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 A chegada do mundo 2.0 marca o início da passagem de um mundo do bando/matilha centralizado em líderes/alfa para o modelo muito mais formigueiro, gerenciado pelo rastro que vai sendo deixado por cada “formiga”.

Versão 1.1 – 26 de novembro de 2012
Rascunho – colabore na revisão.
Replicar: pode distribuir, basta apenas citar o autor, colocar um link para o blog e avisar que novas versões podem ser vistas no atual link.

Ontem, vi este filme na Net: “Formigas – a força secreta da natureza“,  no Youtube com legenda. Recomendo e vou começar os testes de incluí-lo nas minha aulas.

Destacaria do filme:

  • – que o principal avanço que fizeram sobre o  estudo da formiga, segundo o pesquisador, é o de como elas usam a comunicação como fator de gestão, a base principal  para que elas possam realizas as atividades do formigueiro sem um líder-alfa, tomando decisões sem perder a eficácia;
  • – a comunicação das formigas é toda baseada na troca de rastro de odores que elas deixam, enquanto trabalham, que vão se somando a cada nova formiga que passa. Colaborar e trabalhar é tudo o mesmo barco. Tal prática as permite  saber aonde como voltar ao formigueiro, onde está a melhor comida, o que cada um dos diferentes perfis das formigas fará para que a outra possa colaborar, além de outras decisões sobre reprodução, ataque, mudanças de “sede”, etc..

Não há na organização das formigas um comando central, que define o que será feito, mas cada formiga vai deixando um certo odor, que somado a outros, vai ficando mais forte e define, a partir da força do odor, o melhor caminho.

A base da organização das formigas é uma rede de odores, que é a comunicação/produtiva, que permite que elas operem de forma independente a um  macho/fêmea-alfa como outras espécies de animais, como os leões ou as hienas, que não deixam de ser eficientes.

Note que uma espécie com menos membros pode ser eficiente tendo um líder mais definido e com mais poder sobre as ações, porém o tamanho da matilha/bando deve permanecer pequeno, pois há um limite de administração, em função da coordenação possível que a comunicação/gestão do líder alfa permite. O aumento de número da população exige uma sofisticação no modelo da comunicação/produção.

Há uma relação de causa e efeito, assim, entre:

  •  o tipo de comunicação e a gestão;
  • o tipo de gestão adotada com o tamanho dos membros de dada espécie;
  • quanto maior o tamanho dos membros, menos bando/matilha/líder-alfa e mais formigueiro/comunicação de odores.

As formigas – as abelhas fazem algo parecido –  adotaram a gestão/comunicação da  “democracia de odores” em função do número de habitantes no formigueiro. É uma forma rápida e eficaz de cada um ir “votando” e ajudando aos demais para que o que vem depois possa se beneficiar da visita da anterior, tal como estamos começando a fazer nos projetos 2.0.

O filme, assim, é um grande apoio educativo para a discussão da mudança 2.0, que estamos passando e a compreensão da nova sociedade que estamos entrando, pois passa de forma rápida e curta uma visão complexa. Nele, podemos mais facilmente afirmar que estamos saindo da sociedade hierárquica dos líderes-alfa.

Estamos, assim, saindo do modelo de comunicação/gestão atual  criado, a partir de 1450, com a massificação da escrita centralizadora, que definiu topologicamente um modus-operandi baseado em líderes-alfa do que em um formigueiro de odores.

Os líderes-alfa tomam a decisão, a partir de seu “pseudo-conhecimento” do bando. Porém, a coordenação centralizada dos processos, entretanto,  que funcionou para um tamanho de matilha/bando, tem seus limites, pois deixa de ser eficaz quando o tamanho do “formigueiro” salta de 1 para 7 bilhões, em 200 anos, como foi o nosso caso, ainda mais quando resolve se concentrar cada vez mais em grandes cidades.

A chegada do mundo 2.0 marca o início da passagem de um mundo do bando/matilha centralizado em líderes/alfa para o modelo muito mais formigueiro, que só é viável dentro de plataformas colaborativas que permitem o uso dos rastros digitais.  Sem a geração e o uso eficiente de rastros digitais, vamos sempre precisar de líderes-alfa.

No filme das formigas, assim, a base dessa nova organização é feita, através de odores, que são deixados nas trilhas para que as outras formigas possam ser orientadas pelas que já passaram, definindo a melhor decisão a ser tomada pela nível do cheiro deixado. Quanto mais, mais forte!

Não custa nada para as que vão na frente ir odorizando o caminho, pois elas andam e expelem o odor ao mesmo tempo, criando um modelo meritocrático de voto bem eficaz. Eu trabalho e, ao mesmo tempo, informo ao resto o que estou vendo e as decisões que estou tomando. Não há separação entre colaborar e trabalhar, pois é tudo a mesma coisa.

É a base da colaboração/trabalho da web 2.0 que temos tanta dificuldade de enxergar.

Tudo se resume, assim, ao rastro comunicacional/produtivo, que só é possível ser gerado em plataformas colaborativas em um modelo de gestão que os perceba e utilize!

É uma forma de tomada de decisão mais eficaz, pois não parte da intuição do líder-alfa, mas da experiência do grupo, para que possa definir a decisão mais eficaz a ser tomada, reduzindo o risco de erro.

Ao se trabalhar e agir está ao mesmo tempo votando e orientando as decisões.

Note que nas organizações humanas no modelo atual matilha/bando a tomada de decisão é menos precisa, pois alguém necessita – a partir de seu conhecimento de líder/alfa – definir o que é melhor para o coletivo, sem mais conseguir ter o “feeling” do novo conjunto:

  • editoras –  que livros lanço, para quem, quantas cópias?
  • bancos – para quem empresto, a quanto, de que maneira?
  • governo – aonde invisto, de que forma, com que detalhes?
  • justiça – como julgo este ou aquele caso?
  •  mídia – o que cubro ou dou destaque, como?

A margem de erro de uma decisão tomada no modelo líder/alfa é cada vez maior, conforme o tamanho do “formigueiro” vai aumentando, ficando cada vez mais lenta, cara e ineficiente. Além disso, a própria chegada de uma mídia descontroladora, vai tornando cada formiga cada vez mais diferente, exigente, mais rápida, com poder de reclamar e se auto-mobilizar.

Arrisco dizer que todas as crises que temos hoje políticas, sociais e econômicas são resultado desse modelo topológico, que precisa se rever, mas resiste, o que é humano, porém precisamos agora ter forças para superar nossas limitações.

Uma revolução cognitiva, assim, marca a chegada de um novo modelo topológico comunicacional/produtivo mais dinâmico, só possível em plataformas colaborativas.

Nelas, temos, então como novidade:

  • – a relação entre cada cidadão/cliente e a informação/trabalho é feita diante de uma tela, que permite deixar rastros/odores;
  • – o acesso é feito, através de cliques, que deixam um rastro involuntário, mesmo que não se queira;
  • – e é possível deixar comentários, estrelas, curtições que são rastros voluntários, ampliando ainda mais o potencial, desde que tudo seja fácil, agradável e que todos sintam que estão colaborando para o todo, com retorno para si.

Esse conjunto de “odores” voluntários e involuntários vai deixando uma trilha para ajudar o coletivo a tomar decisões mais precisas do que o modelo anterior do líder/alfa.

Tal mudança vai  “formigarizando”  a sociedade.

É uma meritocracia das decisões mais precisa do que a anterior, mais barata e compatível com a passagem do tamanho do número de habitantes a ser atendido e gerenciado, que cresceu 7 vezes nos últimos 200 anos.

Somos, entretanto, uma espécie que tem características diferentes, pois não nos guiamos apenas por instintos, pois temos a capacidade de repensar o que fazemos e nos agarrar ao modelo que temos e seus interesses específicos.

Não, não funcionamos como um coletivo vivo em prol do todo, pois há os interesses individuais e  seus desejos muitas vezes são contrários ao do grupo, mesmo que sejam ineficientes – são nossas neuroses, defeitos, contradições que nos impedem de ir adiante.

O velho instinto de vida versus o de morte, a luta do bem (do coletivo) contra o mail (o instinto individualista).

Porém, há a necessidade numérica demográfica que nos arrasta e um novo modelo que demonstra ser um caminho mais eficaz , sendo aceito primeiro pela nova geração com projetos concretos e experimentais turbinados pelo capital de risco (santo capital de risco!).

Eis, portanto, o papel dos agentes de mudança 2.0:  criar os melhores “formigueiros” possíveis para reduzir o sofrimento das formigas, que não conseguem mais ver resolvidos seus problemas na topologia do obsoleto modelo do líder-alfa anterior.

O bando cresceu e a topologia tem que ser outra!

É isso, que dizes?

10 Responses to “A “formiguização” humana”

  1. Rosalia Rocha disse:

    Muito boa análise.Deixamos rastros digitais…Seria bom se o filme pudesse ser legendado colaborativamente para que mais pessoas pudessem assisti-lo. Adorei a metáfora do formigueiro. Abraços

  2. Vc mesmo coloca o maior problema dessa topologia, para o universo humano: a individualidade. como fazer o indivíduo entender que seus anseios são menores que o anseio da coletividade (são!?…) ?
    Como “temperar” isso? Pq o indivíduo por mais iluminado, não abrirá mão de todos os seus anseios pelo bem da coletividade…
    Outra questão… agir sempre ponteado pelas decisões da maioria não leva para um caminho sempre comum? Não nos afasta da inovação?… O ser humano é preferencialmente tradicional, não!? “Se está dando certo… pq mudar?” é um pensamento comum. mesmo quando já nem está dando mais TÃO certo…
    Não será necessário que essas informações continuem a ser analisadas, reordenadas e redefinidas por indivíduos? – mesmo que não somente um, o que já costuma ser bem melhor…
    Dúvidas.
    Nem tanto sobre o caminho. Mas sobre como seguir por ele.

  3. Excelente! Mas fiquei pensando… Vc mesmo coloca o maior problema dessa topologia, para o universo humano: a individualidade. como fazer o indivíduo entender que seus anseios são menores que o anseio da coletividade (são!?…) ?
    Como “temperar” isso? Pq o indivíduo por mais iluminado, não abrirá mão de todos os seus anseios pelo bem da coletividade…
    Outra questão… agir sempre ponteado pelas decisões da maioria não leva para um caminho sempre comum? Não nos afasta da inovação?… O ser humano é preferencialmente tradicional, não!? “Se está dando certo… pq mudar?” é um pensamento comum. mesmo quando já nem está dando mais TÃO certo…
    Não será necessário que essas informações continuem a ser analisadas, reordenadas e redefinidas por indivíduos? – mesmo que não somente um, o que já costuma ser bem melhor…
    Dúvidas.
    Nem tanto sobre o caminho. Mas sobre como seguir por ele.

  4. Jorge Nacif Chalhoub disse:

    Esta se construindo a Inteligência Coletiva.

  5. Bruno disse:

    Nepo, as formigas vivem em sociedade há milhões de anos.

    Sem dúvida elas tem uma sociedade muito mais avançada que a humana em alguns sentidos.

    As formigas já conhecem e trabalham com o algoritmo da internet há milhões de anos.

    http://www.gizmodo.com.br/as-formigas-tem-usado-os-algoritmos-da-internet-ha-milhoes-de-anos/

    Quem sabe o que mais podemos aprender se analisarmos essa complexa e adaptada sociedade das formigas!

  6. Paulo Chagas disse:

    Agora que estamos com muito conhecimento armazenado e dotado de um bom raciocínio para processarmos esse conhecimento, vem a necessidade de correr para não morrer pois em 250 anos saímos de 1 para 7 bilhões. Para construir ou reconstruir fica muito caro e não há tempo, então o negócio é fazer como o mestre Chacrinha que diz “Nada se cria, tudo se copia”.
    É hora de prestar atenção ao que já existe, no caso as abelhas, as formigas e sei lá quanto mais, para que com a tecnologia que já temos, possamos copia-los com o nosso complicador que é o raciocínio, o poder de decisão.
    Assim entendi, se é efetivo ou não, isso eu não se.

  7. Carlos Nepomuceno disse:

    Paulo, vamos lá:

    “Vc mesmo coloca o maior problema dessa topologia, para o universo humano: a individualidade. como fazer o indivíduo entender que seus anseios são menores que o anseio da coletividade (são!?…) ?”.

    Paulo, quem dá uma boa pista disso é o movimento dos anônimos, que é hoje já estudado como um exemplo para o estudo das redes humanas descentralizadas, verás a discussão no livro “Quem está no comando?”.

    Que recomendo.

    Eles adotam um mantra, que é a chave para tua pergunta:

    “Que eu tenha serenidade para o que não posso mudar,
    coragem para aquilo que posso e sabedoria para perceber a diferença”.

    O que não posso, ou não devo, é aquilo que sozinho não posso, ou não é meu papel, o que posso é minha potência e a sabedoria, como o grande elemento de aprendizado que nos leva a sanidade, pois consigo aceitar o meu papel no mundo, sem ser passivo, porém sem ir para a onipotência.

    “Como “temperar” isso? ”

    vide o mantra.

    “Pq o indivíduo por mais iluminado, não abrirá mão de todos os seus anseios pelo bem da coletividade…”

    Ninguém pede isso e não está pronto, cada contexto é diferente, gosto da ideia que o que ajuda não é nada além da sabedoria, que não é inteligência, mas algo que junta o emocional, a intuição e o racional de forma equilibrada.

    “Outra questão… agir sempre ponteado pelas decisões da maioria não leva para um caminho sempre comum? Não nos afasta da inovação?… O ser humano é preferencialmente tradicional, não!? “Se está dando certo… pq mudar?” é um pensamento comum. mesmo quando já nem está dando mais TÃO certo…”

    Bom, aí acho que o formigamento, e isso é uma questão legal, vai nos ajudar a nos humanizar, pois tem coisas que tem que ser fáceis para evitar que percamos tempo e – teoricamente – possamos nos dedicar a coisas mais nobres.

    Se podemos formigando reduzir filas, engarrafamentos, situações em que a multidão causa desconforto e sofrimento, teremos que formigar, para poder ter tempo para outras coisas mais humanas. O mundo formigal é apenas assumir o que já fazemos – sem pensar – precisamos dos outros para nos orientar melhor para evitar roubadas, mas a decisão de ir com os outros é sempre de cada um, quando tem a opção, por isso as plataformas tem que ser formigais, mas opcionais.

    “Não será necessário que essas informações continuem a ser analisadas, reordenadas e redefinidas por indivíduos? – mesmo que não somente um, o que já costuma ser bem melhor…”

    Sim, nas minhas aulas estou trabalhando no conceito que plataformas colaborativas são ambientes em que o apicultor (pessoa) consiga equilibrar o seu papel com o da colaboração e os robôs. O que ele não consegue fazer sozinho com eficiência, distribui….

    “Dúvidas.
    Nem tanto sobre o caminho. Mas sobre como seguir por ele.”

    Grandes questões..vou postar no face que vai ajudar mais gente.

  8. Carlos Nepomuceno disse:

    Bruno,

    “Nepo, as formigas vivem em sociedade há milhões de anos.

    Sem dúvida elas tem uma sociedade muito mais avançada que a humana em alguns sentidos.

    As formigas já conhecem e trabalham com o algoritmo da internet há milhões de anos.

    http://www.gizmodo.com.br/as-formigas-tem-usado-os-algoritmos-da-internet-ha-milhoes-de-anos/

    Quem sabe o que mais podemos aprender se analisarmos essa complexa e adaptada sociedade das formigas!”

    Bom, acho que podemos dizer que estamos formigando, mas temos que entender que a complexidade huamana é muito maior do que das formigas….vamos ser mais formigas, dentro da humanidade….

    Reconhecer que 7 bilhões nos coloca sem opção é bom, pois podemos ser formigas para resolver problemas de massa para poder ter mais tempo para sermos pessoas.

    Ou seja, quanto menos formigas nos sentirmos, mais o sistema está funcionando. E quanto menos pessoa nos sentirmos, mais ele está com problemas.

    O objetivo é nos tornar humanos, mesmo com 7 bilhões.

    O pessoal vai resistir a essa visão, e aí seremos pessoas que se sentirão formigas o tempo todo e não o contrário.

    Valeu visita.

  9. Carlos Nepomuceno disse:

    Chagas,

    “Agora que estamos com muito conhecimento armazenado e dotado de um bom raciocínio para processarmos esse conhecimento, vem a necessidade de correr para não morrer pois em 250 anos saímos de 1 para 7 bilhões”.

    Segundo meus dados, 200 anos.

    “Para construir ou reconstruir fica muito caro e não há tempo, então o negócio é fazer como o mestre Chacrinha que diz “Nada se cria, tudo se copia”.”

    Tudo se copia para poder criar, ou seja não se reinventa a roda, mas no que não foi criado é preciso criar.

    “É hora de prestar atenção ao que já existe, no caso as abelhas, as formigas e sei lá quanto mais, para que com a tecnologia que já temos, possamos copia-los com o nosso complicador que é o raciocínio, o poder de decisão”.

    Isso, acho que o estudo das formigas mostra como a natureza resolver problemas complexos de forma simples.

    “Assim entendi, se é efetivo ou não, isso eu não sei.”

    Toda hipótese só pode ser testada conversando para aprofundar a lógica e depois, quando madura, indo para a prática, para conversar de novo, rever, conversar, etc 😉

    Valeu visita.

  10. […] (Tenho defendido que esse modelo se baseia na influência dos líderes-alfa da matilha.) […]

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