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(Vou fazer uma palestra no Colégio Pedro II mês que vem e esse é um papo preparatório.)

Podemos, como vimos aqui, ver que ética é um trabalho individual de cada um de pensar suas atitudes em relação ao mundo.

Peguemos um exemplo prático.

No Brasil, até o final do século XIX, a escravidão era moralmente aceita, através de leis, inclusive.

Do ponto de vista moral, ninguém podia criticar o outro por ter um escravo (e até bater nele).

Era moralmente aceito.

Porém, começou na sociedade uma discussão ética sobre se era moralmente aceito ter escravo, pois partia-se do questionamento da filosofia aceita de que o negro não tinha alma, ou seja não era tão humano assim e, por causa disso, por ser meio-humano podia servir de escravo.

Ou seja, o questionamento contra a escravidão foi um questionamento ético sobre uma moral dominante.

Assim, o mundo é feito de morais constituídas que podem ser questionadas pela ética. Portanto, é importante que haja espaço de liberdade de expressões para que as morais passem por uma revisão ética o tempo todo, pois a moral é histórica e a revisão ética nos permite alterá-la.

Os valores éticos são mais permanentes e trabalham sempre de uma visão do que deve ser aceito como um alta taxa de humanidade e questionar as morais que nos impede de manter essa taxa lá em cima.

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(Bom lembrar que toda filosofia grega, que é a base da discussão ética, foi feita em uma sociedade escravagista.)

E para isso é importante que haja um espaço de liberdade de expressão para que novos discursos éticos possam questionar a moral vigente na sua base, o que nos leva a revisão moral e posteriormente a novas leis, tais como o fim da escravidão. Assim, o fim da escravidão se inicia com uma discussão ética em cima de uma moral estabelecida.

Uma nova moral só é criada quando pessoas conseguem transformar sua insatisfação com a moral  em algo que possa modificá-la. E há, obviamente, vários questionamentos possíveis em relação a ela:

  • –  Questionamento da moral SEM argumentos – extravasar o ódio/raiva de diferentes maneiras, violentamente, anonimamente;
  • Questionamento da moral COM argumentos – procurar criar argumentos para questioná-la e construir uma nova moral.

E aí, se formos pedir ajuda para o Freud teríamos três atores em ação, como falei mais aqui.

  • O superego atua com um representante da moral dentro de nós;
  • O ID como o nosso lado que quer extravasar sem parar para pensar;
  • E o ego é um regulador entre os outros dois.

Exemplo.

Tenho raiva de uma professora, o que é natural em qualquer escola.

loucura

O que faço?

  • Reclamo na direção sobre a prática dela em sala de aula, o que me exige argumentos, um trabalho, uma evolução do meu ego?
  • Xingo-a na porta do banheiro ou através de um panfleto anônimo na escola?

Note que a chance de haver mudança na primeira opção é muito maior do que a segunda, se houver espaço social para a revisão das morais existentes.

Não é a toa assim que na Constituição brasileira de 1988 o item que fala da liberdade de expressão vem junto com o veto ao anonimato. Ou seja, se eu permito que todos possam questionar a moral, eu exijo uma atitude ética para que os defensores da moral, ou os que estão nas instituições que seguem essa moral (a escola é uma delas) de qualquer moral, possam contrapor o novo questionamento ético.

Do ponto de vista do ID é mais fácil destruir, quebrar e se ocultar, porém não se tira dessa discussão nada que possa colaborar para uma nova moral, muitas vezes é o contrário, fortalece quem defende uma dada moral, ate injusta, tal como um professor agressivo, que continuará agressivo, talvez até com raiva.

Ou seja, o anonimato passa a ser imoral, pois vai contra o que todos aceitam como válido, mesmo que tenha alguma coisa ali, de injustiça não problematizada.

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Portanto, quando estamos na sociedade há diversas injustiças e elas nos incomodam.

As injustiças muitas vezes são moralmente aceitas, seja pelas leis, ou pela falta de cumprimento das mesmas.

  • Toda luta política é, assim,  uma luta contra uma determinada moral (seja uma lei ou a falta dela, ou o não cumprimento da mesma);
  • Mas nem toda luta política é uma luta ética.

Pois podemos ter uma luta política de uma moral contra outra moral.

Ou algo imoral contra uma moral injusta.

  • Um exemplo de algo moral x moral considerada injusta:

Eu não acho que os negros devem ser escravos, que tal os índios?

  • Um exemplo de algo imoral x moral considerada injusta

Eu não concordo com a sua visão moral, por isso vou jogar uma bomba na sua casa para você ver como tenho raiva e ódio da sua moral e vou matar você e seus filhos.

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A ética política é, a meu ver, a tentativa de combater uma moral injusta  que não use nem a imoralidade e nem a imposição de outra moral (sem argumentos) para se colocar no lugar, pois não seria uma ética que partiria de um ego mais amadurecido, apenas do ID ou do Superego, o que não aposta na sabedoria.

Cabe a ética apresentar argumentos que mostre o quanto uma determinada moral está causando sofrimento e pouca felicidade para a sociedade.

Para que possamos ser éticos, temos que amadurecer nosso ego e criar argumentos para que outras pessoas, igualmente éticas, possam, com seus egos amadurecidos, refletir sobre aquela moral e procurar questioná-la, o que eleva a taxa da humanidade.

A ética, portanto, é a tentativa que temos de refletir sobre um dado preceito moral e propor mudanças sociais, que consigam transformar o ódio/raiva, até moralmente aceitos, em algo que possa mudar a sociedade em direção a  novos preceitos morais.

Quando os Blackblocks, por exemplo, saem para a rua para quebrar vidraças, eles tem um discurso moral convincente, pois eles estão sendo oprimidos pelo sistema e querem mostrar o quanto estão com raiva.

Porém, do ponto de vista ético não estão colaborando para uma reflexão mais amadurecida por um conjunto de morais existentes. É uma expressão apenas do ID.

Eles estão usando fortemente o ID para expressar a sua raiva, o que nos leva para que o outro lado use o mesmo ID para revidar em um ciclo vicioso, do chamado dente por dente e olho por olho, gerando mais e mais uma baixa humanidade.

Os ativistas éticos que querem criar uma nova moral saem perdendo com isso.

Tais atos, digamos tão extremos, só se justificam eticamente se torna-se impossível a expressão para questionar morais em uma ditadura, por exemplo, o que não quer dizer que vá se matar gente por causa disso.

Há uma baixa sabedoria ética nessa ação, pois não há uma proposta que venha questionar a atual moral, apenas um registro, impulsionado pelo ID de querer expressar um ódio, que existe, é válido, inegável, mas eticamente é ineficaz, pois quer se destruir algo sem ter o que colocar no lugar.

Isso é moralmente inaceitável, pois nos leva a uma baixa taxa de humanidade.

Vamos continuar a reflexão depois.

Versão 1.0 – 24/10/2013 – Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação. – See more at: http://nepo.com.br/2013/10/24/ego-do-professor-e-aula-participativas/#sthash.AHsjnKks.dpuf

One Response to “Ética e luta política”

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