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Vamos pegar Descartes.

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E colocá-lo como chamei aqui de Restaurador Filosófico pós-ditadura Cognitiva do fim da Idade Média.

A frase Penso, logo existo tem muitas interpretações, mas vou dar mais uma baseado na leitura da Antropologia Cognitiva.

Note que Descartes vive em um contexto pós Era Cognitiva Oral.

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A oralidade era a ferramenta da Igreja para manter os fiéis plugados nos seus dogmas.

A oralidade é basicamente emocional, pois o livro é algo solitário, sem  gestos, com pouca possibilidade de agregar emoção ao discurso.

Tem que convencer mais pelos argumentos do que um altar, repleto de santos, cores, rituais e um padre todo de branco lá na frente.

(Nessa direção, defendo a tese que se não tivesse tido o rádio nunca teria acontecido o Holocausto – a desenvolver depois.)

Todo o uso da escrita manuscrita era apenas para articulações interna da Igreja pela Igreja.

Tudo em Latim e com o banco de dados fechado para “hackers” de fora.

Descartes, depois de Lutero (1483-1546), foi o primeiro grande expoente do pensamento que usa o papel impresso já como ferramenta para provocar mudanças na maneira de pensar. O Discurso do Método é escrito em francês com foco na sociedade.

O discurso de Lutero e Descartes e dos outros Restauradores, como Bacon, Espinosa se aproximam: usar a razão e a escrita como ferramentas para restaurar uma verdade perdida pelo dogma oral.

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Descartes é, assim, filho do papel impresso e inaugura a Primavera Cognitiva, que se expande depois com a Renascença e o Iluminismo.

Quando ele declara “Penso, logo existo”. Ele está no fundo, dizendo, agora vou voltar a pensar, ou começar a pensar de uma nova maneira, pois posso sair da oralidade sagrada dos séculos anteriores.

Poderia ser um sinônimo de “Leio, agora volto a existir”, pois a leitura impressa, a opção de ler mais livros, o fim da Ditadura Cognitiva da Idade Média,  permite agora respirar e voltar a pensar (sem medo).

O Discurso do Método de Descartes é a plataforma do modelo mental mais filosofia que dá a base para que a nova Governança da Espécie Impressa possa começar a ser construída nos séculos seguintes.

O método de Descartes é o fio condutor que nos leva à liberdade científica, política e econômica que vem a seguir com o Capitalismo e a República, que se desdobra na Revolução Industrial e, esta, na capacidade de pularmos de 1 para 7 bilhões.

Sem o papel impresso e as ideias de Descartes patinaríamos na casa dos 400 milhões, quando chegou a prensa, em 1450.

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O modelo mental que Descartes defendeu, sem saber, foi o da passagem do livro manuscrito restrito a algumas pessoas do clero + oralidade, para a massificação da palavra escrita, novos códigos que são a base para a Plataforma Cognitiva, que iria sustentar a nova Governança da Espécie nos séculos seguintes.

Hoje, estamos em momento similar.

Saindo, pasmem, da mesma situação que Descartes combateu.

Um mundo movido à oralidade fortemente centralizada do rádio e da televisão, principalmente, que nos levou a uma massificação emocional e pouco racional, que nos traz para a crise atual: concentração de ideias, do capital, das oportunidades, baixa abstração e baixa diversidade.

O momento é justamente o de questionamento desse modelo de baixa qualidade de pensamento, procurando criar um novo modelo mental mais compatível com a nova complexidade do mundo para sair das crises cada vez mais complexas.

E isso pede uma frase fundante da nova Era Cognitiva, que inaugura a base do novo Modelo Mental, pai das filosofias, teorias e metodologias que virão, podemos dizer que é:

Compartilho, logo existo!

(Algo que é mais compatível com a Complexidade Demográfica atual, não é à toa que Morin defende um modelo mental complexo, bem como Capra.)

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Podemos, assim, dizer que tivemos três Eras Cognitivas e três frases fundantes dos modelos mentais de cada uma delas:

  • Me emociono, logo existo (tenho medo, fé) – Mundo oral;
  • Penso, logo existo – (com a massificação do papel impresso) – Mundo Escrito;
  • Compartilho, logo existo! – Mundo Digital.

O futuro, não sabemos quantos séculos, viverão sob a égide de Plataformas Digitais Colaborativas, cuja a base é o compartilhamento e colaboração de massa, mediadas pelos algoritmos digitais.

Estamos diante da reconstrução do modelo mental quando vamos beber na fonte de novo de Descartes, apesar justamente de existir uma campanha contra ele.

A forma cartesiana de pensar foi uma revolução corajosa para aquela época e há que ser sábio para separar a água do bebê.

Precisamos renascer (em uma Renascença Cognitiva que nos encontramos) Descartes para tirar dele o que foi datado, tal como o todo pelas partes, mas resgatar aquilo que é precioso, que é a liberdade e a qualidade do pensar: ou algo como, não se precipite ao pensar e nem tenha preconceitos.

Muda-se os Ambientes Cognitivos, mudam as frases fundantes do pensamento da Civilização, mas os grandes autores sobrevivem.

Valeu Descartes, morte ao cartesianismo radical!

Que dizes?

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