Versão 1.0 – 26/09/2013
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Tenho defendido há tempos a tese de que as mudanças cognitivas são fruto do aumento demográfico.
Vou apresentar abaixo um argumento de fácil compreensão.
Suponhamos que temos reuniões em um sindicato.
São diferentes reuniões de 10 pessoas, de 100, de 1.000 ou de 10.000, que alteram a forma como temos que estruturar as rede das verdade. Vamos ver abaixo o problema que o aumento das reuniões provoca em uma diferentes reuniões de um sindicato, por exemplo:
Note que quanto mais gente temos participando das reuniões haverá mais complexidade temos e, por tendência, a rede tende a ficar mais e mais verticalizada, perdendo a horizontalidade.
Ou seja, o primeiro remédio para a complexidade é a verticalização, mas com o tempo a verticalização vai criando um problema dos critérios de participação, pois teremos muita gente querendo falar, se expressar, se representar e um tempo cada vez menor para que se possa falar para todos.
Surge um impasse demográfico cognitivo.
O ambiente cognitivo não foi estruturado para lidar com o aumento da complexidade em curso.
O que vai acontecer é que haverá, com o tempo, uma latente crise de representação, que se caracteriza por muita gente querendo se expressar e esbarrando nos limites da capacidade das tecnologias de construção da verdade permitirem.
Há, assim, um limite da representação possível no modelo de cognição anterior e isso explica a demanda por uma Revolução Cognitiva, que traz para a sociedade tecnologias mais sofisticadas, que possam superar esse impasse.
O aumento da complexidade, voltando ao caso do sindicato, acaba por estabelecer critérios mais rígidos de quem vai tomar a palavra, pois existe uma relação entre o tempo disponível e o número de pessoas que vai ter espaço para falar.
O aumento demográfico no sindicato vai criando um problema de complexidade e que vai exigindo a sofisticação das tecnologias de produção da verdade e tensionando os critérios de participação, pois há mais gente querendo se expressar do que espaço para que todos o possam fazê-lo.
No livro de Clay Shirky “Here Comes Everybody”, na página 27, ele apresenta o seguinte gráfico:
É um estudo sobre complexidade, que apresenta três cenários, nos quais se estabelece uma regra de que quanto mais gente temos participando mais complexo fica o problema, porém não em uma escala de 1 para 1, mas quando aumentamos a complexidade aumenta mais rápido do que o seu tamanho.
Peguemos como exemplo agora algo maior como o aumento populacional na cidade do Rio de Janeiro, um dos lugares que teve mais adesão nos protestos de junho de 2013:
Note que de 1872 até 2010 (138 anos apenas) a cidade do Rio saltou de 275 mil para 6.300 um pulo de 23 vezes de tamanho, trazendo uma complexidade muito maior que 23 vezes, baseado na lógica apresentada por Shirky.
Temos, assim, muito mais gente querendo se expressar, com muito mais diversidade, do que o número de “microfones” disponíveis, o que nos leva naturalmente para uma crise de representação, tensionando os critérios de participação (vide, idem, Junho de 2013).
Podemos ainda definir dois momentos diferente desse impasse demográfico cognitivo:
- – os que são excepcionais – quando há uma reunião maior, tipo em uma greve;
- – e o corriqueiro – que precisa ser administrado permanentemente, como é o caso do número de associados, via jornal, internet, etc.
No caso de uma cidade, idem.
A população é permanente e precisa ter canais de participação cotidiana, como é o caso do 1746 (que recebe pedidos de solução de problemas também por aplicativos de celular) que foi criado recentemente no Rio e outra em épocas de de eleição, quando vem, a partir de critérios definidos, escolher quem vai “subir no carro de som” (Prefeito).
Essa necessidade de mudança cognitiva, pode ser compreendida melhor com a leitura do livro de Daniel Bell, “O avento da sociedade pós-industrial”, na página 197, ele lembra duas teses interessantes, do Galileu e do biólogo D´ArcyThomas. O conceito é de que um corpo vivo quando fica muito grande, pesado, tem que mudar de forma para sobreviver.
Uma melancia não nasce em árvore por causa disso, acabou se adaptando a algo mais compatível com seu peso.
(A exceção, no caso, é a jaca, com todos os problemas que isso acarreta para os carros que estacionam embaixo de uma jaqueira.)
Adaptando isso para nosso caso, podemos dizer que a complexidade demográfica vai pressionado o ambiente cognitivo para ir se sofisticando, até chegar a um novo modelo que permita resolver o problema dos critérios de produção da verdade e tomada de decisão (participação):
(Tempo de participação x espaço de participação x quantidade de pessoas) = tomada de decisões
Uma tecnologia cognitiva tal como um carro de som tem suas limitações de espaço de produção de verdades e tomada de decisão (participação). O carro de som não é perverso, assim como não são nem o rádio e nem a televisão, são apenas tecnologias cognitivas com suas limitações, que permitem, no caso do carro de som, a alguém falar algo para muita gente no mesmo tempo e no mesmo lugar para se informar verdades e tomar decisões, tal como continua ou termina a greve.
(Note que, por curiosidade, nas manifestações de Junho de 2013 houve uma luta dos participantes contra o carro de som, pois justamente estava se construindo, a partir de novas tecnologias, novas formas de interação entre as pessoas.)
A Internet representa essa passagem de uma tecnologia cognitiva nova que vem procurar resolver o problema de complexidade demográfica das cidades grandes, onde a maior parte dos 7 bilhões de habitantes vive, que saltaram de tamanho e precisam de novos instrumentos para resolver a tensão da participação, que ficou obsoleta no modelo atual.
A nova tecnologia permite/permitirá, pela ordem:
- – novas redes que abrem canais de produção de novas verdades de novas pessoas (Facebook, Youtube, Twitter, Blogs);
- – novos critérios para fazer a validação de quem está falando verdades mais qualificadas, através dos rastros digitais (comentários, estrelas, links, compartilhamentos, curtir).
Tais tecnologias criam um ambiente propício para o início da formulação de um novo modelo de governança da espécie que vem ao mundo para lidar com o aumento da complexidade, através de uma nova forma de produção da verdade e em última instância de tomada de decisões, minimizando, com isso, a atual crise de representação.
Por aí,
que dizes?
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[…] A demografia – para o aumento da taxa de complexidade no mundo e, por sua vez, por latências por mais e mais tecnologias sofisticadas (ver mais sobre complexidade demográfica aqui); […]