“Quando uma pessoa aponta o dedo para a lua, o sábio olha para a lua e o tolo para o dedo” – ditado chinês.
Sempre na vida estaremos diante de um problema complexo, pois todos os problemas são complexos, pois o mundo é uma rede de eventos e agentes que torna tudo complexo. Nossa cabeça precisa simplificar a complexidade para permitir a sua compreensão. E passamos a criar uma facilitação da compreensão, através da simplificação da complexidade.
Porém, a complexidade da vida não termina com a nossa simplificação, pois os fatos ocorrem, independente da nossa simplificação.
Quanto mais temos um pensamento simplista e superficial do mundo, mais incapacitado ficamos para lidar com ele.
Ou seja, a vida não se rende a nossa simplificação, pois ela é complexa por natureza.
A simplificação denota uma incapacidade humana para lidar com a complexidade, o que nos leva talvez para as grandes crises do século XXI que será a luta da complexidade contra o fundamentalismo. Das redes mais abertas e complexas versus as redes mais fechadas e fundamentalistas.
O pensamento fundamentalista, de zero e um, preto e branco, mau e bom, nós e eles, amigo e inimigo torna a vida mais fácil para uma mente simplista, porém a torna menos capaz para lidar com a complexidade.
Diria que todo o fenômeno fundamentalista do mundo, aquele que se agarra a visão simplista, a valores do passado, é uma tentativa de resolver de forma superficial o problema da complexidade que não se resolve por vontade própria, mas pela capacidade que temos de lidar com ela.
Nossa espécie, note bem, tem um poder que pouco discutimos.
Somos a única espécie animal que não tem limites de crescimento de tamanho de membros.
Por quê?
Quando vamos aumentando o número de membros, sofisticamos a complexidade e, por sua vez, precisamos criar pensamentos filosóficos e redes humanas compatíveis com esse novo cenário. Ou seja, a complexidade humana não é fixa, ela vai se sofisticando, conforme vamos crescendo ao longo do tempo.
O salto de 1 para 7 bilhões nos criou um grande problema.
Nós aumentamos em muito a complexidade humana dos problemas, mas a nossa capacidade de pensar sobre ela não acompanhou.
Tudo ia mais ou menos controlado, ou melhor com baixa diversidade e qualidade de vida, até a chegada da Internet, que acelerou e começou a promover mudanças sociais, que passam a ser incompreensíveis para a maior parte das pessoas.
O ritmo das mudanças não consegue ser acompanhado por muita gente, que acaba se fechando e agarrando no passado em valores que consideram fundamentais para sua identidade. O fundamentalismo emergente é, no fundo, uma tentativa de colocar um pé no freio no avançar da complexidade e suas alternativas.
É algo tal como:para o mundo que eu quero descer, ou para o mundo que eu quero permanecer nele.
Estamos diante de uma guinada filosófica no mundo, que permitirá as novas gerações tenham um pensamento muito mais complexo do que o nosso.
Porém, a complexidade do mundo gera resistência, pois temos cada vez mais:
- – um aumento radical da complexidade, em função da demografia;
- – um acelerado processo de pólos de alta complexidade e outros de baixa complexidade;
- – o que gera uma demanda por uma compreensão da sociedade.
Tal cenário é a “gasolina” perfeita para o surgimento do fundamentalismo e seus defensores.
O fundamentalismo é uma resposta simplificada para problemas complexos.
O problema é que a complexidade não se resolve com o fundamentalismo, mas o fundamentalismo passa a ser uma rápida solução para a complexidade.
O que ocorre é que passamos a ter dois tipos de fundamentalismos:
- – o fundamentalismo não militante – que se fecha em pequenas comunidades e cria uma visão estreita do mundo protegida;
- – o fundamentalismo militante – que passa a ser o braço ativo dos fundamentalismo não militante, transformando muitas vezes o não militante em militante, ou, no mínimo, como apoiador do braço militante.
O fundamentalismo militante recruta as pessoas que já estavam operando no fundamentalismo e passa a ser um fenômeno que surge, como se fosse do nada, um pouco o que acontece no Brasil com o renascer do neopopulismo e do neocomunismo.
Isso falarei depois.
É isso, que dizes?