agora com a chegada da Internet, pois vivemos o mesmo movimento do Pêndulo Cognitivo de descentralização.
Assim, o movimento da espécie é anterior à percepção dos autores, que procuram:
- – entender o que acontece;
- – se desintoxicar do passado;
- – reconceituar o futuro, analisando o que ainda pode ser útil do passado;
- – criando novas filosofias, teorias, metodologias e tecnologias para construir um novo patamar humano mais sofisticado.
Os movimentos liberais, ou liberalistas, ou descentralizadores têm essa missão conceber um mundo mais descentralizado, com um centro de poder menos poderoso!
Assim, o movimento Liberal 3.0 está acontecendo e vai acontecer, a despeito dos autores liberais, pois é um movimento natural da espécie, que precisa de uma sociedade mais sofisticada, com mais poder nas pontas, para administrar 7 bilhões de pessoas.
Vê-se isso nas manifestações liberais pelo mundo.
Sim, os protestos de 2013, 2015 no Brasil foram liberal até a raiz do cabelo.
- – Cada individuo, um cartaz;
- – Sem carro de som;
- – E tudo que está aí – num centro obsoleto – não os representa.
O que os novos autores liberais terão que fazer – e isso o movimento não faz por si só – é conseguir refazer as bases do liberalismo diante do novo cenário.
Estamos diante do mesmo momento histórico da espécie, pós-idade média, em direção à descentralização de poder, que precisa ser reinterpretada em um novo cenário.
Este é o salto de qualidade do pensamento da Escola Canadense de Comunicação, que foi tão marginalizado quanto à escola pós-liberal Austríaca de Economia , no século passado.
McLuhan foi visto como um pensador folclórico e Lévy é visto com um utópico. Dá vontade de rir.
A escola canadense, como a austríaca de economia, são bases fundamentais para criar o Liberalismo 3.0, ou o Liberalismo Digital ou o pós-liberalismo, a gosto.
É isso, que dizes?