Versão 1.0 – 15/08/13
A base de criação de espaços de diálogo em ambientes de conhecimento exige, antes de tudo, que a verdade absoluta seja questionada.
Temos uma tradição das escolas religiosas pós medievais que criaram a filosofia das atuais, na qual há uma verdade inquestionável que vem de cima, de Deus, e que as pessoas precisam conhecê-la para disseminá-la.
A verdade é absoluta, pois não há diálogo com Deus, pois eles escolheu alguns para disseminar seu pensamento e são eles que multiplicam (eram padres e agora professores, tutores, palestrantes).
O modelo foi adotado pela sociedade, pois se encaixa bem em uma sociedade, que visa a conservação do modus operandi, de organizações verticais, no qual um grupo pequeno no topo pensa e o resto abaixo apenas executa sem questionar – ou seja, uma sociedade com forte controle de ideias. Não, não falo só de Brasil, mas de todo o mundo.
O modelo atual de verdades absolutas parte do principio de que “Ele” chamou alguém para conversar e psicografou sua mensagem para os “escolhidos” que, na sequência, foram repassando para autoridades no menor escalão.
Os saberes foram divididos em assuntos, não mais em problemas, para – teoricamente – facilitar a passagem, mas basicamente para conservar e reproduzir o modelo, pois o objetivo não é/era aprender para mudar, no qual problemas seriam mais eficazes, mas aprender para repetir, conservar. Tal demanda vem de uma sociedade/organizações verticais que aprenderam a viver e produzir em um mundo com ideias fortemente controladas e, por causa disso, mais estável.
O modelo que aprendemos de espaços de saber são de reprodução de um conhecimento inquestionável. Isso é/foi plantado desde criança e estabeleceu os métodos que temos hoje e não é só na escola. Em treinamentos corporativos, palestras, encontros, temos alguém que fala, que sabe mais e os que escutam – o Power Point é a ferramenta principal para a disseminação deste modelo
Hoje falamos em escola mais aberta, colaborativa, em inovação nas organizações, mas a base do problema é o modelo de governança analógica da sociedade e das organizações verticais e conservadoras. Só mudam, a partir da reunião de um “concílio” de cardeais e não com a troca com os fiéis, pois os fiéis precisam apenas ter fé na verdade e os que eles pensam (e dizem nos “confessionários”) não altera a palavra Dele.
Note que quando falamos em diálogo e se começa a entrar em um mundo de ideias descontroladas e mais instável, começa-se a ver que o veneno que distribuímos foi numa dose muito acima da aceitável!
A falta de diálogo nos ambientes de conhecimento, nos levou a um aprendizado baseado em assuntos e não em problemas e, portanto, na sequência: sem diálogo e, por sua vez, na falta de prática de construção de teorias, filosofias e metodologias mais conscientes, por fim, na capacidade de troca de argumentos.
Resumo da opera: estamos COMPLETAMENTE DESPREPARADOS para lidar em um mundo instável, em que se exige conversa, aprendizado coletivo, inovação e troca de argumentos o tempo todo – vide a dificuldade de se conversar no Facebook. A mídia de massa adora dizer que lá só se fala besteira, mas aquilo não é a gripe, mas apenas a febre da gripe do controle de ideias dos últimos 200 anos!!!
Nossa taxa de abstração e capacidade de comunicação está no rodapé da porta! O atual modelo da falta de conversa foi muito bem plantado cognitivamente e afetivamente nas pessoas.
- Não se pergunta para alguém sua opinião, se não se quer ouvir.
- E não se ouve alguém se não há espaço para mudar, mesmo que o que se escute faça sentido;
- Pior, quando se tenta escutar, ninguém consegue argumentar e dialogar, pois não fomos preparados para lidar com esse ambiente mais horizontal. Um caos!
Ou seja, é um projeto integrado, novos ambientes de ensino para uma nova sociedade em novas organizações. Uma coisa puxa a outra e uma coisa impede a outra. Dessa maneira. Se pensarmos uma nova escola para a atual sociedade, não faz sentido. Assim, como não faz pensar a nova sociedade emergente com a atual escola. Temos que criar zonas de inovação para sair dessa sinuca de bico.
Consegue-se tal controle através da criação de um respeito pela autoridade que chega, pois “ela sabe” e você “não sabe” e precisa ter humildade para aceitar o que ela diz, mesmo que diga algo que já mudou, ou que diga de uma forma que não faça sentido, ou seja completamente inútil para a vida lá fora.
Quando pensamos em novos ambientes de ensino, fala-se tudo, coloca-se a tecnologia que for, cria-se o cenário que for, mas não se muda a relação da verdade absoluta x ambiente apenas receptor de verdades e não produtor das mesmas.
Ou seja, construímos ambientes de repasse de conhecimento para “transmitir” e não produzir conhecimento. Um ambiente de diálogo pede que se converse para pensar, analisar problemas relevantes e, a partir daí, construir saídas, baseada em argumentos. Precisamos retornar ao racionalismo pós medieval, no qual iremos, de novo, repensar como pensamos e ver que o modo que pensamos hoje é fruto das ideias plantadas, emocionais, baseado na falsa-aparência das autoridades e não pensadas por cada um. Por isso, pede-se TRANS-aparência, o que está além do que se vê.
Estamos saindo de ambientes de ensino neo-medievais para neo-digitais-iluministas.
Assim, pensar em modelos mais horizontais de ensino e mais dialógicos, significa romper com algo muito básico da sociedade, a ideia da verdade divina que vem do alto, da qual todos devemos seguir sem questionar e repetir. É o modelo da governança atual vertical analógica para a nova governança digital mais horizontal, na qual as organizações não dizem sozinhas como se faz, mas fazem junto com os colaboradores e consumidores. A nova escola tem que preparar os jovens para ESTE NOVO MODELO DE ORGANIZAÇÕES.
O caminho vai ser longo, mas é emergencialmente necessário!
Por fim, posso afirmar que tecnologias cognitivas definem o modelo dos ambientes de conhecimento com mais ou menos diálogo, pois quando elas aparecem vêm para desconstruir a sociedade e montar modelos de escolas abertas, como foram os aprendizados iluministas bem dialógicos, antes de massificar e verticalizar como foi feito pós-Revolução Francesa.
Agora, estamos vivendo essa passagem da demanda da sociedade pela volta da escola mais aberta para lidar comum mundo mais instável, que pede cidadãos mais inovadores.
Mas isso vou desenvolver depois.
É isso, que dizes?