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Nós habitamos um mundo cultural, portanto, inventado – Ferreira Gullar – da minha coleção de frases.

No livro, “The Printint Revolution in Early Modern Europe“, Elizabeth Eisenstein lembra que, até hoje, ainda é impreciso, a influência e o impacto do livro impresso para nossa civilização.

Ela diz:

“Foi muito maior do que achamos!”

De fato, a meu ver, esta é uma pergunta básica para traçar o futuro da nossa civilização.

  • Qual o poder de influência de uma plataforma de conhecimento (do livro ou da Internet) nas nossas vidas?
  • Como a Internet, a plataforma da vez, mudará nossa cognição, nossa maneira de nos relacionarmos com o mundo?
  • E a forma como organizamos a sociedade e as empresas (públicas e privadas), por consequência?
  • E, portanto, que mundo será este?

Vamos conceituar algumas coisas para tentar dar uma pista e pensar sobre as empresas de hoje e seu futuro, um tema que tenho discutido em vários lugares.

Note que, ao contrário do que imaginamos, não nos relacionamos direto com as coisas, mas através de uma cápsula de conhecimento, como vemos na figura abaixo:

bolha_conhecimento

É falso acharmos que a realidade é o que achamos que ela é.

Há um filtro.

A realidade é sempre fruto da interação dos nosso filtros com as coisas, “lá fora”, em interação.

Passamos, assim, o filtro da linguagem, da cultura, da bolha de conhecimento pela qual interagimos com o mundo, a partir de nossos interesses, histórico, perfil, temperamento, momento de vida,  etc.

Este contato com o mundo, entretanto, além dessa bolha individual que cada um tem, há um conexão com as demais bolhas, formando uma rede integrada de atores,  para garantir nossa sobrevivência.

Sozinhos, isolados, não teríamos chegado aonde chegamos.

Assim, não tem sentido pensar em compreender a realidade de forma direta, sem esses dois filtros.

  • O individual, na bolha.
  • E o coletivo, na rede de conhecimento, um coletivo da bolha de cada um.

Um modelo seria este:

bolha_conhecimento2

Assim, mexer na rede de conhecimento é alterar basicamente tudo, inclusive, a nossa concepção individual do mundo. Muda-se, a médio e longo prazo, as percepções, menos a nossa essência básica, essa sempre imutável, que é apenas atualizada:

–> eu, minhas necessidades básicas, reprodução, etc…(o que podemos chamar da imutável natureza humana.)

O que se altera hoje claramente é filosoficamente a aceitação da bolha: a realidade não existe!

São várias!

E o conceito de que sempre nos organizamos em rede, mas não nos dávamos conta!

O que não estava claro – como meio dia na praia ensolarada – é que as redes sempre estiveram presentes na sociedade, mas nós não olhávamos para ela.

Eram mais lentas e imperceptíveis.

(Já falei sobre isso no post da montanha e do vulcão.)

Hoje, são visíveis, portanto…uma empresa, ou qualquer grupo social, é uma rede.

Mais ou menos hierarquizada.

E qualquer problema de gestão, portanto, antes de tudo, é um problema de rede mal  conceituado, gerido ou articulado.

Quanto mais digerido for o conceito de rede e melhorado para que elas funcionem a contento, melhor será a gestão de um determinado coletivo.

Não há redes, portanto, dentro uma empresa, mas  a própria empresa é um coletivo de redes.

Gestão, assim, sob esse ponto de vista, é um processo de tentar harmonizar as redes, individualmente, cada uma delas e todas entre si.

Enquanto essa ficha não cair, ficará difícil pensar o futuro, num mundo cada vez mais conectado – no qual a rede é totalmente visível.

(A teconologia da rede nos fez repensar o conceito.)

O que nos leva, por conseqüência, por dizer que a gestão de uma empresa é uma gestão de redes.

Não existe gestor de empresas, mas gestor de redes de trabalho, fruto do conhecimento humano.

E a ideia de “gestão de conhecimento” nada mais é, ou deveria ser, administrar melhor as redes internas de pessoas para produzirem melhor sem perda de  tempo por uma incapacidade da gestão atual de melhorar as redes existentes.

O papo é conceitual, mas básico para repensar o novo ciclo de gestão organizacional, que entra, querendo ou não, no ciclo das redes, filosoficamente e tecnologicamente.

Teremos, assim, engenheiros, analistas e profissionais tentando harmonizar as diferentes redes formadas pelas pessoas.

E a gestão, portanto, revisitada, agora,  sob o ponto de vista das redes.

Ou o que prefiro: “A gestão por redes”

Por aí, aliás, começam filosoficamente a gestão das novas empresas 2.0.

O resto é tecnologia ou uma visão de gestão que vai se mostrar inapta para conseguir lidar com mais e mais redes espontâneas.

É isso.

Concordas?

8 Responses to “Empresa 2.0: Gestão por redes”

  1. Pensemos numa tecnologia como a da leitura-escritura e tudo o que provocou em nossa sociedade (ainda que fora ao longo de milhares de anos)
    -Permitiu a acumulação a mais conhecimento. Antes a única maneira de armazenar conhecimento era a memória.
    -Permitiu a transmissão a mais conhecimento. Antes só era possível transmitir conhecimento em pessoa, por via oral ou visual.
    -Permitiu a transmissão mais rápida do conhecimento: lê-se mais depressa do que se fala.
    -Resto-lhe importância ao princípio de autoridade. O conhecimento se desgajó de seu criador.
    -Permitiu a aparição da burocracia, do controle das riquezas, da cobrança de impostos, do desenvolvimento das cidades.
    -Permitiu o nascimento das grandes religiões, as religiões que os muçulmanos chamam “do livro”.
    -Permitiu a aparição do progresso, do conceito histórico, não cíclico, da existência. O “mito” perdeu poder ante a recém chegada “história”.
    -Permitiu o intercâmbio e a comercialização do conhecimento e a cultura.
    Etcétera…

    Mas antes da chegada da escritura já aconteceu algo bem mais importante… A aparição do conhecimento simbólico. E não só foi a linguagem falada, foi todo o adicionado simbólico à realidade que converteu: um animal num totem, um enfeite num simbolo de hierarquia, uma mão pintada na parede da gruta em… A isso lhe lllamo a primeira camada de dados sobre a realidade. É essa camada de dados existente sobre a realidade é a que complementa a bolha que indicas. Os sinais de transito, as vestimentas, os enfeites, os logotipos… além da linguagem escrita, é claro, que foi a segunda camada de dados adicionada.

    Que vai fazer Internet com nossas camadas de dados simbólicos? Por em quanto, parece que nada, porque Internet é uma realidade complementar à Realidade. Mas a Internet das coisas e sobretudo a realidade aumentada virão criar novas camadas de dados.
    E esse será uma mudança dramática. Até agora a interpretação da camada de dados simbólico dependia de nossa bolha individual mais ou menos compartilhada na rede que assinalas.
    Mas as novas camadas de dados adicionadas à realidade mediante Internet não dependerão de nosso conhecimento, senão de nossa capacidade socioeconômica. E isso proporá profundas diferenças sociais.
    Criará múltiplas redes sobrepostas, de modo que a realidade, filtrada por dispositivos de realidade aumentada que se tornarão cotidianos, será muito diferente para cada pessoa, em cada circunstância.
    Não só uma rede mais tupida, senão multiples redes alternadas.

    Imagino a complexidade que isso pode criar para a gestão organizacional…

    Desculpe-me por estender-me tamto em meu primeiro comentário e desviar-me um pouco. Sigo-lhe faz tempo e sempre fico com vontade de contribuir um comentário, e hoje decidi fazê-lo.

    E desculpem meu português, é aprendido, sou espanhol ainda que recém lleado a Brasil para, espero, ficar.

  2. Rafael Ramos disse:

    Carlos,

    Você não acha que toda essa onda 2.0 não passa de um modismo desse novo tempo?

    Se entrarmos em uma análise fria, vamos chegar à conclusão que a gestão sempre teve seu foco em redes: gerir a rede de fornecedores, de clientes, de colaboradores etc.

    Gosto muito do termo 2.0 quando ele passa a ideia de colaboração. Meu receio é que tudo hoje seja considerado como 2.0. Sem as mudanças profundas, o conceito chave da colaboração seja considerado apenas mais uma invenção inútil…

    Enfim, me fiz entender?

    Um abraço e, mais uma vez, parabéns pelo blog.

    Quando tiver um tempo, aguardo sua visita em meu blog.

  3. cnepomuceno disse:

    Rafael,

    o nome pouco importa, mas é necessário rever conceitos.

    A Internet impõe mudanças, assim como o livro impresso o fez, a fala, a escrita..

    Assim, não considero modismo, como se fosse uma nova corrente administrativa, é algo que se encaixa melhor à velocidade do mundo,

    é isso, abraços,
    Nepô.

    ps- vou depois ver o blog.

  4. […] 2- as redes são elementos fundamentais para nossa sobrevivência e sua topologia define as estruturas de poder social. (O  novo livro do Castells que saiu fala muito sobre isso.) Muda-se a topologia, muda-se, a médio e longo prazo a gestão das instituições, de um modelo de rede mais hierárquica para outra mais descentralizada, o que chamei até de Gestão por rede; […]

  5. […] Na verdade, passa-se a pensar a gestão da empresa, em um modelo de Gestão por redes, que desenvolvi melhor neste post. […]

  6. […] Não gosto muito do nome “Marketing Digital”, pois acho que a ideia do Marketing, vai se misturar com outras propostas, que e a construção de redes internas e externas nas organizações, através de uma Gestão por Rede. […]

  7. […] deste post, caminhei bastante para o conceito da Gestão Por Redes, que seria a adoção das redes como parte integrante da […]

  8. […] 2- Networks are core elements in our survival and their topology defines social power structures (Castells’s recently released book talks a lot about this. ) The topology is changed. Management of institutions is changed in the middle and long term, from a more hierarchical network model to a more decentralized one – which I even refer to as a new approach to the issue: Management by network. […]

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