A Rede Sustentabilidade é um projeto de poder.
Todo partido que se estrutura ou um movimento que coloca candidatos a cargos executivos têm um projeto de poder.
Um projeto de poder faz o seguinte:
- – apresenta um conjunto de sintomas que precisam ser superados pela sociedade;
- – tem um diagnóstico de por que acontecem;
- – e apresenta uma metodologia de solução.
Assim, é um ciclo completo.
A maior parte dos projetos de poder no Brasil e no mundo hoje apresentam quase sempre os mesmos sintomas, tem um diagnóstico precário e uma metodologia de solução quase igual.
Desigualdades sociais, crise ecológica, justiça, etc fazem parte dos sintomas, mas isso é o início de conversa.
O diagnóstico precisa ser mais fundo e apontar as causas dos problemas e os possíveis ajustes para que se tenha um projeto completo, conceitual e consistente.
Os novos projetos de partidos-techs, podemos dizer assim, estão aparecendo por aí, como o Podemos na Espanha e a Rede Sustentabilidade no Brasil têm sensação, baseada na intuição, de que a Internet poderá ajudar a resolver um conjunto de problemas da humanidade. Porém, é algo vago, sem uma visão mais ampla.
Passam a ser núcleos que têm uma simpatia pelas novas tecnologias, mais do que os demais, mas precisamo ir muito mais fundo do que isso.
E aí entra a questão econômica.
A economia é a base para que mudanças ocorram de forma sustentável. Não adianta querer mais igualdade social, mas isso precisa ter um projeto econômico que consiga reduzir a desigualdade sem que isso signifique perda de dinamismo e, por sua vez, crises de abastecimento, ou aumento da pobreza.
Um projeto de poder tem que começar, a meu ver, pela economia, com algo que possa ser sustentável economicamente, que é aonde a espécie sobrevive, para depois pensar como esse novo modelo econômico pode provocar a redução dos sintomas apontados.
Não é economicismo, mas justamente começar pelo que é fundamental para a espécie (sobreviver) para depois ir pensando em como podemos sobreviver cada vez melhor e com mais qualidade. Não adiante um projeto ambicioso, ideal, perfeito, que economicamente vai gerar fome e miséria.
Não adianta em dizer que sou a favor dos pobres, como agora no Brasil, e sair dando dinheiro que não posso dar a eles e gerar inflação e desemprego, mais adiante, voltando à estaca zero, com o pobre ainda mais dependente do estado do que era antes .
Há uma macro-tendência que define movimentos pós-revoluções cognitivas e isso se chama descentralização das organizações. Ou se quiserem melhor, reempoderamento da sociedade.
Isso se dá, através do incentivo cada vez maior do uso dos novos meios digitais, como uma fonte maior de troca e a implantação de Plataformas Digitais Colaborativas que permitam gerar a grande novidade da rede: colaboração de massa, via reputacionismo digital.
Isso cria uma nova cultura de se pensar a solução de problemas na sociedade.
Um movimento que queira pensar o futuro tem que passar por esse tipo de processo e isso vale para tudo, inclusive para a economia.
O problema que isso exige inovação e a descentralização das organizações, sejam públicas (principalmente por serem mais fechadas às mudanças e menos dinâmicas) e privadas, aumentando o poder do consumidor.
Os valores de empoderamento do cidadão/consumidor serão encontrado nos liberais clássicos, na defesa da propriedade privada (como núcleos de empoderamento individuais), livre iniciativa, com o cidadão na ponta elegendo e fiscalizando os produtos, com concorrência cada vez maior.
Assim, o espelho da Inteligência Coletiva de Pierre Lévy está perto das ideias de Mises, por exemplo, de uma sociedade mais aberta para as trocas.
É uma forma de pensamento invertida do que estamos acostumados, pois acreditamos que é o Estado que será o responsável de resolver os sintomas apontados.
Temos a visão do homem bom, que no estado fará o bem, mas, na prática, o que acontece é a criação de corporações cada vez mais pesadas que reduzem o poder das pontas, centralizando mais e mais o poder.
O modelo mais maduro de lidar com a economia é o seu espelhamento do projeto político das redes descentralizadas, que se espelha no que eu chamo de Liberalismo 3.0.
Muitos dirão que já conhecem o neoliberalismo, que foi a concentração de poder do século passado. E eu digo que o Liberalismo 3.0 tem como missão justamente empoderar o cidadão/consumidor para que isso não aconteça.
A conjuntura cognitiva mudou e precisamos repensar processos.
E nisso entra a questão ecológica e os problemas das desigualdades sociais, que precisam ser reinventados, deixando de lado seu viés anti-capitalista, que é um diagnóstico equivocado, procurando a criação de modelos sustentáveis, que as pessoas passem a ganhar dinheiro para preservar a natureza.
Num modelo de pós-capitalismo sustentável e mais social, já que a sociedade terá muito mais força do que tem hoje nos rumos das nações.
É esse modelo completamente inovador e difícil de ser pensado que garantirá os projetos dos movimentos que prosperarão, a meu ver, no futuro.
É a minha receita para um debate profundo na Rede, que tem que se afastar mais e mais do pensamento centralizador, seja marxista ou mercantilista do século passado e se reinventar por completo para realmente trazer algo de novo para a sociedade.
É isso, que dizes?