Há sete anos ministro aulas participativas.
- Acredito que passei dos mil alunos em sala de aula com turmas menores e grupos de estudos presenciais ou pela Web.
- E dos 5 mil se for somar palestras em que participação não é tão intensa ou continuada.
O que é uma aula participativa?
Uma roda de alunos, na qual exponho minhas hipóteses sobre o mundo digital e discutimos para que eles questionem, tragam sugestões e avancemos juntos em o que achamos e o que devemos fazer para aumentar a eficiência destes projetos.
Na minha didática, todos, absolutamente todos, são chamados a opinar várias vezes em sala de aula para que possam comentar o que está sendo dito.
Eu passo a ser um professor compositor e não intérprete.
Sou obrigado a ser um pesquisador de um dado problema e desenvolvo minhas hipóteses junto com ele.
Não vejo como ter uma aula participativa sem um professor pesquisador.
Ou seja, minha aula não é apresentar o estado da arte do tema, mas o que eu pesquei do estado da arte, o que é bem diferente, pois trata-se de uma aula posicionada.
Não digo apenas o que os outros pensam, mas como eu penso, pois o foco da aula – e isso é fundamental – é um problema, para o qual devo ter as minhas hipóteses.
É uma pesquisa participativa, ativa coletiva em torno de um problema e suas possíveis soluções.
Assim, o que defendo é um olhar sobre o tema, mas que está aberto e em construção.
O que aprendi ao longo desse tempo é de que a aula participativa nos ensina como os alunos pensam sobre aquele problema, as resistências, as dificuldades, o que não foi ainda questionado.
Poderia dizer que criamos um diálogo no qual eu vou mostrando:
- – que é preciso apresentar argumentos para poder dialogar;
- – que os argumentos devem ser analisados de vários ângulos para ver se são sustentáveis;
- – que ambos os lados não podem trabalhar com o certo ou o errado;
- – e que estamos diante de nossas percepções e nunca da realidade, pois ela sempre será algo inatingível;
Deve haver a humildade de todos de que estamos em um estágio melhor que ontem e pior do que o amanhã.
O objetivo da conversar é ficarmos menos ingênuos e deixar menos ideias, conceitos, visões sem problematização.
Uma aula participativa, como tenho feito, dispensa o uso de novas tecnologias, ficamos apenas com as antigas: quadro negro, giz, cadeiras, luzes, fala e escuta.
O que destaco em uma aula participativa, a partir da conversa com os alunos é que em sala de aula aprendo como eles pensam, que é algo meio difícil em uma aula não-participativa, ou de discussões de assuntos fechados, do qual o professor é um conteudista, que já chega pronto e sai pronto.
Ou seja, crio um campo de estudo que é o seguinte:
- – as coisas que percebo da realidade fora da sala de aula (livros, experiências, vídeos, áudios, conversas);
- – as coisas que absorvo e escrevo do que eu percebi, geralmente nos meus diferentes canais (Youtube, blog e Facebook, Twitter).
- – e como os alunos pensam e reagem sobre estas percepções.
A percepção dos alunos é fundamental, pois é o parâmetro que tenho para entender como as verdades hegemônicas são absorvidas, até que ponto tem argumentos mais consistentes.
É um jogo, um aprendizado no qual como os alunos:
- – aprendo coisas que não conhecia;
- – sou questionado por argumentos que não estão ainda tão consistentes;
- – vejo novas formas de apresentar meus argumentos, na ordem, no jeito, para cada turma.
Acredito que na prática da aprendizagem participativa é fundamental, talvez o mais importante, é conhecer como meus alunos pensam e não deixá-los sair depois dos nossos encontros sem a problematização de vários pontos.
Note bem que não é um encontro de convencimento, mas de coo-vencimento, em que ambas as partes discutem o que pode ser melhorado nas percepções, pois a realidade continuará lá misteriosa.
Estamos apenas deixando de vê-la de forma mais bobinha.
Por fim, depois de ouvir esta entrevista (ver abaixo):
Diria que esse ciclo em que me coloquei:
pesquisa <-> aula participativa <-> registro em mídias sociais <-> volta para pesquisa
Tem aumentado algum campo de percepção no meu cérebro, pois tenho visto as coisas com mais clareza, pois é uma massagem constante do pensamento. É algo motivador que me coloca no que o Clóvis de Barros Filho chama muito bem de eudaimonia.
Assim, um professor de aulas participativas precisa ser um agente de mudança realmente interessado em ajudar a minimizar o sofrimento de um dado problema da sociedade, pois está em eterna construção, junto com os alunos, em uma luta contra a nossa ignorância, por percepções mais consistentes e problematizadas, que nos levem a melhorar a qualidade de trabalho diante daquele fenômeno específico.
É isso,
Que dizes?
Versão 1.0 – 24/10/2013 – Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.
Digo, que tudo foi dito. Que o caminho para a aquisição do conhecimento sobre o mundo contemporâneo é assim que deve ser feito.Construir, reconstruir, dialogar, soltar os bichos, destravar a alma e a boca. Fazer com nossos alunos sejam agentes e coagentes do seu próprio aprendizado. Claro, nunca nos esquecendo que há notadamente em muitos casos, uma certa displicência do docente. Há conteúdos que não mudam, as leis, as fómulas, as normas, enfim, é necessário que estes sejam passados de forma muito consistente e tradicional mesmo. Tenho de compreender e aprender só assim dou conta de melhorar a mim e ao próximo. Parabéns pelo belíssimo trabalho. Sucesso sempre!!!
[…] Reflexões sobre aulas participativas […]