Quando falamos em nos adaptar às novas tecnologias estamos falando em nos adaptar as novas possibilidades, ações, inovações, facilidades que a quebra das barreiras anteriores não permitia.
Dizem que se um passarinho for solto depois de um tempo engaiolado tende a morrer.
O animal se acostuma a vida de cativeiro.
Diria que o ser humano é assim também.
Vivemos ciclos, como demonstrei aqui nos Ciclo de Chegada de Novas Tecnologias à Sociedade em que a adaptação cultural a uma nova é uma etapa bem difícil, pois, na verdade, não é preciso se habituar a tecnologia em si, mas na quebra das grades que nos impedia de fazer diversas atividades que a nova tecnologia agora permite.
Ou seja, quando falamos em nos adaptar às novas tecnologias estamos falando em nos adaptar as novas possibilidades, ações, inovações, facilidades que a quebra das barreiras anteriores não permitia.
Nos agarramos às barreiras tecnológicas passadas, pois elas criaram um ambiente cultural com o qual nos acostumamos, achamos que é o único possível e qualquer coisa diferente dele nos soa ruim, maléfico, nefasto e perigoso.
Cabeça de gaiola!
Uma tecnologia, de fato, vem ao mundo superar uma determinada barreira tecnológica, que outras tecnologias se mostraram incapazes de fazê-lo.
(Rejeitei a minha primeira abordagem de barreira natural, pois nossa espécie é basicamente tecnológica. Nada em nós pode ser considerado natural, pois é passível de modificação no presente ou futuro.)
Não podíamos fazer algo, que nos aprisionava, e passamos a fazê-lo, criando novas possibilidades de ação e de alterações na nossa cultura.
A fase da adaptação cultural, portanto, tem dos desafios:
- – criar fora da “cela” – permitir que novas possibilidade de inovação em cima da superação da quebra de barreira tecnológica sejam criadas em um ambiente agora liberto das amarras tecnológicas do passado e isso envolve inovação incremental e radical em cima das novas tecnologias, que superam velhas barreiras naturais;
- – aceitar que a cela não existe mais – conseguir vencer as barreiras culturais de quem está viciado e preso às “grades” antigas, que não consegue sair de dentro da “cela”, como a barreira tecnológica fosse intransponível, um dado da realidade estrutural e não algo conjuntural.
As barreiras tecnológicas, assim, criam a falsa ilusão de que aquela maneira de resolver o problema é a “certa”, a “única” ou a melhor.
Como vivemos em um ambiente tecno-natural nossa cultura é moldada pelas tecnologias disponíveis e as barreiras tecnológicas que AINDA não foram vencidas.
Nos acostumamos aquela limitação e toda as novidades que aparecem se apresentam como uma ameaça a ordem que se estabeleceu em função das barreiras naturais pré-quebra tecnológica.
Vou dar um exemplo.
Hoje, é possível gravar as aulas de cada professor na escola e colocar disponível na Internet, quebrando os muros da sala de aula.
Um exemplo é a união de várias universidades de SP nessa direção, veja mais aqui.
Ou seja, um professor pode multiplicar em muito a sua mensagem por muito mais gente dessa forma.
É uma nova aplicação em cima de uma barreira que foi vencida, pois antes algo assim era muito caro e os canais de divulgação limitados no tempo de programação.
Toda a escola deveria migrar para algo assim, como uma forma de disseminar conhecimento, ainda mais a área pública.
Porém, não é algo que está sendo feito na escala que se poderia, pois a barreira não é o custo, que é baixo, mas cultural.
A ideia da aula está presa ao local e limitadas a quem está presencialmente naquele local.
Há muita resistência daqueles que estão habituados às barreiras impostas pelo ambiente tecnológico pré-Internet.
A visão de que há um verdadeiro vício nas barreiras tecnológicas passadas, mas não na tecnologia, mas naquilo que ela NÃO permite como se aquilo fosse o natural e a verdade e não apenas um cenário tecno-cultural que pode ser superado.
Para quem trabalha com capacitação para inovação, tal visão facilita muito o trabalho de abertura de mentes para lidar com novos ambientes tecno-modificados.
É isso, que dizes?