Se a gestão do conhecimento não fizer uma revisão conceitual tende a agravar mais e mais a crise que está vivendo, atrapalhando muito mais do que ajudando as organizações.
Versão 1.0 – 25 de setembro de 2012
Rascunho – colabore na revisão.
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Esta semana estarei fazendo palestra sobre Gestão do Conhecimento na Transpetro.
O que vou dizer por lá?
(Vou gravar e depois coloco aqui.)
A gestão de conhecimento, apesar de algumas dúvidas, é apenas uma metodologia.
(É uma macro-metodologia, pois quer tirar a organização de um tempo presente para uma visão futura, mas isso falo amanhã.)
Como disse aqui, uma metodologia é uma linguiça de frango, na qual está embutida o ovo e o frango.
- O ovo é a filosofia.
- O frango a teoria.
- E a linguiça de frango uma metodologia, que contém os outros dois e que procura, tornar uma visão de cenário, em realidade.
Uma metodologia eficaz é aquela que consegue um bom alinhamento (sempre em revisão) entre o ovo, o frango e a linguiça.
A gestão do conhecimento parte da ideia – o que fez um certo sentido – de que estávamos/estamos vivendo dentro das organizações algo diferente, a partir das últimas décadas do século XX.
O frango/teoria se baseava na hipótese de que estávamos passando da sociedade industrial para algo diferente que foi batizada de sociedade do conhecimento, na qual a força do trabalho com ideias tem mais peso para gerar valor, do que a força do trabalho braçal.
(Há um mérito relevante, o que ajudou a tirar as organizações de um certo acomodamento.)
Ou seja, quando falamos que estamos entrando na sociedade do conhecimento, partimos do princípio de que é esta a principal característica da nova sociedade e é para lá que estamos indo e um conjunto de ações articuladas dentro das organizações, que ganhou o nome de Gestão de Conhecimento, nos ajudarão a chegar lá.
Mas se o diagnóstico da sociedade do conhecimento estiver equivocado?
Todo o conjunto de ações, incluindo tecnologias, pode nos levar para um caminho equivocado!
Este é o ponto que questiono: a hipótese da sociedade do conhecimento, a meu ver, é pouco consistente.
Bom, diante disso, criou-se, assim, a gestão do conhecimento, uma metodologia para alinhar o passado (industrial/produtos tangíveis) para o futuro (organizações do conhecimento/produtos cada vez mais intangíveis com mais valor intelectual embutido).
Acredito que várias percepções dessa visão batem com a realidade, pois as organizações precisam de fato mudar para se adaptar a um mundo completamente diferente, para o qual estamos entrando: mutante, horizontal, colaborativo.
Mas será o do conhecimento?
A pergunta que não quer calar, entretanto, é se, realmente, o diagnóstico feito lá atrás, que deu origem a todo o resto, a da teoria sociedade do conhecimento faz tanto sentido assim depois da chegada da Internet e as diferentes interpretações que suscitou.
Se algumas premissas dessa visão são equivocadas (filosofia/teoria) a metodologia pode muitas vezes não ajudar como poderia ou até atrapalhar, se não for submetida o tempo todo a revisões filosóficas/teóricas à luz da experiência.
Assim, alguns problemas se colocam e perguntas são feitas e nem sempre bem respondidas no cotidiano da implantação da gestão do conhecimento, pois vê-se em questões práticas os “buracos” teóricos:
- – a gestão do conhecimento deve ser um projeto (com início, meio ou fim) ou um departamento?
- – é algo que pode ser feito por algumas pessoas dentro da organização ou por toda a organização?
- – qual a diferença entre gestão de inovação e do conhecimento?
- – como se relacionam gestão do conhecimento e educação corporativa (que é também conhecimento)?
- – e com a gestão de informação?
- – e, por fim, como se relaciona gestão do conhecimento com os novos projetos de redes sociais corporativas, ou Intranet 2.0 participativas?
Tais perguntas são difíceis de responder e muitas vezes evitadas, pois demandam uma revisão teórica, que nem sempre se consegue/quer fazer, ainda mais se encara-se a metodologia como filosofia, de forma dogmática.
Assim, defendo que a metodologia “gestão do conhecimento” deve voltar para o laboratório teórico/filosófico para ganhar um banho de loja e voltar com outra roupagem (com outro nome?), pois vou afirmar que AS PREMISSAS TEÓRICAS ESTÃO E ESTAVAM EQUIVOCADAS!
O que acho que precisamos rever no laboratório?
- 1) Filosoficamente, o ser humano não varia taxas de conhecimento, ao longo da história. Cada sociedade tem a taxa de conhecimento que precisa, merece, consegue utilizar, em função do ambiente cognitivo/econômico/social/político. Assim, acredito ser falsa a afirmação de que agora somos (sem argumento sólidos) os super-humanos do conhecimento. Tudo que não se repete na história, tende a ser algo falso. pois já estamos há muito tempo nesse mundo para trazer algo completamente novo;
- 2) Teoricamente, as forças relevantes que estão mudando a sociedade são, a meu ver: o aumento radical da população (de 1 para 7 bi em 200 anos), que criou latência e pressão inovadora em todo o ambiente produtivo, que resultou no surgimento espontâneo de tecnologias cognitivas, que surgem para procurar ajudar a fazer mais com menos e mais rápido. Assim, o que achamos que era a sociedade do conhecimento, é, na verdade, a sociedade digital, com o computador de grande porte, a partir de 1940, criando mais e mais intangibilidade no mundo, explodindo agora com a Internet colaborativa;
- 3) Metodologicamente, portanto, o alinhamento necessário não é à Sociedade do Conhecimento, mas à Sociedade Digital e agora à Sociedade Digital em Rede colaborativa, o que nos leva para uma ação bem diferente do que a GC está propondo nas organizações. Por isso, que projetos de redes sociais corporativos estão “brigando” com os de GC, bem como os de inovação, de educação corporativa, de informação, etc…
As bases filosóficas e teóricas da GC foram criadas em um momento do mundo em que se precisava-se agir, a partir de alguns parâmetros, pré-Internet, porém, hoje com os pensadores que já temos (McLuhan (revisitado), Lévy, Rifkin, Tapscott, Longo) está mais claro que a visão econômica como grande fator central de mudança do mundo deve ceder lugar à visão cognitiva, que é uma força mais determinante numa grande ruptura de ambiente como a atual, tal qual estamos assistindo com a chegada da rede digital.
Ou seja, na história (que nos ajuda) é possível identificar que quando mudam as tecnologias cognitivas, ainda mais com descontrole de ideias (como foi com a escrita impressa e agora a Internet), a economia, a política, a sociedade e as organizações se adaptam a esta e não o contrário. Parece-me algo mais consistente para basear argumentos lógicos.
Tal revisão conceitual, nos leva a pensar em uma nova metodologia, pois a necessidade de alinhamento é outro, pois o ovo, a galinha e a linguiça têm uma relação distinta da que imaginávamos.
Precisamos sim alinhar as organizações ao mundo digital em rede colaborativa, a uma nova topologia menos vertical e mais horizontal, que estão contidas na GC, mas por um viés completamente distinto, pois as tecnologias são completamente outras.
Os adolescentes estão nos ensinando como resolver problemas que pareciam complexos.
Se a gestão do conhecimento não fizer essa revisão conceitual profunda e aproveitar tudo que já foi acumulado, principalmente seus profissionais altamente capacitados, tende a agravar mais e mais a crise que está vivendo e atrapalhar – muito mais do que ajudar – as organizações que precisam ir para outra direção – rumo à sociedade digital em rede e não para a sociedade do conhecimento!
Uma linguiça não pode, de forma alguma acreditar que ela é o ovo e o frango, mas sempre saber que veio do ovo e do frango. E se algo não está dando certo é preciso rever suas origens e práticas.
Mas isso não está sendo feito.
Porquê?
Formou-se um corpo de profissionais que defende a metodologia como se fosse filosofia/teoria, não conseguindo refazer o caminho, perdendo o foco principal que é o de alinhamento das organizações ao mundo futuro.
Alinhar as organizações ao presente e ao futuro sempre foi o objetivo de hoje e sempre será dos profissionais de gestão, ainda mais num mundo cada vez mais mutante.
Somos, é bom lembrar, antes de tudo, profissionais de gestão.
E a gestão sempre será a que o mundo do lado de fora exigir e não o contrário, como estamos insistindo.
Hora de aceitar pegar o retorno.
Que dizes?
[…] o artigo original neste link, no blog do próprio Nepomuceno, mas tomo a liberdade de reproduzi-lo aqui, como foi feito com os […]
Nepo,
Nesse caso então a antiga metodologia de GC , que desconsidera fatores históricos de mudança na comunicação, necessita inserir de forma a transformar conceitos iniciais e até nomenclaturas, conceitos das novas redes cognitivas ?
Esse novo conceito estaria ligado a “desierarquização” do conhecimento nas empresas e a troca por modelos colaborativos?