Note que estudamos assuntos. Somos viciados em estudar assuntos, que são alienantes.
Assuntos nos permitem estudar algo a vida toda e ninguém vai nos incomodar, pois assunto não tem métrica, cheiro, impacto na sociedade.
Assuntos são típicos de um momento em que a sociedade vive uma época de contração das ideias, estável, em que as pessoas vivem seus sofrimentos de formas isolada e sem canais para criar alternativas e protestar.
Os assuntos são uma forma de criar uma fumaça na sociedade para deixar problemas de alta qualidade de lado. Problemas de alta qualidade são aqueles que geram mais sofrimento.
Uma organização que se dedica a assuntos é uma organização morta e pouco preparada para um mundo mutante.
Nossas escolas hoje são assuntológicas.
Imagina-se algo como uma montanha.
Os problemas estão no topo e você tem que subir uma montanha inteira para só quando chegar lá em cima, já com todos os assuntos dominados, começar a ter contato com problemas.
Um exemplo cruel e escandaloso é, por exemplo, o ensino de português, uma língua burocrática, difícil, feita para nobres dizerem para a plebe que eles nunca vão conseguir chegar lá.
O português é uma língua, portanto, de berço autoritária.
E aí temos dois caminhos para ajudar as pessoas com o português:
- – Método assuntos – ensina-se todas as regras para quando a pessoa sair da escola poder conhecer as regras e, só então, estar preparada para usar o idioma;
- – Método problemas – vais direto no que pega, que é aprender a ler, falar e escrever e as regras são ensinadas, a partir das dificuldades.
Note que o ensino por assuntos puxa pela memória e pela alienação.
O aluno aprende as regras e depois tem dificuldade em se expressar. E tem que fazer ele mesmo a ponte entre uma ponta e outra.
A problemologia visa atacar o problema e trazer as regras, a partir de sua necessidade para que o aluno saiba o benefício da regra para que ele fale, escreva ou compreenda melhor.
Assim, ele vai se capacitando para entender que as regras não são para atrapalhá-lo, mas uma necessidade para que haja um entendimento e elas só serão usadas e aprendidas na necessidade.
O problema é que o ensino de português visa que o aluno seja um pequeno professor de português e não um usuário da língua.
O resultado é que temos anos perdidos para regras que são esquecidas e pessoas saindo da escola sem capacidade de receber e produzir informação, seja escrita e oral.
É um exemplo típico do problema da assuntologia para a problemologia.
O que se dá no português ocorre em todo o resto.
Esquecemos que as ciências, como diz Popper, não é feita de assuntos, mas de problemas.
O primeiro ser humano quando pensou em desenvolver uma metodologia ou uma tecnologia tinha um problema para resolver.
A ciência nasce justamente nesta sequência:
Sofrimento -> Problema -> Solução
O problema que hoje, por causa da contração cognitiva, fomos deixando os sofrimentos de lado, os problemas passaram a ser de baixa qualidade e a solução foi sendo fechada a sete chaves.
Ou seja, as organizações de ensino se voltaram para assuntos, que são problemas empredados.
Por aí,
que dizes?
Versão 1.0 – 27/11/2013 – Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.
[…] (Discuti mais a abordagem de problemas ao invés de assuntos, aqui.) […]