É preciso criar um movimento forte em defesa da República Digital e do Colaboracionismo, as novas fronteiras humanas, capaz de permitir descentralização sem a perda da competitividade, do dinamismo e da inovação, fundamentais para enfrentarmos os desafios de um mundo que ruma para as 9 bilhões de almas.
A luta do século XXI é: rede aberta x rede fechada.
Muita gente se diz anti-capitalista.
Mas isso é algo tão genérico e incompleto que merece uma boa discussão.
Existem duas coisas aí:
- – a invenção da livre iniciativa;
– e a concentração das iniciativas na sociedade.
Sou radicalmente a favor da primeira e luto contra a segunda.
Existe um problema de primeiro nível em toda a sociedade humana que é a complexidade demográfica. Quanto mais gente tivermos no mundo, mais complexa deve ser a sociedade.
A ideia do comunismo, inventada por Marx, se baseou nas antigas tribos em que existia pouca gente.
O comunismo, sem propriedade privada e iniciativas coletivas o tempo todo, pode ser praticado em pequenos grupos, pois a complexidade demográfica é baixa e pede uma rede de trocas pouco sofisticada.
Quando temos o aumento da complexidade, precisamos criar redes humanas de troca mais sofisticadas, em que o centro não pode exercer tanto poder, pela sua total incapacidade de coordenar as ações.
O comunismo em larga escala bate justamente no problema do planejamento, produção e entrega de produtos e serviços.
A rede de trocas se empobrece e cria um problema FORTE de entrega.
A invenção da livre iniciativa depois da Idade Média permitiu que a sociedade pudesse se desenvolver e dar saltos de produtividade, que nos levou de uma população de 1 para 7 bilhões de pessoas, com diferentes problemas, pois o salto foi muito rápido.
Um modelo em que cada um pode criar a sua unidade produtiva, divide o problema da complexidade demográfica e cria um ambiente mais inovador e dinâmico para solucionar os problemas da primeira ordem.
Para termos uma noção, de forma ideal precisamos hoje:
- – No mundo produzir 21 bilhões de pratos de comida POR DIA;
- – E no Brasil 600 milhões também TODOS OS DIAS.
A rede logística que torna isso possível tem que ser muito dinâmica e descentralizada, pois se não faltará comida para alguém.
Assim, quando se diz que é contra o capitalismo é preciso entender exatamente contra o que é contra, pois capitalismo é um nome genérico e mal dado para o atual sistema econômico, que consegue resolver um problema de abastecimento, mas TEM SÉRIOS PROBLEMAS DE CONCENTRAÇÃO.
O que aconteceu depois de 1800, com a chegada dos meios de comunicação de massa foi uma concentração das ideias na sociedade, em função das limitações tecnológicas e o aproveitamento destes limites pelas organizações de plantão.
Quando há concentração de ideias, ao mesmo tempo temos:
- – fortalecimento das organizações frente à sociedade;
- – concentração de iniciativas;
- – concentração de capital;
- – concentração de poder.
Hoje, chegamos ao fundo do poço do modelo concentrador de ideias, desde 1800, (a meu ver perversamente e contraditoriamente necessário) em função da falta de ferramentas que tínhamos para promover a descentralização com sustentabilidade. As injustiças sociais se devem, a meu ver, pelo empoderamento que as organizações atuais, todas elas, têm sobre a sociedade, o que faz com que o cidadão e o consumidor sirvam às organizações e não se sirvam delas.
A luta do século XXI é a luta da descentralização das iniciativas, do poder, do capital, porém dentro do ambiente da iniciativa privada, pois sem ela, com o atual aumento de complexidade, teremos um GRAVE problema de desabastecimento.
Os limites tecno-econômicos e tecno-políticos que tínhamos no século passado, sem Internet, agora podem ser superados com as ferramentas de colaboração de massa, que podem permitir que mais gente participe das decisões e possa se criar ambientes produtivos mais colaborativos.
Ou seja, o movimento anti-concentração político e econômico nos leva a aumentar e pulverizar a iniciativa privada e não a restringi-la, pois isso nos levará à crises de abastecimento, tanto em termos de qualidade como em quantidade.
É falsa, assim, a dicotomia capitalismo x comunismo, que se coloca hoje na América Latina.
A luta do século XXI é o da luta de de redes fechadas, como as atuais, e redes mais abertas e mais descentralizadas.
Estamos vivendo no Brasil e na América Latina um debate que está preso nos limites do cenário tecnológico do século passado.
É preciso criar um movimento forte em defesa da República Digital e do Colaboracionismo, as novas fronteiras humanas, capaz de permitir descentralização sem a perda da competitividade, do dinamismo e da inovação, fundamentais para enfrentarmos os desafios de um mundo que ruma para as 9 bilhões de almas.
É isso, que dizes?