Há uma proposta de metodologia chamada “Liderança do Oceano Azul” ou “Estratégia do Oceano Azul”, que tem tudo que se tem direito em uma nova metodologia: consultores, empresas, livros, seguidores, etc….
O Oceano Azul parte de um diagnóstico de que o problema central das organizações atual é falta de liderança ou uma liderança equivocada. Na Harvard Business Review do mês de Maio de 2014 saiu um extenso artigo, que aponta uma pesquisa da Gallup que diz que:
- 30% dos funcionários estão comprometidos com um bom trabalho;
- 50% passam o tempo na empresa;
- 20% demonstram descontentamento de forma producente.
No brasilerês claro:
- Os pró-ativos;
- Os indiferentes;
- E os inativos radicais.
O diagnóstico é correto a meu ver pelo que vejo nas minhas andanças, no olho.
O problema é que todo o diagnóstico precisa se dedicar a saber se o que foi visto é causa ou consequência. O problema é causa ou consequência? É câncer ou metástase?
E, a partir disso, o que fazer?
A proposta do Oceano Azul passa por:
- – Líderes melhores e mais interativos com a organização e sociedade;
- – Líderes mais descentralizados descentralizando o atual poder organizacional.
A tendência é esta, mas até que ponto a visão do Oceano Azul prospera?
Podemos dizer que o desinteresse dos funcionários e a falta de engajamento do cliente aos produtos e serviços pode não estar no problema da liderança, mas da Governança que está acima da liderança.
Ninguém é líder no vazio em um lugar que não tem um modelo de Governança. Uma liderança segue um modelo de governança para a qual presta contas.
Uma governança basicamente decide:
- – o que?
- – como?
- – para quem vão a fatia mais gorda dos resultados?
O modelo da atual Governança é resultado de:
- – A nova Governança da Espécie criada, a partir de 1800 com as revoluções liberais;
- – Que sofreu uma enorme centralização,a partir da Contração Cognitiva, a partir dos meios eletrônicos de massa do século passado.
Estamos saindo de um tempo continuado de uma sociedade calada e hipnotizada pelas mídias eletrônicas, que resgataram a magia emocional do mundo oral, similar ao que tivemos na Idade Média, pré-escrita.
Isso criou um modelo de Governança fortemente centralizado e, por sua vez, narcísico, no qual as organizações se voltaram mais e mais para dentro, ficando de costas para a sociedade e stakeholders externos e internos.
A liderança exercida é estimulada a isso e foi preparada para esse modelo.
Mudar significa repensar o modelo e não apenas trabalhar com os líderes, que continuam no mesmo ambiente. É o rabo balançando o cachorro!!!
A crise não é das lideranças, mas do modelo de Governança, que foi feito para:
- – um mundo com muito menos habitantes e, portanto, menos complexo;
- – um mundo sem canais de expressão como agora, muito mais exigente;
- – um mundo com uma taxa de inovação controlada e centralizada, que não estava acostumado ao surgimento de novos competidores, que saem da garagem.
A chegada da Internet, como temos dito aqui no blog, altera o modelo da Governança da Espécie e, por sua vez, força que TODAS as organizações comecem a migrar do modelo de Governança Analógico para o Digital.
As lideranças vão ter que se adaptar ao novo modelo de Governança, dentro de um novo cenário disruptivo.
Assim, diversas técnicas e metodologias da Estratégia do Oceano Azul podem ajudar nesse processo, desde que recebam um “banho teórico”, recolocando a questão da Revolução Cognitiva e a chegada de uma nova Governança da Espécie como eixo deste cenário.
Assim, a crise da Governança não pode ser atribuída a uma parte que é a Liderança, que é apenas o resultado de algo maior, como vemos na figura abaixo:
O conjunto Governança é maior do que o da Liderança e não o contrário!
A liderança vai ser coerente com a governança praticada e se a governança é voltada para o umbigo do próprio centro de decisões hiper-centralizado com poucos princípios e conceitos mais abrangentes, não tem como, por mais que a liderança queira, promover mudanças, pois elas serão mais fumaça do que fogo.
O projeto deve abarcar uma mudança da Governança com os novos princípios que o Digital exige, englobando um amplo processo de migração de “A” (Governança Analógica) para “B” (Governança Digital).
Que exige mudanças profundas na maneira de se relacionar dentro e fora da organização.
Aí sim, com essa visão estratégica, podemos começar a ir para o Oceano Azul do próximo século, sem antes enfrentar muita ressaca.
É isso, que dizes?