Quando analisamos a atual crise da liderança, não podemos misturar a crise da liderança oral-escrita com a figura da liderança e daquilo que será o novo modelo de liderança algorítmica.
Já disse aqui que nossa espécie não vive e não viverá sem organizações.
E nem as organizações viverão sem lideranças.
Entendo liderança por aquele que consegue reunir em um dado momento mais eficácia para ajudar e/ou tomar decisões. Ou seja, o líder não é algo eterno, permanente, mas é aquele que tem algo a colaborar a mais do que os demais em um dado momento e contexto.
O problema que temos hoje é que vivemos a passagem da Governança Ora-Escrita, baseada nos Tecno-códigos da palavra oral e escrita para a Governança Digital, que nos permite o uso do Tecno-código Algorítmico.
Nossas lideranças são lideranças orais-escritas, que aprenderam, há bastante tempo, a usar a atual Governança a seu favor, aumentando o poder das organizações (que se estruturaram há muito tempo em cima da atual governança) sobre a sociedade.
Estas lideranças ganharam o que vamos chamar de mérito organizacional para se perpetuar no papel de líder e foram, aos poucos, perdendo o mérito social para se manter por lá.
Nossas lideranças, assim, tem pouco mérito social e muito organizacional.
As lideranças se mantém como autoridades, assim, não pelos serviços que prestam à sociedade, mas pela sua capacidade de auto-preservar seu cargo e a sua organização a despeito da sociedade.
O que nos leva a uma crise da Governança da Espécie.
Toda crise de Governança da Espécie será identificada também por uma crise de Liderança. Uma crise de liderança se caracteriza por termos pessoas tomando a decisão com baixa representatividade social, voltada para se manter no cargo e preservar os privilégios da organização que representa.
Há, assim, uma crise de liderança, pois as organizações atuais aprenderam a usar o atual modelo para benefício próprio e seus líderes foram educados para conservar o modelo para se conservar no cargo.
Assim, a liderança no fim de dada Governança da Espécie vai se tornando cada vez mais autoridade imposta do que liderança, pois vai sendo destituída do mérito social e mais e mais ganhando o mérito organizacional.
Ou seja, é líder aquele que tem valor para a organização que defende, incluindo seu posto, e menos para a sociedade.
Há um desvirtuamento da taxa de meritocracia social.
Quando analisamos a atual crise da liderança, não podemos misturar a crise da liderança oral-escrita com a figura da liderança e daquilo que será o novo modelo de liderança algorítmica.
Precisamos de líderes, mas com outro modelo, pois os líderes de hoje:
- – não conhecem as latências ocultas da sociedade, pois a Governança atual as mascaravam por falta de canais de expressão, que agora explodiram;
- – podiam esconder o que faziam, apesar do que diziam, hoje o controle sobre os fatos é muito mais reduzido;
- – não precisavam se voltar para a sociedade, pois esta estava controlada pelos poucos meios de circulação de ideias, em uma baixa taxa de relacionamento organização-sociedade;
- – estava totalmente voltada para o sistema de mérito organizacional que aprendeu: da organização para a organização;
- – não tinha instrumentos para conhecer melhor as demandas da sociedade, pois se trabalhava com dados imprecisos, com o que achava que era e não com algo que está acontecendo de fato (que o digital torna mais preciso);
- – não podia contar com a co-criação e a participação intensa da sociedade a baixo custo;
- – e não tinha, muitas vezes, apoio de fora para dentro para fazer determinadas mudanças, pois a estrutura de dentro para dentro barrava.
Assim, a nova liderança que vai surgir é a liderança algorítmica que conseguirá lidar com os novos Tecno-códigos, que permitem estabelecer um novo modelo de relacionamento com a sociedade, através da colaboração de massa mediada por plataformas colaborativas, a base da nova Governança e do modelo das novas Organizações emergentes.
O mérito que será valorizado, nesta fase de implantação da nova Governança, será a capacidade de lidar com estes Tecno-códigos para gerar valor e redução de sofrimento para a sociedade, aumentando a taxa de qualidade de relacionamento das organizações com a sociedade, através do aumento da solução de problemas de fora para dentro.
Será uma liderança dinâmica, pois estará sujeita ao mérito social, agora regulado pelos algoritmos, que mediará a colaboração de massa. Não será uma liderança, como é hoje mais fixa, mais algo mais dinâmico: quando tiver algo para contribuir em um processo mais versátil de mérito-demérito, sobe e desce.
Será uma liderança muito mais descentralizada do que é hoje, de micro-autoridades, como uma taxa de mérito social maior em um modelo muito mais horizontal do que o vertical, só possível em função dos novos Tecno-códigos Algorítmicos.
Essa nova liderança terá um longo caminho pela frente para criar organizações compatíveis com a nova Governança Digital, pois irá contra a maior parte dos valores criados pelo modelo da liderança passada.
É um processo disruptivo do modelo de liderança.
Ela será hegemônica até que se torne novamente obsoleta, quando precisaremos de uma nova Governança pós-Digital.
Mas isso, pode ter certeza, não vamos assistir.
É isso, que dizes?
“Maior é aquele q serve.” Tão velho, tão antigo. Mas tão contemporâneo.