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Todo indivíduo é virtualmente inimigo da civilização Freud – da coleção;


Há a meu ver uma grande encruzilhada no mundo do conhecimento.

Que é definida por Karl Popper entre os que estudam problemas e aqueles optam por assuntos.

Ambos escolhem seu caminho, porém, só os primeiros, segundo o autor, poderão ser questionados, ter eficiência, ser medidos, pois problemas partem de questões claramente identificadas e assuntos dão margem à falsas teorias, pois não podem ser avaliadas.

Teorias baseadas em problemas bem definidos teriam o mérito de poder mais claramente demonstrar sua eficácia à luz da vida em todas as suas dimensões.

Os estudantes de assuntos estão a salvo de qualquer medição.

Diria que nossa academia está muito mais nesta última do que na primeira.

Escolhe-se assunto e esconde-se neles.

Quem poderá criticar quem gira em torno destes assuntos intermináveis?

O que nos leva a esse beco sem saída gigantesco.

Não existe tempo para se estudar assuntos.

Pode levar uma eternidade!!!

Sem nenhum tipo de aferição possível.

Sugiro ouvir Marcos Cavalcanti na sua espetacular estória ilustrativa sobre o ronco do boi, que demonstra o quanto assuntos servem à egolândia.

Do ponto de vista, do estudo dos problemas poderá se dizer que caímos para um pragmatismo insano, de que teremos uma visão reducionista e pouco abstrata da Ciência.

O que nos leva a um impasse que é preciso ser resolvido, o que nos empurra para outra questão.

Para que, afinal, serve a Ciência?

Diria que as abstrações são muito mais ligadas às artes que têm por objetivo o engrandecimento do espírito humano.

Ciência, entretanto, tem uma função social diferente.

Veio e deveria se manter assim: ajudar ao humano a superar seus problemas de sobrevivência na terra, ampliar a sua qualidade de vida e nos fazer conhecer aquilo que não sabemos, nos ajudando a construir sempre um mundo mais humano.

O humano é algo palpável, pois vai contra todos os nossos instintos que imperam do individual sobre o coletivo.

Ser cientista, portanto, é uma atitude, antes de tudo ética de respeito ao próximo que sofre mais.

Ao aceitarmos os critérios dos assuntos, transformamos Ciência em Arte, um espaço deslocado. Damos margem a perda de foco, aos gastos inúteis, ao descontrole social da Ciência.

Dando a cada um o direito de exercer uma função sem a aferição do todo.

Diante de cada pesquisa, para ser aprovada, deveria constar a sua relevância social no seu caráter mais amplo.

A Ciência em torno dos problemas torna-se mais rica, eficaz e solidária.

A que estuda assuntos é fechada, oculta e excludente.

Ainda mais quando, na maioria das vezes, a Ciência é exercida com recursos públicos.

Há, assim, na Ciência a necessidade da geração de valor social e humano, que está soterrado por um discurso corporativo, preguiçoso e individualista, que levou à Ciência a essa crise e ao isolamento social.

Faz-se ciência para os cientistas e não para a sociedade, infelizmente.

As ideias de Popper são cada vez mais atuais.

3 Responses to “Estudamos problemas ou assuntos?”

  1. Mas agora estamos no alvorecer de uma civilização que vai produzir ciência coletiva, acredito nisso, bastante. E digo mais, isso acontecerá para evitar o nosso extermínio, por que ou cada um será capaz de sobreviver às dificuldades que virão ou seremos todos exterminados pela nossa própria ignorância. Será uma questão de sobrevivência.

  2. Fernando J. O. Moreria disse:

    Muito interessante esta discussão.
    Pensando no caso do Brasil, este questionamento “Estudamos problemas ou assuntos?” ajuda a explicar o relatório da UNESCO sobre investimento em pesquisa.
    Do Jornal da Ciência da SBPC: “Segundo relatório da Unesco, país investe tanto quanto Espanha ou Itália, mas não consegue inovar em tecnologia”.

    Link: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=74601

  3. Carlos Nepomuceno disse:

    João, Fernando, valeram visitas e comentários..

    Nepô!

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