Tenho procurado problematizar aqui no blog a relação da nossa espécie com a tecnologia. Já defendi que essa revisão é o ponto-chave para entender o século XXI.
De todas as discussões que tive sobre o assunto, acredito que temos que trabalhar de forma dialética, colocando a questão com dois lados.
A tecnologia é neutra em parte. E é ativa em parte, através de um lado visível e outro invisível.
- A parte visível é aquela que vemos e optamos por usar e não usar;
- A invisível são os ajustes inconscientes e autônomos que nosso corpo, incluindo o cérebro, têm que fazer para se adaptar à nova tecnologia, que passa, como uma órtese, a fazer parte do nosso dia-a-dia.
Digamos que começamos a tomar um novo tipo de leite. Quem tomar daquele leite, que contém determinadas substâncias novas (que são fruto de uma tecnologia de produção de leite) se adaptará internamente a ele de alguma maneira.
A parte visível do leite é tomá-lo, ou não, e neste ponto de vista a tecnologia é neutra, pois posso optar por usá-la, ou não. E é invisível internamente, pois quem toma terá adaptações inconscientes no corpo, que se adaptará, de alguma forma, ao novo leite.
Se um leite causar câncer, por exemplo, só saberei disso, como uma reação inconsciente do corpo, mais adiante depois dos primeiros sinais e exames.
O que temos que entender é que o ser humano tem um lado que consegue controlar e outro não. Nosso corpo é um ser vivo que reage ao meio muitas vezes sem pedir licença a nossa parte consciente.
Existe uma parte de nós que controlamos e outra não. O corpo tem TAMBÉM uma vida própria, uma ecologia própria, que se ajusta ao meio, INDEPENDENTE DE NÓS.
Assim, a chegada de determinadas tecnologias provocam ajustes inconscientes em parte da sociedade, que mesmo que parte rejeite, será de alguma forma afetada diretamente (se usa) indiretamente (ao ter contato com quem usa).
As Tecnologias Cognitivas são um tipo de tecnologia que tem forte impacto na parte inconsciente do nosso cérebro.
Existem várias tecnologias que mudam nosso corpo, mas não com a mesma intensidade, tais como: a de transporte, de alimentação, de preservação da saúde, de reprodução, de fabricação, etc.
Cada uma delas, ao ser introduzida na sociedade afeta mais ou menos a nossa espécie, mais ou menos gente, de formas mais ou menos inconsciente.
As Tecnologias Cognitivas, em particular, tem um poder maior, pois:
- – são usadas muitas vezes ao longo do dia de cada habitante;
- – exercem um papel fundamental no epicentro de nossas vidas;
- – expandem, flexibilizam, potencializam ou moldam o nosso órgão mais relevante e que nos distingue das outras espécies: o cérebro;
- – se massificam rapidamente e em vários pontos do planeta, ao mesmo tempo;
- – cuidam do controle ou descontrole das ideias, alterando de forma incremental ou radical a Governança da Espécie.
É isso, que dizes?
Muito bom para organizar aquele meu pensamento que debatemos, sobre wearables, tecnologia invisível ou ubíqua.
Muito bom.