Feed on
Posts
Comments
Ninguém muda nada, se não muda – Nepô da safra 2011;

Já tanto falamos e falei sobre isso….Internet.

E, de fato, esse é um exercício constante:  nos aproximar e  se afastar de dado fenômeno/objeto, para que ele vá se tornando menos turvo.

Amadureci, por exemplo, que a realidade é impenetrável e chegamos a ela, através da aproximação, para que vá sendo modelada, pincelada e possamos atuar sobre ela com menos incerteza, compreender seus contornos, seu movimento de chegada e para onde se encaminha.

Para essa tarefa temos que ir contra, os modelos mentais que existem na sociedade e são absorvidos por nós, quase que por osmose, na família, escola, meio social, principalmente, através da mídia.

Conhecer é ter consciência desses conhecimentos absorvidos, refletir e repensar sobre ele, fazendo um processo de re-aprendizado.

  • Conhecer é, portanto, desaprender e ver de novo.
  • Conhecer é problematizar o que parece consenso.
  • Conhecer é rever o senso comum e sofisticá-lo.

O que nos leva à procura de sair da mistificação que fazemos do mundo e de nós mesmos.

Não existe pesquisa que não leve o pesquisador a se repensar.

(Se existe tal aberração (que é a prática mais comum hoje em dia), é uma falsa-pesquisa, alienante para quem a faz e talvez menos valorosa para a sociedade, pois não tem o afeto/intuição do pesquisador envolvido, um grande aliado para a procura da nunca atingida “verdade”.)

Isto posto, podemos dizer que existem fenômenos sociais que são provocados conscientemente pelos humanos e outros que ocorrem a despeito deles.

  • Uma revolução social é algo consciente, com uma meta e uma luta de um conjunto de pessoas. É um fenômeno social com um nível de consciência, pelo menos, por um grupo de pessoas.
  • Uma pandemia é algo que independe de nossa vontade, ninguém provocou tal fenômeno (pelo menos não se registrou casos de sabotagem nessa direção, até hoje). Pode-se procurar ações para evitá-la, mas são ações preventivas e não que geram o fato;
  • Estão ainda entre fatos alheios à vontade humana as forças da natureza: terremotos, erupções, maremotos, enchentes, tsunamis, etc…

A Internet é um misto entre essas duas coisas e isso a torna mais complexa, diferente e temos mais dificuldade de compreendê-la.

Ela é acionada pela humanidade por um lado, mas sem taxas elevadas de seu propósito e consciência de sua dimensão e consequências, vide a sua história que está longe de ter um gênio que previu tudo isso.

Podemos dizer, assim, de forma melhor, que a taxa de consciência é muito mais baixa do que outros fenômenos sociais.

Ela existe aqui e ali, mas é pouco clara.

Não é um ato humano com consciência plena e um projeto orquestrado por alguém com uma consciência maior, como uma revolução social.

Não tivemos uma empresa por trás de tudo isso.

Porém, é um evento humano, pois as tecnologias que nos levaram a ele foram feitas por nós.

Ou seja, há um processo em curso, em que temos diversos atores que, no máximo intuem, mas não têm a dimensão e o propósito final para onde estamos indo.

A Internet se aproxima, assim, da criação da fala (inventar palavras e reproduzi-las) e da escrita (representar essas palavras em um suporte), um projeto coletivo, que todos sentiram necessidade, aderiram rapidamente, contribuíram para sua formação, porém, não havia um núcleo consciente de sua implantação.

(Procuro exemplos fora da informação e não me ocorrem. Transportes? Quem ajuda?)

Considero que esse tipo de fenômeno merece um nome.

Acredito que são fenômenos paradigmáticos, no caso um fenômeno paradigmático informacional inconsciente.

Explico.

Um paradigma é um conjunto de ideias sobre determinado fenômeno.

Uma ruptura de um paradigma é quando esse conjunto de ideias não consegue criar um contorno eficaz de um determinado fenômeno e todas as propostas para minimizar seus efeitos não surtem resultados.

(Que é o que está ocorrendo hoje no mercado com a implantação de projetos de redes sociais, empresas 2.0, etc. Estamos adotando práticas com um paradigma anterior à chegada da Internet, mas com ferramentas e ações que refletem o outro momento. Ou seja, há uma crise de modelos mentais, antes de qualquer coisa.)

Um fenômeno paradigmático é algo novo para qual os nossos conhecimento anteriores não estão prontos para compreendê-lo.

Diferente de uma mudança mental de modelo, como a Teoria da Relatividade, cujo o fenômeno novo foi a capacidade de Einstein de olhar para as teorias vigentes e juntar aquilo que outros não conseguiram.

E no caso de ser um fenômeno paradigmático informacional inconsciente ele atua na sociedade, independente de nossa vontade.

Quem começa a ler, passa a ler e pronto.

E começa a mudar a maneira de se relacionar e encarar o mundo.

Adotá-lo é assumir um novo tipo de resultados, consequências, que só pode-se ter domínio e controle sobre eles se tivermos dentro de um novo modelo mental, compatível e na compreensão do fenômeno geral.

E isso não é o que ocorre neste momento.

Um fenômeno paradigmático pode ser uma pandemia nova, ou um novo tipo de fenômeno solar, que exige uma revisão de modelos mentais relevantes para uma dada Ciência.

Um fenômeno paradigmático informacional inconsciente, como é o caso da Internet, exige que façamos um dever de casa de compará-lo a situações similares e possamos criar uma nova teoria sobre fenômenos dessa natureza na sociedade.

Suas causas e consequências.

(Ainda mais em algo como a informação – parte integrante da nossa atividade diária, como respirar e comer, com consequências radicais para a sociedade.)

Ou seja, estamos diante de uma grave crise teórica, tendo que tomar rapidamente decisões práticas, pois o avião está no ar.

Querem dirigir um boeing com carteira de motorista de um táxi.

Estamos pilotando um carro novo, mas com o manual do carro passado. Podemos colocar a seta para a direita e estarmos acionando o air-bag!

Pior, tudo isso acontece num mundo em que todos têm pressa, ninguém quer parar para pensar e teorizar, que se quer ganhar dinheiro para semana que vem, que o planejamento estratégico é o de amanhã.

Num mundo em que a academia (pseudo redentora da verdade e das boas teorias) está voltada para ela mesma com falsos-problemas circulares, enredada em processos de produção, publicação e validação do século passado, alheia aos benefícios que a grande rede digital colaborativa traz para o conhecimento humano e para ela própria.

Num mundo dominado por sujeitos mistificados, com dificuldades afetivas/cognitivas de darem um salto de abstração que o momento exige, enredados em caixas fechadas, fruto de uma mídia vertical e alientante, que nos tolheu o diálogo e nos tirou a filosofia para respirar, um processo que já dura alguns séculos.

E, por fim, num mundo dominado por uma filosofia pragmática americana, que todos dizem amém, que difundem uma visão a-histórica do mundo e estão muito longe como todos os “estrangeiros” (Lévy, Castells, Wolton) que estão apontando novo destino.

É diante dessa crise teórica e prática que o mundo caminha numa corda bomba sem rede de proteção.

Um coletivo oculto, sem saber, disse para nós:

Virem-se!

É o que estamos tentando fazer!

Aos trancos e barrancos.

Entretanto, pode ser muito menos traumático, depende da nossa capacidade de sair da caixa em que nos encontramos.

Que dizes?

10 Responses to “O fenômeno Internet”

  1. Eu digo o seguinte:

    O caminho pode ser o fortalecimento dos nossos ecossistemas comunicacionais. Usar a tecnologia para que toda informação que nos cerca seja aquela que nos presta. Que nos faz bem. Que é eticamente viável, sustentável, imprescindível. Encolher os sentidos e fechar os ouvidos às palavras dos a-históricos pensadores estadunidenses. Abrir o coração e as mentes a nossos pensadores y hermanos: como Martin Barbero, Mário Kaplún, Paulo Freire, Eduardo Vizer, Citelli, Baccega, Ismar Soares e, principalmente, o ancião do bairro, o velho agricultor, o pesacador de alma tranquila como a água da lagoa.
    Mas, para isso, é preciso em primeiro lugar jogar pela janela toda a janela eletrônica que nos dá o que não pedimos. Que apresenta o que não escolhemos ver e ouvir. Acabar com a ditadura da programação progamada e baixar o machado na TV. Libertarnos da ditadura de estilo pré-fabricado desta mídia massificante. Libertar-se do assunto programado e fazer nossa própria pauta diária – sem tragédia e sangue. Com novas perspectivas apesar dos rumores apocalípticos.
    Pensar atraves da captação do que é bom pelas minhas próprias antenas e não as da TV. Me conectar ao meu ecossistema local/global de forma saudável e por minhas escolhas.
    Sem esquecer nunca que: toda comunicação educa para algo. Não há comunicação não-educativa e a que recebemos involuntariamente diariamente é que nos prende a velhos paradigmas para os quais precisamos nos deseducar.
    Eu já estou a mais de 10 anos sem ver TV. Não morri nem fiquei mais burro. Me sinto desintoxicado e com um ecossistema saudável e repleto de boas possibilidades educomunicativas.
    Valeu a provocação!
    Abraço.

  2. Carlos Nepomuceno disse:

    Rafael, 10 anos sem ver TV…

    Legal, seria até um objeto de estudo isso.

    Valeu o retorno, Nepô.

  3. Opa Nepô,
    Não temos nem o aparelho em casa. E minha filha de 14 anos me agradeceu por isso ano passado, porque vê que os assuntos das colegas são muito rasos. Ela lê um livro de 500 pag. em uma semana e já escreveu um livro de 50 de sua autoria – mas perdeu o arquivo por não fazer backup! Agora está escrevendo outro. As crianças semtem vontade, mas já compreendem o que a TV trás de desvantagens para a família e aceitam não se entregar ao vício.
    Assistimos filmes e programas que escolhemos no computador.
    Seleção total sobre a informação que chega e nada de um aparelho captando e irradiando ondas de catástrofe em seu ambiente particular.
    Trabalhei 6 anos em TV, sem assistir em casa.
    Pode mandar o questionário qualitativo (ehehe)…

    Abç
    Rafael

  4. Carlos Nepomuceno disse:

    Muito legal, a pensar..vou discutir aqui com as crias.

  5. Nepô:
    “Procuro exemplos fora da informação e não me ocorrem. Transportes? Quem ajuda?”

    Não é propriamente fora da informação, mas como acho que nada é propriamente fora da informação, segue o meu exemplo: a economia, os mercados.

    Abraços.

  6. Tássia Braga disse:

    Olá!

    Penso que grande parte das pessoas utiliza a tão poderosa Internet por necessidade (se informar, compartilhar seus momentos e ideias nas redes sociais; pesquisas diversas no Google, com destaque para doenças, realização de atividades escolares, entre outras) e, sobretudo, por diversão, que também está ligada à alguma necessidade.

    Mas, devido a questões históricas – regimes autoritários, que contribuíram para o atraso cultural, educacional e, por isso, do próprio papel alienante da mídia em geral -, participar de uma discussão tão lúcida a respeito da potencialidade e evolução da Internet é algo, no Brasil, ainda, muito distante para a maioria.

    Não tenho a pretensão de ser fatalista, pelo contrário, acredito que essa reflexão pode gerar enormes ganhos a todos. O que, como o Nepô faz, cabe a nós – mesmo que no meu caso seja uma divagação -, despertar na nossa colméia social o interesse no aprofundamento do tema. O que certamente proporcionará uma caminhada consciente no mundo real.

    Espero ter contribuído de alguma forma. =)

    Tássia.

  7. Carlos Nepomuceno disse:

    Tássia, agora que estás na pós, espero que assuma o compromisso de agente de mudança, não de colocar tecnologia, mas de facilitar o diálogo entre as pessoas, seja no presencial ou a distância.
    Valeu visita e comentário, Nepô.

  8. Carlos Nepomuceno disse:

    Podemos fazer uma comparação entre o fenômeno da Internet e os atuais desafios da Ciência com Terremotos, pesquei as frases abaixo das matérias do Globo de Dominigo, 13/03/2011:

    “O campo da sismologia teve uma lição de humildade, reforçando a
    sensação crescente de que o campo de sismologia precisa descartar
    algumas de suas suposições sobre grandes terremotos” – Joel Achenbach;

    “Tendemos a nos concentrar nos eventos esperados e perdemos de vista os incomuns” – Susan Hough;

    “Terremotos não são de forma alguma periódicos, mas continuam usando modelos como se fossem” – Bob Geller;

    Diria o mesmo do fenômeno Internet, os modelos como vemos a informação continua igual a antes desse megaevento.

  9. Júlia Linhares disse:

    “Querem dirigir um boeing com carteira de motorista de um táxi”. Acho que isso explica muita coisa. As pessoas querem utilizar a mesma fórmula de anos, com situações novas, com tecnologias novas. Sem perceber que para seguir o fluxo e se manter atualizado e conectado com a carga de informações que recebemos é necessária desconstrução do pensamento e e a quebra de paradigmas. Acho que aquele tema que vc tratou no inicio da primeira aula tem a ver com parte do que foi dito aqui. Quando você pediu para construirmos e desconstruirmos um significado de mkt digital, fiquei com um fato martelando em minha cabeça: as pessoas querem continuar utilizando os modelos antigos com ferramentas e tecnologias novas, e com novas maneiras de produzir o conteúdo.

Leave a Reply to Carlos Nepomuceno

WhatsApp chat