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Uma das coisas mais importantes que devem ser ensinadas nos estabelecimentos educacionais de uma democracia é o poder de pesar os argumentos, preparando-se o espírito dos alunos a fim de que esses aceitem o ponto de vista que lhes pareça mais razoável – Bertrand Russel – da coleção;

(As fotos foram tiradas em Brasília durante o período que estive lá no curso.)


Passamos dois dias analisando a chegada da Internet e suas consequências na sociedade e, em particular, no Governo, o que alguns gostam de chamar “Governo 2.0” e outros “Governo aberto”.

Gosto do primeiro termo, pois mostra um caminhar e do segundo que induz para onde deveria ir a tal caminhada.

Talvez Governo 2.0 – aberto e colaborativo fosse o resumo do que é a coisa. Bom, vamos a um ping-pong comigo mesmo para facilitar as reflexões sobre o pós-curso.

Eu – Qual a principal dificuldade dos participantes dos teus encontros “Governo 2.0?

Nepô – Bom, isso vale para qualquer curso que coordeno. Estamos intoxicados de conceitos sobre a Internet, redes sociais, governo 2.0, ferramentas, métricas, retornos. Quem faz nossa cabeça (a mídia, os livros, os principais gurus americanos) estão acostumados a mudanças na sociedade, mas nada se compara a uma Revolução Informacional, que é algo incomum, muito grande, com mudanças profundas, que só uma visita à história nos permite trafegar de forma mais confortável, comparando situações.

Dificilmente, consegue-se ter clareza sem isso.

As pessoas sentem muito o primeiro choque, pois vêm para o curso procurando cases, uso das ferramentas, porém somos obrigados para ter coerência a falar de 500 anos atrás, quando uma sociedade foi abalroada por uma outra revolução informacional.

Comparamos momentos, analisamos causas, vamos colocando no lugar de “achismos” alguns conceitos mais consistentes, fundamentais para um gestor ser coo-vencido que precisa sair de uma zona de conforto para algo tão grande como um Governo 2.0.

Precisamos, assim, através da conversa e da razão, envolvendo nosso afeto, claro,  compreender a nova lógica, para, só então, pensar em ações prática.

Uma prática como tem se visto com lógicas da pré-Revolução da Informação acabam por nos levar a problemas. É uma mudança de paradigma grande. E todos temos que ter compreensão com as nossas dificuldades e a dos outros. Ninguém sabe tudo é preciso um esforço coletivo para superar essa crise teórica e prática.

Eu – E como é a reação durante o curso?

Nepô – Bom, há um período de adaptação, mas o modelo do encontro, conversa pura, sem power point, sem roteiro fixo, falando um pouco, ouvindo todo mundo (todos são chamados a opinar a cada intervalo dos meus discursos sempre curtos). Vamos trabalhando cada um dos pré-conceitos antes do encontro e problematizando, mostrando que pode não ter lógica consistente dentro deles. As pessoas vão raciocinando em grupo, cada um vai apresentando questões e vamos derretendo essa primeira visão, juntos e isso facilita muito, pois as pessoas vão se mútuo-ajudando a pensar.

Eu As pessoas estranham essa didática?

Nepô – Bastante, no início, mas na avaliação final sempre falam sobre ela, como foi importante conhecê-la. Estamos acostumados a ter um emissor com uma verdade, emitindo para os outros que a recebem de forma mais passiva.

Nós vivemos em um país muito autoritário, muito vertical e não somos chamados a opinar constantemente.

Quando se abre espaço, no primeiro momento vê-se a timidez, a vergonha (que chamo de tóxica) o medo de falar besteira, mas é tão natural conversar, que as pessoas vão se soltando e no final todos se sentem bem, com sorrisos e afetos, como se vê na foto final, uma tradição dos encontros (ver aqui.).

Eu – E você aprende algo durante o encontro?

Nepô – Sim, pode parecer papo furado, mas a dinâmica da conversa, mostra que é assim, só se ensina de fato aprendendo.

Eu levo uma lógica e valores, digamos mais sólidos sobre a Internet, como conceitos mais líquidos que tentam demonstrá-la.

Dificilmente, a lógica é alterada num encontro, muito menos valores (do tipo precisamos reduzir sofrimentos humanos), mas tudo que está em torno deste núcleo mais consistente, mas não fechado à reflexão sofre alguns abalos, maiores ou menores, dependendo do encontro.

Muda-se a forma de dizer, ao se mudar a forma de dizer, vê-se outra alternativa, o discurso é melhorado, mudo a forma de apresentar estes conceitos matrizes, sempre procurando um jeito mais simples e mais rápido de representá-lo.

Há mudanças, portanto, na maneira de defendê-la e alguns pontos vão ficando mais claros, reduzindo algumas obscuridades, falamos do último encontro sobre valores x tradições, liquidez x solidez, que me fizeram pensar e o que resultará em posts em breve.

EuQual a principal dificuldade com o curso?

Nepô – Conseguir fazer um programa que seja coerente com o que será dado e atrativo, pois as pessoas que olham algo pretensamente mais teórico, não de identificam, mas quando participam do encontro, consideram algo fundamental.

Estou trabalhando mais mais nisso, é uma questão de tempo de ajuste.

É preciso mostrar que sem teoria mais consistente não se poderá haver prática coerente numa Revolução da Informação, só através da história.

O mundo vai chegar lá, mesmo sem teoria, porém vai gastar muito mais tempo e dinheiro, como todo o sofrimento que está embutido nisso.

Um encontro como esse significa entrar num atalho.

Eu – Qual foi o resultado final?

Nepô – Bom, resolvemos construir um documento diretivo do debate, que colocamos aqui, que servirá para basear o trabalho de todos os participantes, bem como, de quem não fez ou vai fazer o curso.

O importante é que o conceito de Gov 2.0 está se espalhando e – a partir dos encontros – de forma mais consistente e, me parece, mas eficaz do que, de fato, será nosso futuro.

 

7 Responses to “Governo 2.0: o que aprendi – ensinando”

  1. Irene Lôbo disse:

    Adorei a sua “auto-entrevista”…e as fotos dessa cidade linda!!! Quer dizer que além de excelente professor e filósofo das mídias sociais, você ainda é um ótimo fotógrafo? Abração, Irene

  2. Vitor disse:

    Certamente eu era o mais reticente quanto à aplicação do nosso documento na organização onde trabalho. Mas no dia seguinte, logo de manhã, um colega me procura pelo Same Time (o MSN de quem utiliza o velho Lotus Notes) e oferece uma planilha que simulava alguns resultados da área de gestão de pessoas. Estávamos atribulados num projeto de movimentação de pessoal, e ele, por conta própria, desenvolveu uma planilha que respondia razoavelmente bem às aflições de todo o pessoal que queria ser transferido.
    É interessante que ele mesmo não tinha interesse particular nas transferências, mas me disse: “todo ano vejo o pessoal afoito, querendo saber o lugar pra onde vai, que resolvi fazer esse simulador”. Parece que ele também está nessa onda de reduzir o sofrimento humano.
    Para mim ficou claro que, se houvesse mais espaço para co-laboração e inovações, facilmente outra pessoa conseguiria aperfeiçoar o simulador e muitas outras iniciativas surgiriam.
    A planilha não foi incorporada à administração, não tanto por preconceito, mas pelas falhas que, embora poucas, poderiam gerar falsas expectativas.
    De todo o modo ficou aberta a possibilidade para que no próximo ano a iniciativa seja oficialmente adotada. E eu ganhei um bom argumento para implantar um sistema mais aberto na organização.

    • Carlos Nepomuceno disse:

      Vitor, o interessante no seu depoimento é justamente observar que a forma que nós fazemos as coisas não é mais eficiente, diante das possibilidades que existem.

      Este é o “gap” da vez.

      Muita gente, problemas complexos, soluções inadequadas.
      (vou tuittar isso.) 😉

      O que temos que tentar implementar nas empresas é algo lógico, que com o tempo ficará cada vez mais claro.

      Muito bom, sua participação no encontro foi muito importante, pois o contra-ponto ajuda a aprofundar as lógicas e a consolidar.

      Sinto um mestrado no horizonte,

      forte abraço, valeu visita, Nepô.

  3. Fabiana Gonçalves disse:

    Excelente depoimento Vitor. A planilha em questão me fez refletir no pensamento colaborativo imbutido no WordPress, que nasceu como um publicador de blogs e hoje é um CMS robusto na criação de sites. Neste pensar 2.0 um determinado desenvolvedor encontra uma real necessidade e cria um pequeno aplicativo, que chamamos de “plugin”, que melhora a ferramenta, ou seja, várias pessoas pensando uma só solução. Com isso, a cada semana e as vezes dias temos uma versão nova e mais atualizada do WordPress. O pensar colaborativo gera uma série de ações 2.0. E um problema passa a ser uma solução muito rica, que traz benefícios para todos.

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