Parece até evidente a olho nu que a população que aumenta tende a ser o principal fator do aumento do volume de demandas sociais. Cada novo cidadão cria demandas para a sociedade que não só são inevitáveis, mas permanentes, empurrando o problema para os setores produtivos.
Versão 1.0 – 23 de agosto de 2012
Rascunho – colabore na revisão.
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Debati aqui entre os amigos a hipótese que um dos principais fatores da atual onda de desintermediação do mundo é o radical aumento populacional.
Veja o post aqui.
Os comentários giraram em algumas questões interessantes:
- Há essa relação?
- É possível comprovar?
- De que adianta, qual relevância, mesmo que haja a relação, de tal hipótese?
- Como são os efeitos desse movimento macro no micro?
- Tem sentido em falar em um processo de desintermediação global, se tudo é tão diferente em cada local?
Gosto do conceito de Marcelo Gleiser de extrapolação científica, defendida na Folha, no dia 19/08/2012.
Ele diz, destaco em negrito alguns trechos:
¨A crença do cientista se manifesta de forma clara quando faz uma extrapolação de uma teoria ou modelo além de seus limites testados. Por exemplo, ao afirmar que “a gravidade atua da mesma forma em todo o Universo”, ou “a teoria da evolução por seleção natural se aplica a todas as formas de vida, inclusive as extraterrestres”, não sabemos se essas extrapolações são verdadeiras. Mas, dado o sucesso das teorias em que se baseiam, vale a pena apostar nelas. Testes futuros confirmarão (ou não) a veracidade da extrapolação. Sem esse tipo de fé no poder da extrapolação, a ciência não avançaria”.
Assim, a teoria dos efeitos da ¨demografia cognitiva” na sociedade estaria dentro da ideia de uma extrapolação teórica.
Muitos podem dizer, que, assim, qualquer um pode criar a sua extrapolação teórica e isso tudo entraria para uma vala comum de extrapoladores lunáticos e viajantes.
Sim, mas podemos dizer que há taxas de extrapolações diferentes.
Se dissermos que a desintermediação atual é algo relacionado ao aquecimento global, ou ao terremoto japonês, ou a movimentação das placas tectônicas, pela lógica, não faz sentido, não há indícios, que possa ser algo que vale o investimento na pesquisa.
O que trabalhei na minha tese de doutorado inicia a preparação nessa direção, o que acabou não dando tempo, o que era trabalhar num pós-doutorado.
Alguns fatos já levantados, que seriam as bases para a pesquisa do pós-doc:
- Fato 1: o aumento populacional teve um salto nos últimos 200 anos, de 1 para 7 bilhões;
- Fato 2: no início de outro ciclo de desintermediação, por volta de 1450, com a chegada do livro impresso também a população havia dobrado;
- Fato 3: estudos de Galileu e Thompson, apresentados por Daniel Bell, no livro “Sociedade pós-industrial” apontam que qualquer organismo vivo que aumenta muito o volume a ser administrado, para não entrar em crise, muda de forma – não dizem para qual, apenas que muda, o que estabelece a relação entre aumento e mudança;
- Fato 4: pesquisas na Ciência da Informação do pessoal que estudou sistemas, destaco Vânia Araújo, afirma que há momentos de crises sistêmicas, nas quais os ambientes entram em entropia por falta de condições de gerenciar um radical aumento de volume.
Assim, e isso trabalhei na minha tese de doutorado, podemos dizer que a ideia de crises no ambiente pelo aumento de volume não é algo novo.
O que estou a acrescentar é:
- População sempre será o principal elemento de aumento de oferta e demanda (isso parece algo simples de ser comprovado);
- Que esse aumento nos leva a procurar novas formas (podem ser várias), mas em algum momento a desintermediação é uma delas, sendo a mais radical, pois muda o modelo de gestão do ambiente, pois muda a forma de controle e, portanto, o poder.
Parece até evidente a olho nu que a população que aumenta tende a ser o principal fator do aumento do volume de demandas sociais. Cada novo cidadão cria demandas para a sociedade que não só são inevitáveis, mas permanentes, empurrando o problema para os setores produtivos.
Não há como retirar esse fator do ambiente depois que é colocado.
Se analisarmos cada habitante, as demandas que traz e o volume informacional que passamos a ter para que tal latência seja atendida, temos um problema de gestão não só de informação, mas de gestão para atender a esse aumento de volume.
Clay Shirky no livro dele “Here Comes Everybody” afirma que o aumento de volume não só traz um problema de quantidade, mas de complexidade.
Assim, essa hipótese iria se consolidando como uma extrapolação com uma taxa alta de possibilidade de fazer algum sentido, que precisa ser aperfeiçoada.
Como comprovar?
Não há fenômenos macros, que não ocorram no micro – são relacionados.
Não teríamos como fazer essa comprovação apenas estudando a história, indo para trás em outras rutpuras desintermediadoras, como a chegada da escrita na Grécia, por exemplo, e resgatar aumentos populacionais.
Chegaríamos, talvez, a uma rua sem saída.
Porém, podemos estudar micro comunidades, até de animais.
Se aumentarmos a população gradualmente, ou analisarmos aumento de população em dada cidade, podemos analisar como ações de atendimento da população tiveram que mudar e se nessas mudanças para fugir das crises, através de processos desintermediadores, tanto na informação, como na gestão dos processos.
- Podemos pensar em aumentos radicais, tal com Macaé;
- Ou aumentos mais suaves, graduais.
Ou analisar organizações que cresceram muito rápido.
- Note que o aumento de volume e de oferta e demanda – gera crises naturais.
- O que se tem que analisar é o momento, se continua a crise, ou se foi superada.
- Se sim, como?
- E se nesse como tivemos desintermediação.
Por fim, se nessa desintermediação houve a necessidade de tecnologias cognitivas desintermediadoras.
Assim, poderia ir se construindo variantes nessa extrapolação geral.
Se a hipótese estiver correta, caíramos SIM para um determinismo demográfico, que vai incomodar muita gente, mas nos levaria a construir a ideia de que a democracia, ou as revoluções desintermediadoras em torno de 1800, foram respostas humanas a dois fenômenos:
O aumento da população + a chegada do papel impresso = que nos levaram a um novo ciclo de desintermediação.
Se isso se mostrar, digamos, uma regra, ou uma lei universal, nos colocaria como desdobramento futuro com o atual salto demográfico e a Internet em uma onda geral de desintermediação, que nos levaria a mudanças de gestão social em direção à intermediação e mudanças radicais na gestão social, incluindo política, com novos modelos organizacionais, sociais e políticos.
Seríamos muito mais animais do que pensamos, muito mais biológicos, como uma onda de vários pensadores está apontando com o avanço do estudo em várias áreas.
Assim, a aplicação dessa relação de causa e efeito nos daria possibilidade de aplicação dessa macro-tendência desintermediadora em cada ambiente micro, incluindo quais as variantes das outras ciências nos ajudaria a ver quais as outras causas.
Para fechar um exemplo da relação do micro com o macro.
Os movimentos políticos desintermediadores chamados “primaveras” ocorreram sob forte influência da Internet, mas ocorreram em locais onde havia desemprego e uma nova geração mais capacitada do que seu pais.
Por enquanto,
é isso.
Grato aos amigos que me ajudam a pensar.
Gostei do texto e da fotografias. Parabéns. Maria Augusta Freitas.
Comecei a ter contato com suas “extrapolações teóricas” há pouco tempo. Acho interessante sua hipótese mas pesquisas relacionadas a progressão da população humana indicam que esta cresce cada vez mais lentamente. Meu embasamento teórico se dá no entrecruzamento da psicologia,educação e as TIC. Creio ( seria uma extrapolação teórica?) que a concentração populacional em micro-espaços poderia ser uma questão interessante para estudos colaborativos.
Abraço
Rosalia Rocha
a cada curva demográfica varia pelas condições sociais do país em questão, evidentemente…porém os países que andam em função ascendente, como a Índia, que (dizem) superará a China em pouco tempo, levantam mais o valor absoluto daqueles que estão em leve curva descendente…
Isso sem contar que as condições de saúde são cada vez menos precárias e as pessoas vivem mais, vide a diminuição da AIDS com a camisinha na África e no Brasil tb (pra citar um exemplo), diminuição da prevalência de doenças endêmicas nos países tropicais, penicilina, etc, etc…
Pode-se dizer, de maneira genérica, que a população aumenta no mundo…por mais que esse aumento seja menos vertiginoso que há 100 ou 50 anos atrás…
Também, nos grandes centros a população tende a aumentar, pelo menos nos EUA, França, Inglaterra e Espanha pela imigração…e nas metrópoles brasileiras, pela migração de outros estados e de latinoamericanos, particularmente…
De fato, não é uma curva exponencial que vai ao teto, mas é seguro dizer que carga populacional nos grande centros democráticos (caso se julgue esses países democráticos) exerce uma “pressão”, melhor, cria demandas em maior número e complexidade do que se tem notícia há algum tempo atrás…
É justo dizer que essa demanda existe, por mais que não possa ser generalizada…
Existe o fator, que não é somente numérico, do cansaço das pessoas com as instituições, a burocracia e a ineficiência reafirmadas a cada ano…
acho interessante ROSALIA essa discussão se estamos aqui discutindo micro ou macroespaços…mas não vejo, porém, uma grande segmentação entre eles, até pq moldes aceitos e elogiados, costumam ser replicados…
como me mostra a biologia, pelo menos.
creio que o Nepô fala um pouco mais disso no pequeno texto:
http://nepo.com.br/2012/09/21/a-pandemia-reintermediadora/
um bjo e um abço pra tods,
Jonas
Rosalia, digamos que temos o passado e o futuro.
Às vezes, me questionam isso: ah, mas a taxa de crescimento vem diminuindo, mas temos um enorme passivo.
O modelo de gestão – controlado do jeito que é – não está se mostrando eficaz para tanta gente. E sim o modelo deveria servir tanto no micro quanto no macro.
Se organizarmos um churrasco para 20 pessoas é uma coisa para 200 é outra. O modelo de gestão será diferente, necessitando, reintermediar algumas coisas, concordas?
Desculpe a demora em responder.
Valeu visita e comentários.
Jonas, valeu a força!