Tenho falado da crise das organizações, veja mais aqui, e o impasse diagnosticado é o seguinte:
- – concentração das decisões, diante dos limites tecnológicos cognitivos;
- – versus o aumento contínuo da população.
O que tivemos aí e agora estamos retomando?
Cada vez menos gente tomando a decisão, de forma isolada, por mais gente.
É óbvio que sofrimentos, interesses e desejos de muita gente vai ficar de fora.
Já dizia alguém que todo poder corrompe, ainda mais o absoluto.
Vivemos momento similar da história ao ambiente da monarquia antes da Revolução Francesa, que montou todo o seu poder no controle das ideias orais e manuscritas, mas não estava preparada para a disrupção do papel impresso.
O papel impresso foi o rompimento do isolamento dos cidadãos europeus em dois níveis:
- – capacidade de canais de novas vozes não afinadas com as organizações de plantão (monarquia e igreja). Houve uma quebra de monopólio do controle das ideias;
- – nova capacidade de articulação.
Houve naquele momento uma latência da sociedade por inovação diante do crescimento populacional nas grandes cidades da época, o que nos leva a dizer que a espécie humana vive macro-movimentos na história em função das tecnologias cognitivas e dos fluxos demográficos.
- Quando aumentamos a população, precisamos inovar para nos manter e isso gera uma pressão por ambientes mais abertos de troca de ideias.
- Quando estas novas tecnologias cognitivas reintermediadoras surgem e criam essa inovação, precisamos de concentração para absorver às ideias e projetos inovadores.
- Quando vivemos o pêndulo cognitivo de expansão é preciso ampliar a taxa de meritocracia da sociedade, pois vivemos sob o signo da inovação.
- Quando vivemos o pêndulo cognitivo da contração a meritocracia passa a ser secundária, pois vivemos sob a signo da consolidação.
Na situação 1, as autoridades serão valorizadas pela sua capacidade de criar e dialogar com a sociedade, que é o que está sendo demandado cada vez mais hoje.
Na situação 2, as autoridades serão valorizadas pelas sua capacidade de gerir, manter conservar as organizações que foram criadas, o que está impedindo as organizações a se adaptarem a esse novo cenário cognitivo.
O problema nos dois casos são os extremos e a continuidade.
- Nem o processo de expansão é contínuo, pois é preciso fôlego para respirar, mas cria as bases para um contínuo aumento demográfico.
- Nem o processo de contração pode ser contínuo, pois é preciso manter uma taxa de inovação, que seja capaz de dar conta da nova complexidade demográfica.
O que tenho observado é que a demografia é o fator determinante para que o pêndulo se modifique.
Talvez, se nos últimos 200 anos não tivéssemos saltado de 1 para 7 bilhões, a crise por inovação e expansão das ideias não seria tão radical como é hoje.
Ou seja, a macro-tendência atual é por inovação, abertura, diálogo para construir um novo modelo de governança, no qual a meritocracia de massa é seu epicentro.
É isso, que dizes?