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O pensamento fundamentalista precisa escolher pessoas para serem inimigos e odiar para construir os elementos de adesão para a chegada ao poder, mas depois que chega lá não tem ferramentas suficientes para lidar com a complexidade.

 

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O mundo é complexo.

E há sempre um grupo de pessoas, que representa uma sociedade para lidar com essa complexidade, que seria a classe dirigente, responsável por manter aquele grupo vivo e operante da melhor maneira possível. A ideia da democracia é a escolha sistemática do melhor grupo a cada cenário específico para lidar melhor com a complexidade.

O grande problema humano é lidar com essa complexidade, que vai ficando mais e mais difícil, conforme aumentamos o número de pessoas.

O pensamento fundamentalista (religioso, racial ou ideológico) é basicamente aquele que tem dificuldade de lidar com a complexidade humana. E considera que todos os problemas do mundo é da classe dirigente e não da luta de todos contra a complexidade.

O fundamentalismo não consegue lidar com ideias e conceitos abstratos, precisa colocar em pessoas a sua raiva diante dos sempre e eternos problemas do mundo. Seu foco para conseguir lidar melhor com o mundo complexo serão pessoas de carne e osso e nunca questões abstratas.

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Assim, todo o fundamentalista torna o desafio da complexidade invisível para atacar uma dada classe dirigente. criando a fantasia de que se sairá melhor do que ela. O grande problema é que a complexidade exige a montagem de uma cada vez mais sofisticada rede logística para lidar com ela e um pensamento mais complexo, que é completamente inacessível ao fundamentalista.

A rede logística criada para lidar com a complexidade é invisível para o fundamentalista, que acha que tudo é fácil, pois não consegue ver o desafio complexo que a classe dirigente tem de gerar, bem ou mal, a sobrevivência de um dado grupo.

O pensamento fundamentalista é de baixa sofisticação e incapaz de lidar com a complexidade.

No momento em que o fundamentalismo vira classe dirigente se torna incapaz de criar uma rede logística para lidar com a complexidade. O fundamentalista tem ferramentas para chegar ao poder, pois explora as contradições da classe dirigente, mas não se preparou para lidar com a complexidade.  

Assim, em um governo fundamentalista,  a sociedade entra em um processo contínuo de crise, pois mais e mais as decisões tomadas serão simplistas, de curto prazo, incapazes de lidar com a complexidade.

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Todo país em que um governo fundamentalista chega ao poder viverá gradualmente de decisões cada vez mais de curto prazo e simplistas, gerando crises cada vez maiores.

As crises teriam que, teoricamente, obrigar os fundamentalistas a rever sua prática, porém não há no fundamentalista um arcabouço psicológico em que um age e outro observa, algo fundamental na subjetividade humana para proceder auto-críticas mais profundas.

Há no fundamentalista identidade embolada em que o pensamento e a ação não são dois momentos separados, mas um só, o que dificuldade qualquer capacidade de superação de um pensamento e uma ação.

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Um fundamentalista tem a objetividade e a subjetividade misturadas em um corpo só, que torna incapaz de proceder qualquer auto-crítica de maior envergadura.

É algo que o identifica como pessoa e seu pertencimento a um dado grupo.

Diria que o ego está embolado com a realidade em apenas um mesmo corpo.

A percepção e a realidade é um nó compacto.

Assim, não há possibilidade de auto-crítica, pois a certeza faz parte integrante de seu mundo e o constitui enquanto pessoa. O fundamentalismo estaria próximo do pensamento de um serial killer, pois não há simpatia nenhuma por aquele que é escolhido como o “inimigo”, o que justifica a sua eliminação, ou como ideias ou fisicamente, em situações mais radicais.

Tudo que a realidade trouxer de problema ao fundamentalista será interpretado como algo que não o faz rever práticas, mas terá uma resposta simplista explicativa.

Na impossibilidade de lidar com os sinais da realidade e de fazer auto-crítica o fundamentalista procurará, pela ordem:

  • – alterar os indicadores;
  • – impedir que as más notícias se espalhem;
  • – culpar o mensageiro;
  • – e tudo que mantiver seu senso de baixo significado intocável.

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Um governo fundamentalista será basicamente  controlador das ideias e das pessoas, pois  tem dificuldade de lidar com o contraditório.

Não há diálogo possível com fundamentalistas, apenas a organização da sociedade para deixá-los em um espaço limitado  e nunca como classe dirigente, pois quando temos a complexidade tratada de forma simplista e com um pensamento sempre não dialógico, mais e mais teremos crises correlatas, mais e mais controle, com a possibilidade forte da violência contra o que lhe é contraditório.

É isso, que dizes?

 

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