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Versão 04/08/2013

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Gosto muito da ideia de Heidegger de que o ser humano é apenas um projeto humano.

Apenas uma promessa em aberto.

O que fará dele mais ele ou menos ele é o seu esforço, o que vai contra radicalmente a filosofia do Zeca Pagodinho, de que é a vida que vai nos levar.

Do ponto de vistar Heideggeriano, o que seremos depende do nosso esforço em assumir as rédeas de nosso projeto, apesar de tudo, de todos.

A vida que nos leva é o modelo conservador das organizações que nos comanda.

A base para que entremos nesse projeto de vida é sair das desculpas. não sou o que poderia ser, pois minha mãe isso, meu pai aquilo, meu chefe aquilo outro, a Dilma não me permite, o país é uma M, sou brasileiro sem muito orgulho.

A base da filosofia em Heidegger é que precisamos nos ver como doentes terminais o mundo, sem precisar um exame positivo de câncer agudo no pâncreas para isso.

Ser humano precisa – apesar de tudo que está nos impedindo de ser –  lutar para ser.

Na aba de Heidegger, Sartre e depois Foucalt procuram mostrar que o ser não o é, pois não querem que ele seja. Há interesse do modelo das organizações vigentes em cada sociedade em impedir que o ser, seja. E todos acabam se acomodando em uma zona de conforto, que vai nos levando a sucessivas crises.

Assim, esquece-se  da morte que nos cerca. Lembrar da morte, por outro lado, é algo que nos leva para uma atitude mais desenvergonhada, despudorada, assumidora de algo provisório que temos pela frente e nos tira do comodismo da falsa-eternidade.

Tal sentimento nos tira da caminha parecida com aquele óvulo de Matrix para que acreditemos que aquilo que eu sou é aquilo que eu gostaria de ser, ou poderia ser.

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Há, assim, em toda sociedade humana uma transparência dos interesses das organizações de plantão dentro dos projetos individuais, uma subjetivação do sujeito, tornando-o uma peça da engrenagem e não um agente da história.

Eu quero ser aquilo, sem refletir, que alguém projetou que eu deveria querer que eu fosse, através de uma repetição subliminar de interesses circulantes nos canais difusores de ideias.

Cria-se uma invisibilidade do outro em mim, uma transparência do desejo de quem está no posto da autoridade para que eu aceite a condição de deixar a vida me levar.

Não falo do atual poder destas organizações capitalistas ou de qualquer sistema político ou econômico, mas de todos os poderes que se estabelecem continuam, que precisam impedir a inovação, com receio de perder o seu espaço de autoridade, tornando a sociedade decadente e obsoleta. Ou seja, não se pode pensar em inovação, de fato, sem chegar a Heidegger.

Assim, para que isso seja possível cria-se um conjunto de forças invisíveis para que o meu projeto autônomo de humano se inviabilize, dentro de mim e fora de mim.

Em mim há uma auto-invalidação de que eu não posso ser diferente de todos os demais, pois não tenho capacidade para isso, já que sou igual a todos e não diferente.

Qualquer diferença será vista por mim por algo arriscado. Há uma vergonha tóxica que eu bebi ao longo de toda a minha vida que impede que eu procure a autoria dos meus pensamentos e sentimentos.

Não devo estar pensando ou sentindo o que sinto, pois eu não quero estar só.

Homofobia

A solidão é vista como algo assustador.

Prefiro não ser do que ser sozinho.

Nascemos sozinhos e morreremos sozinhos, mas não queremos pensar/sentir isso.

Do outro, vem a inviabilização de forma velada e explícita.

Velada nos comentários dos que nos cercam que alertam – de algum modo bem sutil – de que é melhor seguir o fluxo, pois é algo mais seguro. Pode notar que todos que procuram um caminho mais seguro não lidam ou não refletem sobre a finitude da vida.

(O sistema de inviabilização nos cerca por todos os lados, não acredite que é a televisão ou alguém de fora que te inviabiliza, ele está do seu lado, todos os dias, incluindo a sua cara no espelho.)

Se somos eternos para que pressa?

Por outro lado, de forma explícita há um estabelecimento de estabelecimentos estabelecidos (assim mesmo de forma repetida) das autoridades de plantão, que, conforme o ambiente cognitivo, social, político e econômico conseguem fazer de seu posto o sonho de todas as autoridades de todos os séculos: ser algo imperial.

Há a tentativa de se voltar ao tempo dos imperadores, com direito de sangue especial e divino para que ele  possa ser autor da vida dele e condicionar a sua para que seja apenas uma engrenagem.

Eles são as autor-idades que vão carimbar o seu projeto de vida, a partir dos interesses deles, que geralmente são cada vez mais individuais (para manter o poder imperial) do que coletivos.

São eles que vão autorizar se seus sentimentos e pensamentos são dignos de serem multiplicados, através de filtros em todas as organizações. É um confessionário pós-moderno, no qual você vai aprovar a sua proposta de trabalho, sua tese de mestrado, se suas ideias podem entrar em circulação nos canais formais da sociedade.

Isso funciona em todas as organizações que têm poder de mídia.

Você precisa ser carimbado e, para isso, vai procurando se adaptar (e abrindo mão daquilo que traz de novo) para ser o papel que possa receber o ok.

Qualquer sociedade que se estabelece ao longo do tempo cria um modelo daquilo que é o “politicamente verdade” e que deve ser expandido e aquilo que é “politicamente mentira” e dever ser questionado, inviabilizando o ser de ser, tanto do ponto de vista afetivo/cognitivo (quem é você para tal arrogância?), bem como no econômico, pois haverá boicote a projetos alternativos de vida que não sejam as que interessem as autoridades de plantão.

Está em jogo o poder imperial (Foucalt chama de poder pastoral – dos pastores sobre as ovelhas).

De quando em vez, vejo expressões do tipo “fulano leu mal ciclano”, “fulano que não sabe tanto”, “fulano que não deveria”, “fulano que não tem consistência”. E aí entramos um pouco em  Deleuze que defende a ideia de que cada um tem na sua frente um problema que necessita problematizar.

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Deleuze

E é este problema fundador, a partir de critérios de cada uma de sua atuação (filosofia, ciência ou arte) que deve procurar ter seu espaço para criar e inventar novos conceitos.

Fazer ciência é criar, filosofar é criar e fazer arte é criar e nunca descobrir.

O principal inimigo reside no ponto de partida: nós mesmos para que não aceitamos passivamente a vida que querem que levemos num pagode sem fim.Há que nos vermos como seres mortais e colocar a emergência de sermos algo a mais, a despeito dos contextos que nos colocaram.

É isso,

Que dizes?

3 Responses to “A invalidação do ser”

  1. Joyce disse:

    Ser exige encontrar o próprio eixo, investir no auto conhecimento e enfrentar os medos, angustias e sofrimentos de frente, sem a ajuda de remédios, drogas, bebidas ou qualquer fuga que nos tire do próprio eu. Numa sociedade onde isso é abominável, falar disso é chato, estar triste é encarado como algo anormal, SER se torna muito difícil. Encarar a nós mesmos como os autores de nossas regras e dificuldades com certeza é o caminho para conseguir SER, em se preocupar em deixar de ser considerado NORMAL, afinal, o que é normal?

  2. […] Nesse momento estamos sem uma filosofia, sem um norte, sem um conceito fundamental para definir as nossas escolhas e o dia-a-dia do nosso trabalho. Somos reativos e não proativos. Fatores externos como nosso chefe, o chefe do chefe, o salário, nossos avós, meu pai que nunca isso ou aquilo e vamos enchendo nossa mala de desculpas para fugir da responsabilidade de ser. […]

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