Valor é um substantivo relativo.
Depende de um dado contexto, diferente de cachorro, que é sempre um cachorro independente do contexto.
O valor é atribuído a alguém, a partir de algum critério dentro de um dado contexto.
O que é valor para um pode não ser para o outro.
Valor, assim, não pode ser visto como algo absoluto e tem que se colocar dentro de um dado contexto.
Na economia, valor pode se referir a uma dada mercadora, valor de uso e de troca.
Ou valor corporativo: o valor de uma empresa no mercado de uma dada sociedade.
Estaremos aqui falando disso: de valor corporativo.
O valor que uma sociedade atribui a uma determinada organização.
O valor da organização hoje é medido pela sua capacidade de dar lucro.
Foi montado um modelo de mercado, na qual existe uma bolsa de valores (olha que nome sugestivo), um lugar em que os valores são avaliados, a partir de dados critérios e, a partir dele, é atribuído um índice para uma dada empresa.
O preço da ação é esse índice, pois procura espelhar quanto aquela empresa vale no presente e pode valer no futuro.
(Há diversas discussões interessantes sobre isso, mas vou deixar minha curiosidade nisso para depois.)
O que quero discutir aqui é que há uma mudança na maneira de se pensar o valor no novo século.
Quem trabalha com a bolsa são os acionistas aqueles que compram e vendem ações e se preocupam com o que investiram de dinheiro nas organizações e o que podem tirar dela no presente o no futuro.
O preço das ações tem que incorporar isso.
O que se mede hoje no mercado de ações é basicamente o resultado financeiro das organizações. Vendeu tanto, gastou tanto, o resultado foi tal, sobrou quanto, quanto pode ser distribuído para os acionistas e quanto isso pode ser incorporado ao valor das ações.
Há uma matemática nesse processo.
Há tentativas de se incorporar valores intangíveis, mas é algo difícil e complicado.
Quais são as novidades pós Revolução Cognitiva que mudam esse cenário? O cliente (pai e mãe de todos os lucros) foi empoderado por novos canais de circulação de ideias, nos quais são prosumidores, tanto colocam como recebem informação das mesmas fontes antigas, mas agora têm também novas horizontais e alternativas.
Isso faz com que tenha um amadurecimento maior em relação ao que foi consumido e a relação de uma dada empresa com a sociedade como um tudo, incluindo suas qualidades e defeitos.
O novo consumidor tem princípios que fazem a diferença na hora de consumir e isso passa a aumentar a taxa de preocupações que estavam sumidas em um mercado de forte concentração de mídias e, por sua vez, de ideias.
Hoje, o consumidor consegue enxergar melhor as organizações, o que antes era mais difícil.
Tem uma visão menos 30 e mais 360 graus.
Além disso, há a possibilidade maior do mercado se abrir, dependendo do setor, com novos players nacionais e internacionais, o que aumenta a maturidade do consumidor.
Hoje vivemos uma taxa de inovação e um descontrole do mercado muito maior que antes.
Assim, como disse aqui, vivemos hoje o surgimento de um Cliente 3.0, que é muito mais maduro do que o cliente do século passado.
- Sabe mais;
- Se articula mais;
- Tem mais opções;
- Acaba, assim, a ter uma auto-estima maior, oxigenando a sociedade com uma taxa maior de princípios e valores, que impacta na maneira que definem seu consumo e no valor das organizações.
O patamar de consumo mais consciente com impactos sociais que era de “x” digamos hoje está aumentando de forma consistente.
A reputação de uma organização não é mais apenas percebida, via meios de comunicação de massa, através de campanhas de marketing em que se mudava a mensagem, mas não a ação. Hoje, se consegue ver com mais clareza o que é fumaça e o que é fogo.
Não podemos dizer que é uma mudança completa, mas, como disse, é algo que vem aumentando a taxa de maturidade do Cliente, conforme aumenta o acesso e a coesão das redes sociais, que se torna mais e mais interligada.
Sabe-se dos bastidores das corporações com muito mais rapidez e conhece-se mais as alternativas.
Vais se criando uma latência consciente dos problemas.
Assim, o valor da organização que era percebido, via mídias de massa, hoje passa a ser filtrado, via mídias de missa.
Quando um acionista vê o lucro ou o prejuízo de uma dada ação, não tem mais parâmetros certos de saber como anda a reputação daquela organização entre os novos proumidores.
Há alguns casos distintos:
- – o lucro subiu, mas a reputação e a fidelização caíram;
- – o lucro caiu, mas a reputação e a fidelização aumentaram;
- – o lucro caiu, mas a reputação e a fidelização caíram também;
- – ou o lucro subiu e a reputação e a fidelização subiram também.
Veja que são cenários que apontam para um novo tipo de perspectiva e numa área de sombra para um futuro devastador ou promissor de uma dada organização em relação ao futuro.
- No caso 1, se cria uma latência por um novo concorrente no mercado. Isso é possível? Se sim, certamente a organização pode ter problemas.
- No caso 2, o quanto essa fidelização pode significar mais adiante aumento do valor?
- No caso 3, demonstra que algo sério vai acontecer com aquela organização.
- E no caso 4, é o caso de sucesso e de que a situação está em indo para algo promissor.
O problema é que não temos hoje índices, ainda, confiáveis para medir a reputação e a fidelização corporativa num mundo tão líquido e hiperconectado para que se possa agregar esse índice ao das ações.
O caso da Amazon que falei aqui é um caso típico de avaliar lucro x percepção do consumidor em relação ao futuro.
Mas hoje lendo o Valor Econômico (o nome já diz tudo) sobre aumento e redução de lucro, vi claramente que falta dizer algo mais quando se fala nos resultados das organizações.
O lucro cresceu, mas houve aumento na taxa de fidelização? O que manteve os acionistas mais calmos. Ou o lucro diminuiu, mas a taxa de fidelização aumentou?
Digo, por exemplo, que se for medir a taxa de fidelização dos canais do Youtube há algo ali em declínio, em função da política de pagamentos dos canais, o que indica que há uma perda de fidelização, o que pode significar mais adiante espaço para a concorrência.
Isso é percebido nos bastidores, mas não na avaliação do Google naquela empresa em particular.
A medição do Valor 3.0 terá que ser muito mais sofisticada do que a atual.
É muito mais preciso do que vai, de fato, acontecer com organizações e o que colocará mais valor naqueles que estão apostando mais fortemente no futuro, junto com os clientes, e aqueles que não estão.
É isso, que dizes?