Versão 1.0 – 25/09/2013
Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.
Já detalhei a crise do monoteísmo impresso-eletrônico.
Agora, quero detalhar algo que percebo relevante: vivemos hoje a falsa ilusão da imortalidade.
Imortalidade das organizações e das pessoas.
Um mundo com forte controle das ideias, como é este que vivemos há uns 200 anos, principalmente depois da expansão do rádio e da televisão, criou uma falsa sensação de estabilidade.
Esta estabilidade é oriunda dos centros produtores da verdade, que foram tornando a vida algo previsível, criando na subjetividade das pessoas a falsa ilusão da eternidade, da falta de pressa, dos não-projetos pessoais, pois a vida é esta que está aí.
Tal sensação faz das pessoas objetos, pois seres vivos passam, objetos, nem tanto, demoram mais.
O que se passa é que as organizações são imortais, precisam apenas de pequenos ajustes e todo o tripé do aparato de produção da verdade estabelece, dentro dessa lógica, uma sinergia da inovação incremental, de pequenas mudanças, no máximo.
Há, entretanto, duas forças humanas que fazem com que as pessoas se sintam motivadas a querer mais, desde que haja algum espaço viável para isso, pois todos somos muito acomodados nos nossos hábitos:
- – a sensação de deixar um legado, que é a única forma saudável de enfrentar a angústia da morte;
- – e na mesma direção: sentir que no vazio da vida, no passatempo que escolhemos para passar os dias, não é tão insignificante, pois estamos fazendo algo para melhorar o mundo.
Antes da Revolução Cognitiva, tais premissas ocorriam em lugares muito isolados da sociedade, pois dependiam de visionários que ocupavam algum papel de destaque, tal como Ricardo Semler, que propunham modelos novos para organizações antigas. Porém, agora a inovação radical deixa de ser periférica e entra no rol das novas verdades emergencialmente pré-hegemônicas.
Ou seja, a atual Revolução Cognitiva abriu um novo campo para o fim da sensação da imortalidade organizacional, colocando a inovação radical como algo central para a competição das organizações e trazendo a questão da mortalidade para dentro da discussão das estratégias de recursos humanos.
As organizações começam a demandar inovações radicais, pois a sociedade está dando uma guinada para uma nova governança da espécie. As empresas de tecnologia primeiro e depois de todos os setores viverão de inovações radicais, pois a digitalização do mundo, com a criação de verdades cada vez mais líquidas, irá acelerar os negócios.
Um modelo Google, com seus brinquedos, será amanhã algo corriqueiro nos lugares mais conservadores, exigindo um perfil completamente diferente de profissional e de organizações. É resultado de um politeísmo generalizado, onde a verdade líquida precisa ser canalizada em projetos rápidos e colaborativos.
As manifestações de junho de 2013 no Brasil apontaram para essa direção.
- Quem continua a lembrar, já está na frente.
- Quem esqueceu e voltou aos velhos hábitos, está devendo.
Assim, vamos começar a ver cada vez mais organizações demandando na sociedade a radicalidade na educação, na mídia, no ambiente de trabalho, alterando o modus-operandi do monoteísmo atual para o politeísmo digital.
Tenho experimentado em sala de aula, como fator motivador para essa passagem da sensação da imortalidade para a mortalidade, através de introdução da filosofia, na qual introduzo a questão do propósito.
Tenho entrado na linha dos existencialistas, tais como Heidegger (“O humano é um projeto de humano que se constrói por iniciativa deste”) e Sartre (“Você é aquilo que fará com que querem que você seja/fosse”), que colocam a questão da morte e da liberdade como fatores estruturantes do ser humano.
A inovação radical que passará a ser um padrão pede uma mente existencialista.
Que dizes?
[…] Discuti mais sobre imortalidade aqui. […]