Há no país uma gravidez de novo espaço político – um dia nasce – Nepô – da safra 2011;
Versão 1.3 – 01/11/2011 (em processo de revisão)
Há articulações em curso de diferentes forças que visam incorporar as redes sociais à vida política dos partidos.
Há articulações, inclusive, na criação de um partido 2.0, ou do movimento Nova Política, em torno do grupo de Marina Silva.
É preciso, entretanto, analisar que as redes sociais, ao longo do tempo, serão uma nova forma do cidadão se relacionar com tudo, inclusive com a política.
Há um fator inevitável em tudo que estamos vivendo com a Internet que é algo que temos dificuldade em aceitar.
Achamos curiosidade aquilo que é o futuro.
Há, portanto, por tendência, a médio prazo (quanto tempo? Não sei.) à incorporação das mesmas em todos os partidos, através da fundação de uma nova neo-república 2.0 digital em rede.
Como ocorreu com a República no passado, é algo que vem aos poucos, vai se espalhando e sendo aceita aqui ali, passando de alternativa a hegemônico, de heterodoxo a ortodoxo.
Os atuais movimentos de rua dos jovens (EUA, Espanha, Países Árabes) apontam nessa direção.
Estamos vivendo, assim, um pré-movimento de refundação da república, pois a que está aí, obrigado, já deu o que tinha que dar, como dizem as ruas:
“Não sabemos o que é, mas temos a certeza que não é isso que está aí!”
Há um fato inegável: a população cresceu em tamanho e o modelo de representação democrática, baseado na Revolução Francesa, de 200 anos atrás, ficou obsoleto.
Pede-se mais democracia, um modelo novo, que possa recuperar o espaço público na vida política, que os interesses do coletivo voltem a ser mais representados do que são hoje. Pressente-se que não há democracia política (participação nas ideias) sem democracia econômica, (participação nos recursos gerados).
Não temos mais instrumentos para impedir a alta taxa de ganância dos nossos representantes e dos interesses próprios e privados (principalmente o financeiro) que eles passaram a representar, em detrimento da vontade da maioria.
Há um fosso entre o cidadão/cidadã e seu representantes cheio de jacarés.
Ou seja, estão definindo o rumo das nossas vidas sem que possamos usar o mouse e o teclado para ter melhor controle. É como se a sociedade tivesse um vírus, que age na nossa tela sem que possamos controlá-la do jeito que gostaríamos.
Essa expressão de desejo e expressão compõe o papel do espaço público da política: o coletivo, ou os coletivos, poderem ter voz e ação de representação e mudarem o que causa sofrimento generalizado sem necessidade.
Estamos, portanto, de mouses atados!
As tecnologias em rede podem ajudar E MUITO nessa oxigenação social. Aliás, vivemos um ajustes sistêmico massificado e coletivo inconsciente que veio justamente arrumar vários cômodos da casa da mãe joana 1.0.
Permitem mais transparência, controle e articulação política de forma mais fácil e barata para a sociedade. Ou sejam, são um potencial a ser utilizado!
Assim, talvez, o partido/movimento 2.0 seja mais uma articulação neo-republicana (2.0), que vai priorizar como bandeira a refundação da república em novas bases, reduzindo a taxa de ganância, que um ambiente midiático controlado consegue manter alta.
(Veja mais sobre taxa de ganância aqui.)
É um forte instrumento de geração de transparência, desintermediação e controle social sobre os nossos representantes.
Em resumo: novo tipo de controle social mais desintermediado na sociedade, eliminação de atravessadores obsoletos e o empoderamento das pontas.
Vivemos o início de uma frente cidadã, liderada pelos mais jovens, com vontade de procurar novas formas representativas, via novas tecnologias em rede, através de uma revisão profunda no modo de pensar e fazer política.
Uma frente pró- república 2.0.
Esse movimento tem algo similar às origens do PT.
O PT também foi uma frente de correntes de esquerda, pós-democratização, que ao chegar ao poder, acabou por se dividiu em várias posições distintas. Tal fato, deu origem a vários partidos que não aceitaram sua nova posição, tal como o PSOL ou o PSTU.
Ou a migração de militantes para outros partidos ou postura neutra, que podem agora aderir a um movimento 2.0, como esse que está aí.
Ou ainda mais atrás a frente formada pelo MDB, de oposição contra a ditadura, se desdobrou no próprio PT, gerou o PSDB e o atual PMDB.
Ou ainda mais atrás, com os partidos republicanos, no fim do século X (Partido Republicano Paulista (PRP) e Partido Republicano Mineiro (PRM), antes e depois da proclamação da república, que procuravam definir um modelo do melhor regime a ser utilizado pelo país.
(Ver mais.)
O novo partido/movimento, a meu ver, deveria, além de fundar uma nova forma de fazer política, rever mentalidades centralizadoras, autoritárias e incompatíveis com um movimento em rede desintermediado do século passado.
Alguns pontos para se pensar com mais cuidado seriam:
Capitalismo 2.0 (organizações públicas e privadas)
Um novo partido aceitaria o capitalismo como um processo em construção, com suas falhas, passível de ajustes, apesar dos problemas conhecidos e inegáveis. Deveria assumir também a tarefa de melhorá-lo e reconhecê-lo como a forma mais dinâmica para atender demandas da sociedade, através das leis do mercado, mas introduzindo o conceito de mercado social.
É preciso incentivar macro-ajustes, com foco maior na contenção das ganâncias das organizações, (principalmente as financeira), os cartéis privados e públicos e a ineficiência público e privada. Ou seja, resgatar os princípios do próprio capitalismo.
A questão é tentar garantir organizações (públicas ou privadas) não voltadas para elas mesmo, sem compromisso com a vida em sociedade, incluindo a preservação do planeta e um lucro menos tóxicos e mais social.
Assim, acabar com a falsa polêmica do tamanho do estado, mas a preservação de organizações privadas ou públicas eficientes com forte cobrança social para que funcionem com qualidade.
Hoje, o Brasil vive um estado ineficiente (sem ferramentas de pressão e controle de dentro para dentro e de fora para dentro) e uma competição privada ainda nas fraldas e com agências reguladoras sem representar devidamente o consumidor/cidadão.
Devemos sair do debate vazio (privado x público – grande e pequeno) para o da eficiência acima de tudo. Deve-se, como defendia o Betinho, defendermos empresas públicas (sejam elas privadas ou estatais).
Funda-se, assim, nova forma de gerir as organizações, tendo um preceito de eficiência e garantia de concorrência para aprimorar o serviço, com intensa fiscalização do cidadão/consumidor, através de tecnologias em rede, com mais colaboração (co-criação) e transparência.
Bandeiras 2.0
O novo partido/movimento 2.0 seria deve ter como base uma nova forma de se fazer política, para fundar uma nova república e procurar trazer ao mundo questões que não estão sendo priorizadas na pauta dos políticos de plantão: inclusão social com respeito ecológico, que sirva tanto para a auto-determinação política, quanto econômica.
Não podemos achar que a inclusão social no Brasil só rima com paternalismo!
Organização interna 2.0
Note que o PT teve bastante sucesso e conseguiu chegar ao poder, entre outras coisas, devido à maneira que se organizou de forma distinta dos demais partidos. Baseados em preceitos de organizações em núcleos por categorias/regiões/bairros/cidades/temas.
Definiu um tipo de democracia interna, que hoje já não é tão mais visível, já que os núcleos foram aparentemente sucateados.
Esse movimento/partido 2.0 deve apontar internamente para uma nova forma de fazer política, através de redes sociais digitais, unindo prática e discurso.
Isso deve estar presente tanto a distância, em comunidades em rede, como no presencial, quando os encontros devem ser feitos na base de rodas de conversas, com participantes debatendo entre si, evitando o sistema clássico de líderes no palanque e a massa embaixo.
(Vi debates assim na Petrobras e na reconfiguração da Islândia, pós crise financeira.)
Um ser humano, humano
A transparência e o controle mais fácil pela sociedade em rede digital nos colocam a possibilidade de rever o próprio ser humano.
Há uma crença no mundo atual, principalmente na América Latina e em outros países do terceiro mundo, que determinados indivíduos são incorruptíveis, a partir de uma escolha ideológica ou religiosa.
(Vide a surpresa do PT com corrupção. Acreditamos em algum momento que uma pessoa de esquerda era superior aos “prazeres da carne” por serem de esquerda. Não são.)
O que garante a honestidade, além da força/formação ética/moral do indivíduo, que deve haver, é o eterno – e cada vez mais aprimorado- controle social e transparência nas ações, via sociedade e suas ferramentas de controle, internas e externas ao governo.
Acredito que o surgimento das redes sociais digitais já tem ajudado e ajudarão bastante a conter as altas taxas de ganância e colocar luz na sombra de quem quer mantê-la escondida.
São ferramentais úteis para esse fim.
Deve-se, assim, adotar a mentalidade do controle do coletivo e não a de super-homens incorruptíveis.
Um mundo sem utopias!
Estamos saindo de um século das utopias nas pontas, que ainda estão hoje no cotidiano e no imaginário das pessoas, da crença utópica que vamos chegar a um novo mundo, a partir de revoluções ou das guerras em nome de raças, religiões ou ideologias.
Tais propostas nos faziam crer que toda a sociedade iria mudar, em uma guinada radical, que iria nos tranformar em super-homens e mulheres.
Uma utopia rendentora, que foi um pouco a base do nazismo e do comunismo, como essência, no super-homem/mulher ariano/a ou no super-homem/mulher soviético/a ou do radicalismo religioso atual em diversos países pelo mundo.
Deu no que deu! Está dando no que está dando!
Acredito que devemos procurar uma nova mentalidade a-utópica.
De trabalho contínuo de tentativa de redução de taxas de sofrimento, aperfeiçoando o modelo ao longo do tempo.
É preciso, assim, que o novo venha esteja alinhado com o futuro e não com com mudanças cosméticas do passado e modelos antigos e desgastados.
Fui até aqui.
Que dizes?
Sua análise é bem interessante. Gostaria de colocar alguns pontos para debate. Vamos esquecer por um momento a construção de um novo partido e focar no poder de mobilização da sociedade.
De pronto poderíamos dizer que a Constituição de 88 contribuiu de forma significativamente com a inclusão da democracia participativa além da representativa. Não podemos negar que é um avanço, mas será que o texto legal foi uma resposta aos anseios da sociedade ou daqueles que colaboraram com a redação da Carta Magna?
Se avaliarmos que a democracia participativa teria como objetivo ser um contraponto a estrutura representativa, possibilitando uma nova consciência política em nossa sociedade, a fórmula não teve sucesso, ou ainda não teve. Concordo em termos com aqueles que dizem que 23 anos não são suficientes para uma mudança desta magnitude, mas discordo quando avaliamos que as ferramentas para viabilizar esta mudança são liberadas a conta gotas. Até a presente data não foram regulamentados instrumentos importantes, como o acesso a informações e dados resultantes das ações dos poderes constituídos.
Como realizar o monitoramento e avaliação da ação governamental sem acesso a informação. Ser transparente não significa disponibilizar informação e sim colocar de forma que qualquer brasileiro, independentemente de sua formação educacional, possa compreender e avaliar.
A tarefa é mais difícil do que se imagina pois em que pese a existência de embasamento legal, metodológico e tecnológico, o processo depende do executivo, legislativo e judiciário, que não tem interesse em participar.
A rede social pode ser o fiel da balança, proporcionando aos poucos uma estratégia de colocar a sociedade e pé de igualdade com os demais poderes, ou até mesmo ajudar a reformulá-los.