Tenho percebido que há um movimento circular na história da produção de percepções, que se modifica nos movimentos de expansão e contração cognitiva.
Identifico, como iniciei a discussão aqui, três momentos:
- – Grécia – pós alfabeto;
- – Europa – pós prensa;
- – Mundo – pós Internet.
Note que é um movimento pendular de uso continuado de uma dada tecnologia cognitiva que embaça mais e mais a nossa espécie, que é cronicamente míope.
Há um ciclo de embaçamento que vai nos levando a perder a capacidade de se fazer/precisar de métodos de análise da realidade mais adequados. Isso se deve por um movimento de concentração da produção da verdade e tomada de decisões em cada vez menos organizações e autoridades.
O final da contração cognitiva nos leva a um problema duplo afetivo/ético e cognitivo/epistemológico:
- No ego – que passa a ser cada vez mais auto-centrado;
- No cérebro – que cada vez a ficar mais embotado.
Há dois movimentos interessantes.
O primeiro que a consolidação, contração, tem um papel que é o de permitir que determinadas forças mais pragmáticas consigam atuar e agir na sociedade, tal como a consolidação da Grécia enquanto potência, depois o Cristianismo enquanto doutrina, além de todo o movimento de consolidação da República e do Capitalismo até os dias de hoje.
Essa consolidação e aceitação das percepções e decisões produzidas pela maioria permite uma expansão demográfica da espécie.
Ao final de um ciclo de contração, percebe-se um aumento demográfico, que gera uma crise, pois aumenta-se a complexidade com o aumento de membros da espécie, levando-nos a um impasse. A espécie cresce de tamanho por causa da contração, mas é justamente a contração, com seu respectivo impacto no ego e no cérebro, que nos leva à uma encruzilhada.
A nova mídia que se massifica, pois permite a macro-canalização humana, antes de tudo, altera a plástica cerebral, o que nos leva a uma mutação inconsciente da espécie, com alterações objetivas e subjetivas.
Porém, essa mudação não é percebida e nem diagnosticada, pois não tínhamos, como agora, capacidade de enxergar a influência das tecnologias na nossa espécie e, em particular, das tecnologias cognitivas.
(É a primeira vez que vivemos uma Revolução Cognitiva de forma consciente.)
Porém, para que essa nova espécie possa atuar e se expandir, precisa transformar o que já sente e a nova maneira que pensa em mecanismo de produção e regulação social, o que nos leva a um ciclo de movimentos de mudanças sociais em direção da expressão do que está dentro do ser mutante para o social.
O primeiro passo, se formos analisar o passado, cabe aos filósofos, que percebem com mais rapidez o movimento e começam a procurar novas formas de produção da percepção.
Eis o movimento pós-expansão: a procura da reinvenção, que é um movimento circular, da produção das percepções, que ocorreu na Grécia com a filosofia atuando em dois campos: do conhecimento para se estabelecer um novo método, compatível com o novo cérebro e moral/ético, compatível com o novo ego.
Há uma necessidade com a macro-canalização de termos instrumentos reais de multiplicação de métodos mais éticos e epistemológicos para viver em um mundo com uma nova complexidade provocada pela liberdade que os novos canais permitem.
O movimento circular de reinvenção da produção das percepções, entretanto, não é igual ao anteiror, pois temos as seguintes diferenças percebidas, até o momento:
- – o acúmulo de pensamentos que vão se somando;
- – os fatos históricos que nos ajudam a dirimir algumas ilusões;
- – novas tecnologias de medição que nos permite ver melhor;
- – as características nas novas tecnologias cognitivas;
- – a complexidade demográfica, que é cada vez mais global.
Assim, podemos imaginar que o movimento de reinvenção da produção das percepções digital repete alguns traços dos outros, mas tem novidades.
Acredito que repete:
- – a passagem da contração para a expansão – que é o provocador do resto;
- – do emocional para algo mais pensado;
- – aumento da interação, comunicação;
- – reformulação do cérebro e ego.
A mudança nos leva à procura de uma revisão profunda, em novas bases, de uma ética e epistemologia, que tenha as mudanças da espécie em conta e isso só é possível se incorporarmos o digital e suas tecnologias, que são a prótese que nos permite dar esse salto.
Portanto, uma tecno-filosofia, aliás, como sempre foi. A tecno-filosofia oral, escrita e agora digital.
Mas vamos em frente.
O que dizes?
Versão 1.1 – 15/11/2013 – Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.
[…] de reconstrução de método de abordagem, tão necessária em um movimento que podemos chamar de reinvenção circular da produção da verdade, que ocorrem logo depois de uma dada macro-canalização […]
[…] (Veja mais aqui sobre reinvenções circulares da produção da verdade.) […]