Versão 1.0 – 03/09/13
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Estive lendo o novo livro do Castells sobre as manifestações.
“Redes de indignação e esperança – Movimentos sociais na era da internet”.
Ouso afirmar que Castells analisa o novo fenômeno com teorias antigas.
E temos algumas discussões interessantes sobre isso.
- O que é uma teoria?
- Por que agora precisamos de novas teorias tanto na forma de como é feita/elaborada quanto no seu conteúdo para entender os fenômenos pós-Internet?
Uma teoria, aqui na rua, por enquanto, é a capacidade que temos de:
- Identificar os movimentos de equilíbrio e desequilíbrio de um dado ambiente analisado;
- Extrair um genoma das forças que provocam a mutação;
- Procurar este genoma na história para uma visão comparativa e mais segura;
- Colocar estas forças nos seus contextos comparativos;
- Por fim, diagnosticar, propor metodologias reparadoras do equilíbrio e, só então, fazer prognósticos.
Assim, novos fenômenos que causam desequilíbrio precisam passar por uma revisão teórica, pois as forças desequilibradoras não foram ainda estudadas com mais profundidade. É o que Thomas Kuhn chama de ciência extraordinária no lugar da ciência normal. Ou que Gaston Bachelard gosta de batizar como corte epistemológico.
NÃO ( e não em caixa alta e negrito) podemos analisar os atuais protestos em todo o mundo como se fossem forças estudadas pelas atuais ciências sociais (Revoluções cognitivas são fenômenos raros.). Como se fosse possível analisá-los com as velhas teorias, pois são forças que já existiam, mas eram apenas invisíveis para o nosso radar teórico. Não podemos achar que a ciência normal vai dar conta de algo tão diferente. Temos que partir para a ciência extraordinária, que podemos chamar, no caso agora, de Ciência Ninja. 😉
Há no conteúdo dos protestos mundiais (não líderes) e forma (velocidade/modelo) algo que chama a atenção pelo seu ineditismo.
Há assim um fenômeno novo que deve ser tratado de forma diferente pelas teorias.
É preciso procurar novas ferramentas com destaque o papel de mudanças radicais de tecnologias cognitivas e seus efeitos na sociedade.
Assim, urge uma nova teoria que promova revisão de forças antes invisíveis e a procura no passado de momentos similares para podermos fazer um prognóstico mais adequado, que é o objetivo principal de uma boa teoria.
Assim, colocando dessa maneira podemos dizer que os atuais protestos fazem parte de algo maior, aplicando o método:
- Identificar os movimentos de equilíbrio e desequilíbrio de um dado ambiente analisado;
- Por exemplo: o aumento demográfico, o surgimento de uma tecnologia cognitiva reintermediadora;
- Extrair um genoma das forças que provocam a mutação;
- Chegada de tecnologias cognitivas reintermediadoras na história;
- Procurar este genoma na história para uma visão comparativa e mais segura;
- Chegada do mundo oral, escrito, alfabeto, papel impresso;
- Colocar estas forças nos seus contextos comparativos;
- Na Europa pós-medieval, por exemplo, ou na Grécia pós alfabeto;
- Por fim, diagnosticar, propor metodologias reparadoras do equilíbrio e, só então, fazer prognósticos.
- Trata-se de uma revolução cognitiva, que vai mudar a sociedade, é preciso migrar para um novo modelo organizacional e vai alterar toda a sociedade.
Se analisarmos assim o livro do Castells é muito informativo, mas não nos dá a perspectiva futura. Paramos nele, pois não se está procurando uma teoria, apenas apresentar um cenário. Não está, portanto, muito distante da cobertura midiática.
Já disse aqui que em termos de preparação de futuro o trabalho de Lévy é muito mais eficaz para fazer prognósticos, pois o pesquisador canadense está propondo uma teoria (baseada na Escola de Toronto) e Castells está apenas registrando o fenômeno com muita informação (o que ele faz muito bem).
Agora, vamos a segunda questão:
Por que agora precisamos de novas teorias tanto na forma de como é feita quanto no seu conteúdo?
No caso específico do fenômeno tratado, estamos lidando com uma mudança na forma de se produzir conhecimento. Há hoje um novo modelo de produção, através de espaços abertos, colaborativos, interativos, que as mídias sociais permitem.
Obviamente, que um pesquisador poderá chegar a boas conclusões no modelo tradicional, mas terá um problema da lentidão da publicação, da falta de diálogo com seus interlocutores e precisará, isso é o mais grave, seguir os modelos padrões de citação, que impedem que se desgarre muito do que existe hoje.
O tempo de publicação de um blog de um canal do Youtube, as críticas que são feitas e o espaço de diálogo possível coloca as teorias expostas em uma berlinda virtuosa.
Ou seja, era o teatrólogo russo do início do século passado, Maiakovski que dizia que não há arte revolucionária sem uma forma compatível.Digo o mesmo sobre o atual momento e as teorias.
Não haverá uma teoria nova, se usarmos o mesmo modelo de produção das teorias, pois estamos entrando em um novo modo de produção de conhecimento, que exige que haja uma coerência entre o que se pensa e como se pensa.
Tal modelo conta, assim, com a colaboração de desconhecidos, sugerindo mudanças, novos autores, melhorias, mostrando contradições ao longo de todo o tempo.
É uma produção aberta, dialógica e contínua, com mudanças rápidas.
E talvez o mais importante: mostrando como nós pensamos e os que têm acesso ao conteúdo demonstram a cada dia quais são os nós cognitivos-afetivos mais relevantes a serem superados.
É preciso, assim, criar uma teoria extraordinária (como sugere Kuhn) se aproveitando da força da colaboração, por isso chamei de teoria ninja.
Algumas ideias que cheguei, até aqui no tempo só foram possíveis pelo intenso debate que consegui produzir a distância e de forma presencial com meus alunos e colaboradores conhecidos e desconhecidos.
Por aí…
Que dizes?
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