Dando continuidade ao post passado, podemos dizer que não existe ciência pura.
Toda a ciência é aplicada para resolver dois problemas humanos:
- – a curiosidade – que entraria no campo da ciência disruptiva;
- – e a necessidade – que entraria no campo da ciência incremental.
O estudo do cosmos ou da origem da espécie está mais voltado para a curiosidade do que da necessidade imediata, bem como, a cura da Aids ou do câncer está mais para a segunda demanda.
Uma ciência bem equilibrada em um dado país, centro de pesquisa, universidade, acredito eu, deve estar mais voltada para a segunda e menos para a primeira. O que não quer dizer que não devemos nos dedicar a nossa curiosidade e à inovação radical, pois dela saem insights mais profundos para solucionar necessidades.
E nada impede que uma esteja aliada à outra.
Tudo é uma questão de pesos e criação de sinergia.
- Não podemos dizer, entretanto, que a ciência curiosa é uma ciência pura.
- E que toda a ciência dita necessária é somente aplicada.
Diria que tudo depende do aprofundamento dos problemas e suas possíveis minimizações. Os problemas da ciência necessária vem, quando é de fato aplicada, de algo que a sociedade não está tendo bons resultados.É um problema mal resolvido, que exige reflexão.
- A primeira abordagem para se contornar um problema, como vimos aqui no triângulo do conhecimento, de um problema é metodológica, que é mais rápida e barata. O que estou fazendo de forma ineficaz?
- A segunda é mais teórica: o que estou pensando de forma ineficaz?
- E a terceira é mais profunda: que lei humana estou precisando revisar para poder pensar de forma mais eficaz e ter uma teoria e metodologia mais adequadas?
Assim, se um dado problema nos levar a uma discussão mais profunda, não estamos fazendo ciência pura, mas apenas estamos indo mais fundo em um dado problema, que os primeiros estágios se mostraram ineficazes.
Muitos dirão, entretanto, que a ciência pura se define por se tratar de pesquisa em torno de algo que não é ainda um problema e nem se sabe se vai chegar a ser. O que nos leva ao campo da ciência disruptiva, que pode vir a ser aplicado no futuro.
E aí diria que não é uma ciência pura, mas entra dentro do que podemos chamar de ciência curiosa, que não tem necessariamente o objetivo de ter um resultado, mas é um acúmulo de conhecimento, que pode nos levar a solução de necessidades futuras.
Nada contra, desde que bem balanceada e com alguma relação, se possível, com possíveis pesquisas da ciência necessária que podem se beneficiar deste estudo.
Porém, muitas vezes a ciência curiosa é apenas curiosa e serve para um escapismo do pesquisador de cobranças práticas. Algo como: “posso ficar no meu canto pesquisando sem aborrecimento, muitas vezes com verba do governo, basta dizer que é ciência pura”.
Acredito que muito da nossa academia hoje leva a marca de ciência pura e é uma ciência sem necessidade, apenas para atender aos caprichos do pesquisador, como bem definiu Marcos Cavalcanti com a fábula do ronco do boi.
Renomear as ciências de pura para disruptiva, quando for o caso de não ser focado em problema, ou filosófica, quando for aprofundando um dado problema nos ajudará a ter uma ciência mais eficaz.
Que dizes?
Versão 1.0 – 18/11/2013 – Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.
[…] Isso economizaria muitas dissertações e teses, que saem da academia sem pé nem cabeça. E aí esbarramos em um engano que acredito que cometemos bastante, que é o da ciência aplicada e da ciência pura, como vemos aqui. […]