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Ao procurar analisar tendências futuras no mundo, temos que entender os efeitos das tecnologias cognitivas reintermediadoras, que ganham cores diferentes em países centrais (com menos desequilíbrio de renda entre os mais ricos e pobres) e periféricos (com mais desequilíbrio de renda entre os mais ricos e pobres), que tenderão a ser menos influenciados pelas novas tecnologias disponíveis.

Women on a Seesaw on Littlehampton Beach, 1930

Nos países mais equilibrados economicamente nas três camadas cognitivas. As exceções ficam pelos tecno-resistentes (idosos e ou tecno-fóbicos, tecno-traumatizados) e não por falta de recursos para aderir.

No caso de países periféricos, onde se inclui o Brasil, temos que analisar a situação de outra maneira, pois temos as três camadas bem marcadas: excluídos, parcialmente incluídos e totalmente incluídos.

distribuição-de-renda

Os efeitos das tecnologias cognitivas reintermediadoras vão se acelerar muito na camada com mais posses e serão muito pouco aproveitada pela camada com menos posses.

E isso vai gerar uma falsa percepção e uma falsa tendência, pois haverá a possibilidade de se trabalhar com as camadas excluídas e parcialmente incluídas, que continuarão sendo “bolsões pré-Revolução Cognitiva Digital“, o que que retardará os efeitos da mesma.

Porém, as classes mais ricas estarão mais e mais se utilizando do novo ambiente, criando um fosso e um sério problema de estratégias para as organizações, pois terão que, de alguma forma, atender a demanda do novo ambiente e – ao mesmo tempo – conseguir manter para os excluídos e os parcialmente incluídos.

Vejo claramente que jornais e diversos setores da sociedade, onde se inclui o turismo, apostando nas camadas dos excluídos e dos parcialmente incluídos, como se fosse um “pré-sal que ainda não foi atingido pela Revolução Cognitiva”.

Imaginam que o que acontece nestes novos setores, que estão vivendo, no caso do Brasil, uma inclusão radical da população, algo que será para sempre e que as nova tendências não atingirão TAMBÉM esta camada.

Não estão construindo uma ponte harmônica entre os três segmentos, deixando para um novo fornecedor a criação do futuro, o que é um suicídio anunciado.

foto

E fazendo desse fato algo que justifica uma estratégia conservadora, sem conseguir perceber, ou não querer ver, que o seguimento totalmente incluído já migrou para outro fornecedor mais antenado com o futuro.

O problema disso tudo é que a Revolução Cognitiva não volta para trás.

Ou seja, o incluído totalmente não voltará para trás e sempre irá adiante, influenciado todo o resto nesse caminho, deixando os que apostarem nesse “bolsão do passado” a ver navios.

Isso se agrava muito no Brasil em função do conservadorismo cognitivo que está bebendo da mesma água, que falarei no próximo post.

Que dizes?

6 Responses to “As camadas cognitivas em países periféricos”

  1. […] No caso do Brasil e países com desequilíbrios sociais e econômicos, isso é bem diferente, como veremos no post a seguir. […]

  2. Laudo disse:

    Olá “Nepô”, gostaria de ler mais à respeito de seu raciocínio quanto ao turismo. Quando você considera que talvez o turismo seja como os jornais, apostando apenas nos excluídos e parcialmente incluídos, me pergunto se talvez esteja comparando os serviços de uma grande operadora (tipo CVC) ao de uma editora ou geradora de mídia (tipo Globo). Pois que não me parece ter muito sentido comparar somente um produto tangível como um jornal, seja impresso ou online e um produto turístico intangível como um pacote para Porto Seguro. O jornal será algo sem opcionais, um produto com bem menos flexibilidade, mesmas notícias, texto único em estilo e conteúdo, mesmas fotos, mesmo discurso, para todo consumidor, seja este até o totalmente incluído.
    O pacote pode variar muito dentre uma mesma destinação, mesmo este sendo um “pacote”. Ainda que seja um mesmo vôo e que este não tenha mais “classes”. Quanto aos hotéis, a variação é maior ainda, mesmo num mesmo empreendimento. E mesmo quando se trata de vender em escala, como interessa às cvcs, o produto turístico final pode variar tanto, mesmo numa destinação popular como Porto Seguro que até pode se tornar atraente ao totalmente incluído.
    Agora, se a questão é que empresas do tipo cvc não estão investindo nisso, então, diria que não é o turismo enquanto atividade que não aposta (termo “seu”) nas camadas “top”. São as empresas do tipo cvcs que sempre investiram no massivo e diferentemente do que propala o atual diretor da companhia destacada (a própria CVC), nunca conseguirão atender segmentos mais refinados caso queiram, pois, primeiro, não tem interesse, pois justamente, trabalham com escala e o turismo exclusivista não permite esse modus operandi.
    Então, não enxerguei o que exatamente não é “estar apostando” nos totalmente incluídos quando se trata do turismo. Acho, pelo contrário, que há muitas possibilidades que se abriram e vem se aperfeiçoando para os agenciadores de turismo de ponta, personalista e que as interações em rede tem aperfeiçoado, ou seja, focado no totalmente incluído e deixando espaço para todo “novo” totalmente incluído que quiser deste tipo de turismo participar.

  3. Carlos Nepomuceno disse:

    Prezado Laudo,

    gostei do que você fala sobre o serviço digamos fechado de um jornal e um serviço aberto e personalizado de uma agência, com diversos pacotes.

    Sim, é algo que tem que ser colocado dentro da análise, vou incorporar isso com um diferencial.

    Na verdade, o consumo está indo justamente para esse modelo do usuário definir o serviço/produto, um bom exemplo é a Dell, na qual você pode definir, dentro de alguns critérios, o computador que vai receber.

    Acho, entretanto, que temos que focar no que é o principal em ambos os casos. Há uma intermediação que era o valor do mercado antes e que está havendo uma reintermediação atual, no qual o usuário está ganhando cada vez mais liberdade.

    E indo para plataformas digitais, as agências, como as corretoras da bolsa de valores, estão virando plataformas na qual há uma junção entre quem oferece o serviço turismo e quem quer comprar.

    Por aí, há uma semelhança entre diferentes setores, o valor atual está em reintermediar para ficar mais barato e flexível.

    Que achas?

  4. Laudo disse:

    O que me parece faltar desenvolver (não digo você, ou eu, propriamente, é só que não conheço literatura para tanto) é justamente esse aspecto de produtos (seja o jornal, seja o ultrabook Dell, seja o pacote turístico) que um dia deixarão (será?) de atrair os excluídos e parcialmente incluídos do qual você trata… e já que citou a Dell, vou arriscar algo em que a analogia com turismo também não parece das mais apropriadas, o carro, esse objeto de desejo tão… “brasileiro”? Saiu esses dias um resultado de pesquisa encomendado pela Secretaria de Transportes do Estado de São Paulo (não sei se a fonte informação é precisa) no qual diz que a população com renda até pouco menos de R$5mil está deixando de usar transporte coletivo ao passo de que quem tem mais (nas faixas bem mais acima) tem preferido deixar o carro em casa… isso diz o que exatamente? Que o governo passará a investir mais no transporte coletivo pois seus “correligionários”, formadores de opinião estão migrando para os meios de transporte público? E ainda que isso possa acontecer, o que vai acontecer em seguida é a volta dos excluídos ou parcialmente “in”, quando o totalmente incluído se cansar dessa onda? Mas voltando ao carrinho fálico… um tipo médio que custe seus R$40mil. Na realidade, com a gama de opcionais, um desses pode sair da concessionária não pelos 40 mas, completinho, R$50mil, é fato, não? Poxa, estamos falando de 10mil a mais pelo “mesmo” carro. Esse tipo de produto é para os parcialmente in? Será para os excluídos algum dia? A percepção que tenho é de que se o cara gosta e tem como parcelar em x anos de financiamento, mesmo que tire a versão básica pelo preço final da top, problema dele, não. Este consumidor é o excluído, é o parcialmente in? O que é afinal? Portanto, Nepô, respeitosamente, gostaria de lhe “cutucar”, neste sentido, de entender melhor, do que se tratam essas 3 camadas e se funcionam para esses bens de consumo já elencados. Será que essas camadas tem necessariamente vínculo com distintas faixas de poder aquisitivo ou sobretudo, aos mais ricos, será que talvez “queiram” ou acabem por trafegar, atraídos pelo apelo publicitário enviesado, a que as empresas inicialmente apostaram, em um nível subestimado? Será que não é mais uma questão de pertencimento? A propósito, deixo esse link pra uma “conterrânea” sua, lost in translation, que discute essa questão de pertencimento e fala nesse post sobre uma situação de turismo. Talvez pra mais comentários… por hora http://tokyorio.com/2013/10/26/phuket/

  5. Carlos Nepomuceno disse:

    Laudo, você fala do que se consumo, produtos e serviços.

    Essa discussão é algo que foge ao escopo do que estudo.

    O que me dedico a estudar é COMO se consome, que é onde faz sentido a divisão, pois estamos diante de um novo modelo de governança que implica novas formas de consumir.

    HOje, quem pega táxi com aplicativos reduz bastante outras formas de pegar táxi, em função das vantagens.

    Muita gente não usa, mas a tendência é que passe a usar.

    Ou seja, não estou discutindo pegar ou não pegar táxi, ou de carros, ou de turismo, a discussão é COMO se vai consumir.

    As faixas que apresentei tem relação com faixa de renda, mas também com idade e perfil diante de mudanças tecnológicas, o que digo é que os incluídos estão consumindo de outra forma e vão levar as outras camadas nessa linha.

    Eu não estou pensando em classes de renda, mas diante de uma mudança basicamente tecnológica, que tem gente mais ou menos vivendo aquele ambiente, que achas?

    Pode cutucar à vontade.

    Grato

  6. Laudo disse:

    Nepô, ao contrário do que pareceu, estou sim, tentando empreender um entendimento maior sobre o “how” desta questão de consumo e não apenas o “what”. É que foram surgindo esses exemplos todos e o do carro não deve ter sido dos mais felizes. O que importa é que me chamou atenção especialmente o tema do turismo e nisso vi uma questão que não me pareceu muito explicada, algo que você mesmo admite caber mais ponderações. E daí que fiz o link ao blog da pessoa que menciona um destino turístico na Tailândia, que achei muito pertinente sobre esta questão de como cada suposta camada lida com o consumo de uma viagem àquela destinação. Àquela autora revela-se, certo incômodo, dado o lugar tomado por barquinhos e lojinhas flutuantes, como que poluindo (e visualmente deviam estar mesmo, porém, a se conferir os impactos de modo geral) o resto da paisagem (que se pretendia só o da natureza “intocada” das ilhotas, do horizonte marítimo, etc)… porém, há de se considerar que talvez para alguns turistas a paisagem ali seja menos isso e mais uma possibilidade de uma boa farra com família e amigos, ao som da indústria cultural e produtos manufaturados a se consumir dentro das “doces águas” daquele spot… enfim, não vou adiante naquele exemplo, pois pouco conheço. Porém, sei que esse tipo de turista, que menciono mais interessado em levar “seu suposto estilo de vida”, onde quer que seja, está em todo lugar, mesmo num “paraíso ermo”, relativamente selvagem. A visão paradisíaca varia e pode, pra muita gente, muito bem ser o consumo da paisagem num sofá flutuante com sua cerveja e a entupir aos peixinhos e ao próprio, com doritos. Então, evidentemente que também debato o “HOW is” da qual as 3 camadas se relacionam com a situação. E daí que me pego referindo me a questão de pertencimento, que é a identificação com 1 camada ou outra, muito mais independente de renda ou até mesmo de uma eventual aversão às novas tecnologias, inovações ou mesmo uma deliberado desprezo às últimas novidades em gedgets, que não necessariamente tão tecnológicos ou eletrônicos. Assim, o próprio termo por você utilizado, “camadas”, é mesmo por se permitirem sobreposições? É como enxergo, eventualmente, funcionar quando coloco estes exemplos do turismo. Finalizo com outra ilustração, esta uma experiência/memória pessoal que essa discussão remeteu. Estava finalmente em Jericoacora, destino do qual escutava histórias, vi imagens dos tempos de reduto hippie e ainda quando nada havia de luz elétrica. Sabia que encontraria coisa muito distinta, de um tempo em que internet por lá já chegava. Pois que um cartão postal/ícone lá é a Pedra Furada: até hoje, se clicarmos numa busca fotográfica deste monumento, deve resultar em tudo quanto é obra da maravilha da natureza, sem qualquer interferência humana, um majestoso relevo isolado e somente açoitado pelas forças daquele imenso mar. Eis que vou pela trilha, numa caminhada algo só, prestes a avistar um desses quadros, a solidão daquele gigantesco “olho do jacaré submerso” e como que num simples clic, é praticamente um enorme ônibus de turismo lotado que está lá, seja nas areias mais próximas, seja lá, de certa forma, trepado às escarpas que formam o orifício rochoso. A atração é a mesma pra todo mundo, uma “pedra”, uma furada. Coube a cada um lá, como “devorar aquela paisagem”…

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