Nós não vamos inventar uma inteligência artificial, nossa inteligência já é – e sempre foi – artificial!
O cérebro humano não trabalha no vazio.
Não é como os outros animais que anda sem uma tecnologia para sustentá-lo.
Por vários motivos, inclusive anatômicos (para poder sair da barriga da mãe), não pudemos crescê-lo mais do que o tamanho atual e passamos a potencializá-lo desde o início (e cada vez mais) artificialmente.
Não podemos entender nossa sociedade e a cultura que ela cria, se não compreendermos essa artificialidade do cérebro, que é o epicentro da espécie, onde tudo começa e, por que não dizer, termina.
Portanto, se pensarmos nosso cérebro de forma artificial, temos que entender que vivemos épocas na sociedade que há uma hegemonia de um determinado Modelo Mental.
O Modelo Mental é o que vemos abaixo:
É a relação do cérebro como o seu “capacete” (Tecnologias Cognitivas) e o que ele produz – independente de nós – para se ajustar a esse novo instrumento de trabalho para o qual é apresentado.
O modelo mental se constrói lá dentro e é algo que é independente de nossa vontade, pois nós não temos controle sobre ele (até agora), pois o cérebro tem movimentos independentes, a partir do momento que entra em contato com determinadas situações. Ainda mais quando se trata daquilo que é seu suporte básico: as Tecnologias Cognitivas – a placa-mãe da espécie – o modelo mental seria o software.
Essa relação entre tecnologias cognitivas e cérebros produz um Modelo Mental, que muda com o tempo, pois a Inteligência é Artificial, sujeita às Conjunturas Cognitivas de plantão.
Não é o cérebro, portanto, que produz cultura e nem as Tecnologias Cognitivas, mas a relação deles dois, que estou chamando de Modelo Mental que procura ser uma relação harmônica para produzir uma nova cultura – esta sim com a possibilidade de nossa ingerência.
Mas note que o Modelo Mental emergente vai iniciar um processo na sociedade de produção de um novo modelo de Cultura, que será mais e mais introduzido, sem que tenhamos a noção de que se trata do cérebro dando sinais de “que é para lá que eu quero ir, pois é mais compatível com o que construí aqui dentro”.
Nossa Cultura, portanto, ao longo do tempo, é filha do Modelo Mental que vamos construindo na relação do Cérebro com seu Capacete, como vemos na figura abaixo:
O mais importante de tudo isso – para quem estuda a sociedade humana – é aceitar que essa mudança do Modelo Mental não é feita de forma consciente e nem pode haver uma inferência com as atuais ferramentas que temos para impedir essa mudança no cérebro, que modifica o Modelo Mental.
É algo para o qual somos IMPOTENTES.
O Modelo Mental é resultado de uma relação autônoma do cérebro com o seu “capacete”.
Assim, o que estamos dizendo aqui é que a nossa Macro-Cultura ao longo do tempo é filha de algo que independente de nós, pois o nosso cérebro ao ganhar uma nova Tecnologia Cognitiva de presente e poder se expandir, toma as providências necessárias SEM NÓS.
E depois começa a girar de uma nova forma e pede um modelo de sociedade que seja compatível com o que ele tem lá dentro.
(Acredito que é a explicação mais plausível para as manifestações do ano passado. Quem foi para as ruas foi o novo Modelo Mental!!!)
Esta é a conclusão e a evolução mas lógica dos estudos da Escola de Toronto, no qual McLuhan, sua expressão maior dizia que o “meio é a mensagem”,
O “meio” é aquilo (o capacete) que o cérebro usa para operar e se modica sozinho, produzindo um Modelo Mental que passa a tentar a Cultura em uma dada direção, pois os humanos que passam por essa mutação tendem a agir, pensar e sentir de um novo jeito.
Essa visão Antropológica Cognitiva nos leva a pensar nossa história de forma completamente diferente, pois todas as mudanças que começam a ocorrer, a partir de uma Revolução Cognitiva, quando o cérebro, basicamente, troca de capacete e se expande, não são, em alguma medida, opcionais.
Obviamente, que há espaços para os ajustes – e muitos – mas, por outro lado, existe um Modelo Mental emergente que vai procurar o seu espaço no mundo.
Se aplicarmos essa tese à chegada do papel impresso em 1450, quando a Escrita chegou de vez à espécie, depois de quase 9,5 mil anos enrustida, podemos supor que todo o renascimento, bem como o iluminismo, a república e o próprio capitalismo nada mais foram do que o modelo mental emergente da escrita imperssa transformando a cultura para se sentir mais à vontade.
Por fim, temos o elemento Malthusiano nessa análise.
Quanto mais gente, mas complexo tem que ser o nosso cérebro, nosso modelo mental e, por sua vez, nossa cultura e todas as organizações que ela é capaz de criar. Assim, uma sociedade de 7 bilhões de habitantes força o surgimento destas novas Tecnologias Cognitivas, que forçam o novo Modelo Mental, que força a revisão de toda a Cultura, que força, por sua vez, as mudanças modelos sociais, políticos e econômicos.
Somos escravos do modelo artificial que criamos.
Quem resistir às mudanças emergente, não está brigando com pessoas, mas, no fundo, com cérebros modificados!
Não temos a autonomia que achamos que temos.
É preciso revisar a nossa onipotência enquanto espécie, somos muito mais tecno-biológicos do que achamos.
Nós mandamos e podemos fazer muita coisa, mas nosso cérebro manda muito em nós, sem que possamos dizer não.
E se ele muda, por causa de nossas invenções e loucuras (como crescer muito mais do que imaginávamos) nós vamos mudar também. Esta é a revisão básica que as ciências humanas terão que fazer para entender melhor o século que entra.
É isso, que dizes?
Post – post:
A partir dos debates abaixo, achei que poderia melhorar o desenho para expressar melhor o que estou vendo:
Note que crio a figura da Plástica Cerebral que não aparecia na figura passada, que são mudanças dentro e exclusivas do cérebro, São mudanças independentes.
Este conjunto de relações entre Plástica Cerebral x Tecnologias Cognitivas forma um dado Modelo Mental e este interage com a cultura, em vários níveis, macro, médio e micro.
Sinto que fica mai próximo do que quero passar.
Grato às provocações do Mangi e Léo.
Travei um ótimo debate no FB, a partir do post e reproduzo aqui:
• Luis Claudio Mangi Meu ponto foi mesmo sobre a relação de causalidade: se X então Y, se Y então Z. No gráfico, você coloca essas forças em mútua relação.
Note que há uma separação no gráfico que está também no texto.
A grande descoberta, a meu ver, ou a hipótese é a seguinte. Existe uma mudança no cérebro que é independente da cultura. Isso forma um novo Modelo Mental que interage com a cultura.
Note que faço uma divisão ali para mostrar essa separação. A relação Modelo Mental-Cultura é passível de intervenção, mas a construção do Modelo Mental com as Tecnologias Cognitivas, não, pois é um movimento INDEPENDENTE do cérebro.
Assim, a figura está coerente com o que eu penso. Poderia não estar, posso até colocar a figura ao invés de uma bola tracejada em uma linha ou fazer mais uma imagem para separar, mas essa é a intenção.
O Modelo mental, este sim, interage com a cultura. O que digo é que o cérebro muda e não pede licença. Você acha que isso é possível? Ou o cérebro não se modifica com as tecnologias cognitivas? E teríamos condições com a cultura alterar mudanças cerebrais? Como explicar a aptidão dos mais novos aos novos equipamentos? E as manifestações do ano passado por não-líderes? É cultural? Como?
Ou seja, se vamos dizer não, temos que procurar responder estas questões. Coloco o desafio.
• No texto, não. Novas tecnologias cognitivas (internet, mobilidade, redes sociais, digitalização em grande escala) podem criar uma ruptura, com efeitos importantes na cultura (a cibercultura) e na construção de subjetividades.
Aqui na rua não existe a Cibercultura, existe a Cultura que podemos chamar de Cultura Digital, que é a cultura influenciada pelo Digital, como tivemos a Cultura atual que foi influenciada pela Oralidade, escrita e Eletrônica, pois não temos a OralCutura e nem a Cultura Escrita, mas a cultura influenciada pelo Ambiente Cognitivo atual.
Você não acredita na mudança independente do cérebro e isso é o que está na Escola de Toronto, a base dela, do “meio é a mensagem” do McLuhan.
Pode discordar radicalmente disso, mas é preciso que se coloque algo no lugar para entender determinadas mudanças não-culturais.
• Mas essas mesmas tecnologias, quando absorvidas, são reconstruídas, ressignificadas. Esses deslocamentos influenciam culturas, e aí entramos numa cadeia dinâmica de mudanças.
No texto, faço uma distinção entre cultura e macro-cultura. Note que não é a mesma coisa. A Macro Cultura ganha algo de independente, como na economia temos a Macro-economia, que é formada por fatores que são alheios ao individuo. Obviamente, que há uma relação de troca com a Cultura (isso está no texto), por isso trabalho com patamares distintos, média e micro-cultura, assim a leitura do texto aponta essa distinção e eu concordo com você que aconteça em uma escala, mas em algo maior, acredito que há, como foi na prensa, uma interferência com uma certa autonomia do cérebro, pois o Modelo Mental gerador dessa Macro-cultura em alguma escala NÃO É PASSÍVEL DE INTERAÇÃO.
Muda e pronto. Isso é uma hipótese filosófica-teórica, não comprovada, já há estudos incipientes na neurociência.
Porém, essa é a tese da Escola de Toronto faz décadas que é algo que me desintoxica do que vejo, leio e ouço. Questionar isso nos leva a procurar motivos culturais para algumas coisas que estão fora da compreensão do modelo “a cultura influencia tudo”. O que estou afirmando que ela influencia mais NEM TUDO.
• A causalidade direta é uma possibilidade mas não a única. Tenho uma tendência meio pós-moderna aqui… . A causalidade ingênua, o mecanicismo,é uma herança da modernidade que precisamos superar. Os problemas de hoje são outros. Grandes teorias já não conseguem dar conta disso. Vc já escreveu/falou muito sobre isso. Acho que estamos na mesma página, não? Abcs!
Bom, note bem que não faço uma causalidade direta, são várias nuances e diferentes camadas. Se eu afirmasse que a tecnologia está acima da cultura, estaria realmente sendo ingênuo. O que afirmo é que O MODELO MENTAL está acima da cultura e este modelo mental é uma mudança cerebral da qual não podemos interferir, pois há uma mudança na plástica cerebral do cérebro ao se modificar as tecnologias.
A ingenuidade é um adjetivo que não ajuda, pois ou se tem algo que se aproxima dos fatos, ou não. Toda teoria começa ingênua e vai amadurecendo. Digo sempre que quando trazemos adjetivos, estamos com problemas de argumentação.
O conceito mecanicismo: “O mecanicismo é uma caracteristica da Administração Científica onde as organizações eram vistas como um arranjo rígido, construídas a partir de um projeto e montadas como peças mecânicas”
Há coisas na vida, nos fatos, que têm mais ou menos força dentro de contextos.
Isso é como eu vejo, há relações de pressões e não “a” manda em “b”, Porém, existe uma força que exerce mais influência, pois é assim que está ocorrendo e temos que registrar isso sem medo de não ser pós-moderno.
A visão pós-moderna de procurar relativizar qualquer teoria me parece pouco eficaz quando descemos para o chão e precisamos fazer das teorias elementos de referência para criar metodologias.
Intuo que a visão pós-moderna (do jeito que você trouxe) que interpreto como algo de deixar mais solto e flexível (várias verdades), se deve a própria crise da academia, principalmente, na área humana, que deixou de se comprometer com metodologias. As teorias vivem delas mesmo, o que na minha opinião deixa de ser ciência e passa a algo perto da arte.
Neste caso, a teoria é algo que depende de cada um, pois não tem compromisso de explicar fenômenos, fazer estratégias e criar metodologias.
Não procuro uma grande ou uma pequena teoria, mas uma que consiga ter uma lógica melhor que explique os fenômenos onde me debruço. Se não é esta que está aí, precisamos de outra melhor, qual você sugere?
Por negação do que tenho visto, que é assim que tenho tentado fazer teorias, cheguei a ideia que há algo no cérebro (modelo mental) que muda e influencia fortemente a Macro-cultura, algo que não temos ferramentas para mudar, pois é incorporada de forma mais profunda na espécie.
Isso não acredito que podemos adjetivar como ingênuo, mecanicista, uma grande ou pequena teoria, é apenas uma hipótese que pode ser questionada, ou não, pode ser válida, ou não. Pode ser comprovada, ou não. É como consigo explicar as manifestações do ano passado e vários fenômenos com a chegada de prensa pós-1450.
Temos que ter cuidado, diria eu, ao abraçar o pós-modernismo e jogar foras hipóteses mais afirmativas pelo simples fato de serem afirmativas, não esquecendo que a base da ciência é a lógica, partindo de intuições, que vão sendo amadurecidas.
O que importa é se os prognósticos que podem ser feitos a partir da dada teoria vão se encaixar com os eventos futuros, sim, ou não. E aí temos a validade, ou não, da teoria. Por isso, peço sempre que alguns fenômenos que estão acontecendo sejam explicados à luz de um modelo teórico qualquer.
11 h • Editado • Curtir • 1
• Léo Quirino da Silva Mangi, concordo com o que vc disse sobre a forma como o Nepô apresentou o problema. Realmente ficou esquemático, talvez pela necessidade de se ser breve. A forma adotada parece induzir a essa percepção de que A+B=C de quem olha para trás e procura dar um sentido ao resultado de várias interações.
O problema é que a afirmação é forte, mas não esquemática, ou pode-se dizer que estabelece uma força autônoma que pode parecer esquemática. O que estou trabalhando, volto a repetir, é com um macro-movimento da espécie, em que determinadas forças passam a operar na sociedade, a partir de mudanças cerebrais em que nós não temos controle.
Isso é um esquema, que trabalha com forças e contextos, mas não é esquemático, o que seria uma radicalização do esquema, pois há variações em várias instâncias para mostrar onde podemos agir e onde não podemos, o que baliza a atuação das organizações.
Leo -> Concordo que a escala, nesse caso o número de pessoas, aumenta a complexidade e as mídias sociais sejam uma forma de se dar conta dessa complexidade. O que ñ se pode é partir daí se perder a perspectiva histórica e achar que essas mídias surgiram para isso.
Seu desenvolvimento e os problemas que visavam resolver então eram outros
Léo, por que não? Elas se espalham, pois vêm atender a uma dada latência. Se formos ao pé da letra, não inventamos a Internet para resolver o problema da complexidade, mas ela SE MASSIFICA da forma que se massificou, pois atendeu a uma latência que estava invisível.
Assim, o que podemos afirmar é que elas surgiram para atender a uma demanda de comunicação da espécie humana, massacrada por uma complexidade, com problemas a serem resolvidos, que o modelo passado não permitia, tal como ampliar a taxa de inovação. Quando se relaciona Revolução Cognitiva com Demografia está se falando em algo macro e se faz macro-relações.
Isso se torna bem mais claro quando olhamos a chegada do papel impresso.
. O fato é que, nessa conjuntura, elas tem esse potencial. No entanto, ainda temos a ruptura cognitiva, no sentido de como temos ou podemos rever as respostas que automatizamos ao mesmo tempo em que temos que ter a sacada (insight) de outras soluções.
Não consegui entender esta parte.
Darwin conclui que as anomalias que tornam o indivíduo mais adaptado ao meio permanecem. Sob esta ótica o meio prevalece sobre a crença. Por outro lado, nosso organismo pode reagir a algumas demandas (quem sempre precisa carregar peso, acaba por adquirir maior força, a musculatura responde). O tamanho do cérebro e a quantidade de neurônios, não são exatamente o mais importante, é só perceber a quantidade de idiotas com cérebro de mesmo volume que o de gênios, ou até maiores. Estudos, não tão recentes, mostram a importância das ligações entre neurônios. Mesmo assim, eu e meu cérebro somos a mesma pessoa, somos um. Entendo que o meu cérebro fisicamente não atende aos meus anseios, ou seja, ele não aumenta de volume ou fica mais potente porque quero. Por outro lado, fica (ou fico) mais inteligente quanto mais eu estude e me esforce por adquirir entendimento.
Abraço.
Bruno, no meu ponto de vista você e seu cérebro não são um. Pois para ser um você deveria ter controle total de seus movimentos. Um alcóolatra é dominado por determinadas químicas, em que perde o controle, deixando que um movimento do cérebro repetitivo tome conta da pessoa.
Diria que nós somos, pelo menos, dois.
Eu e o meu cérebro e a relação que estabeleço com ele.
A ingenuidade, diria eu, é acreditar, como no século passado, na onipotência humana de que controla tudo, incluindo o cérebro.
O que para mim é novo é que o cérebro é uma inteligência artificial, que tem em alguma medida, vida própria, nesta medida, temos que nos render a ele e não ele a nós.
Fiz uma revisão na figura, vejam o rodapé do post, que expressa melhor que estou vendo, introduzi o conceito de Plástica Cerebral, agora me parece mais perto do que estou vendo.
Mas não penso fora desta química, é ela que estabelece os limites do que consigo pensar. Temos cinco sentidos e o raciocínio, o que não consigo sentir nem supor não existe para mim, por mais que de fato exista e influencie na minha vida (como seria a suposição de um deus voluntarioso). Então eu sou consequência desta relação e não o comandante da minha realidade. Persisto sendo um. Não entendo é este existir além das limitações físicas que o cérebro impõe.
Abraço
[…] Comecei neste post, outra linha de abordagem sobre como podemos revisar como pensamos o ser humano. […]