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O ser humano não aprende por aprender, mas para se situar melhor na vida e poder viver melhor consigo e com os outros. Assim, o que ele quer é tomar melhores decisões e não saber por saber – Nepô – neste post;

Versão 1.0 – 12 de abril de 2012
Rascunho – colabore na revisão.
Replicar: pode distribuir, basta apenas citar o autor, colocar um link para o blog e avisar que novas versões podem ser vistas no atual link.

Uma das coisas me mais me impressionou recentemente em um Congresso Acadêmico foi o discurso de jovens pesquisadores.

Na exposição que cada um fazia não havia uma autoria ou um posicionamento, mas todos se apressavam em dizer qual o autor ele estava seguindo e procuravam discursos para mostrar o quanto seguiam à risca os assuntos de seu “guru de plantão”.

Em sala de aula, percebo a mesma intoxicação.

Estamos saindo de um ambiente global sem diálogo, da mídia social mais vertical, no qual as pessoas não foram educadas, pelo contrário, para ter opinião própria, mas principalmente para repetir o que foi dito.

Há uma vergonha tóxica no ar, medo de falar besteira, a percepção que os assuntos são tão amplos, que só um dia, muito mais adiante poderei ter a minha própria opinião.

O modelo que vivemos – que atribuo a séculos de mídia vertical, da falta de ambientes de diálogos nos leva a essa crise da autoria – da falta de opinião das pessoas.

Há um problema grave por trás dessa intoxicação: o ensino baseado em assuntos.

Vamos radiografar melhor a situação.

Pode reparar que as Ciências hoje, como detalhei aqui, estão muito centradas em assuntos e não em problemas.

Esta é uma das sequelas da decadência que estamos vivendo com o fim de uma era informacional da mídia impressa e de massa para a nova do mundo digital em rede.

O ensino de assunto digo logo é autoritário por natureza.

É decadente e pouco eficaz.

O professor sabe e o aluno não sabe.

E o aluno vai ter que estudar muito para chegar ao professor.

O conhecimento é uma escada e cada um está em um degrau.

Toda a intuição, percepção, lógica do aluno não é útil, fica fora da sala de aula!

Pouco importa o que o professor faz com aquele assunto, se melhora a vida das pessoas, se reduz a taxa de sofrimento do mundo, se a sociedade vai viver melhor.

Apenas ele sabe mais, se aproveita disso para ser professor.

O aluno sabe menos e por isso ele é aluno.

E aprende-se por aprender, como se o conhecimento tivesse um fim em si mesmo.

É um conhecimento baseado no próprio umbigo do conhecimento.

Ou um ambiente de ensino em que o cachorro corre atrás do próprio rabo.

Há uma falha filosófica aí da base de percepção do ser humano. conhecer é meio e não fim!

O professor está apenas  “passando” conhecimento, como se este fosse uma nota de dinheiro, que vai de uma carteira à outra.

Aulas de assuntos, assim, tendem a ser enciclopédicas, labirintos cognitivos que nos levam do nada a lugar nenhum – o rendimento final é pífio.

Já aulas focadas em problemas exigem do professor e da turma um posicionamento diferente para apresentar algumas alternativas viáveis para administrá-lo melhor.

Em diálogos focados em problemas os assuntos, autores, opiniões e intuições entram dentro de uma ordem de importância que faz mais sentido.

O que não importa, geralmente, não aparece.

Economiza-se tempo.

Servem para que o problema seja melhor visto, diagnosticado e, teoricamente, melhor administrado.

(Anota: problemas não tem solução, apenas administração).

Qualquer um pode ter uma visão interessante, nova, sobre um velho problema.

O que motiva a todos a participar, pois se horizontaliza a discussão.

Obviamente, que existe gente, no caso o professor, que tem mais tempo de reflexão sobre o problema, que ajuda aos alunos a encurtar caminho, só isso, não é por que sabe mais, apenas, que já tentou várias alternativas que não foram bem sucedidas.

  • Problemas são horizontais, pois vê-se claramente onde estamos e para onde vamos. E podemos ter medidas de se é algo útil, ou não.
  • Problemas permitem aferir os resultados em um dado momento.
  • Problemas exigem lógica, associação e não memória.

Problemas horizontalizam. Assuntos verticalizam. 

Assuntos são tão vastos, grandes, infinitos que um simples aluno não pode ousar ter opinião, pois precisam de tempo para ler tudo em um saco sem fundo, criando um falso sentido do ambiente de aprendizado.

É bom lembrar:

O ser humano não aprende por aprender, mas para se situar melhor na vida e poder viver melhor consigo e com os outros. Assim, o que ele quer é tomar melhores decisões e não saber por saber.

O ensino, assim, por assuntos é uma arma de poder e dominação, o que caracteriza um ambiente autoritário.

Assuntos são geralmente tratados individualmente ou por nicho, por uma ciência, um grupo de pesquisadores, com seus dialetos corporativos.

Assuntos são uni-disciplinares, problemas são multi-disciplinares.

Assuntos são fechados, problemas estão sempre mudando e em aberto.

Problemas são exercícios lógicos que mentes abertas e frescas podem trazer brisas interessantes e até o senso comum que ajuda a todos a ver como pensamos logo de cara naquele dado problema.

Problemas são associativos, assuntos são “memoriativos”. Assuntos são sólidos, problemas são líquidos.

Qualquer um pode ter sua opinião sobre um dado problema, ter uma lógica e testá-la.

É um ambiente estrela do mar, em rede horizontal!

O que já não ocorre com assuntos, que estão muito mais para aranhas, centralizadas e cheias de pernas.

Um mundo mais horizontal e em rede nos levará necessariamente a uma mudança dos ambiente de aprendizado baseado em problemas para que as pessoas tomem melhores decisões, deixando obsoleta a abordagem dos assuntos.

Tal abordagem, portanto, nos leva a um posicionamento diferente do coordenador do encontro (dito professor 2.0) de estar aberto para a trocar, pois os problemas são por natureza mutantes, como, aliás, a vida.

Que dizes?

8 Responses to “Aulas sobre assuntos são autoritárias!”

  1. Opa Nepomuceno,

    A sua análise (parece) partir do pressuposto que o “ensino” será melhor se os assuntos não forem previamente escolhidos pelo professor! Mas, talvez, a questão realmente importante é se o foco “em ensino” em detrimento dos foco “em aprendizagens” não seja o X do problema.

    Mudar o paradigma de ensino-aprendizagem para aprendizagem-ensino (e não é um mero trocadilho!) talvez resolva a questão de quem decide o que aprender, como aprender e onde/quando aprender!

    Está aí o conceito de PLE/APA (Personal Learning Enviromments/Ambientes Pessoais de Aprendizagem) para nos encaminhar neste enfoque.

    No nosso atual contexto informacional (ou cognitivo) se conectar àquelas pessoas que aprendem, sobre um determinado assunto, há mais tempo, ou a dispositivos que armazenam “inteligências coletivas” seja o novo caminho… Conectivismo Rulez!

    Essa mudança de contexto/paradgima faz com que nós, os professores, deixemos cada vez mais de ser simples transmissores de saberes (ministradores de aulas) para nos tornarmos “Sherpas” (TM @bdieu) do conhecimento (parceiros de aprendizagens que já trilharam o caminho) 🙂

    Tarefa árdua pois, em geral, o professor não tem o controle de toda a super-estrutura dos espaços institucionais atuais de ensino-aprendizagem…

    O que não impede que, no nosso dia-a-dia, construamos nossas “contra-hegemonias possíveis” de aprendizagem-ensino… que dizes (TM @nepomuceno)?

  2. Malu disse:

    Gostei muito do nepôst. Acredito que cada vez mais o professor 2.0 e aulas por problemas (não mais por assunto)serão requisitados num mundo cada dia mais conectado e compartilhado. Tenho dificuldade, no entanto, de conseguir enxergar como isso poderia acontecer na prática, uma vez que o processo de construção de conhecimento continua engessado e preso a burocracias, às famigeradas notas e certificados de desempenho – tanto de alunos quanto de professores. Acho que novas formas de coordenação e gerenciamento desse conhecimento precisam ser criadas (ou será que já existem e não as conheço?).

  3. […] – O curso tem que passar a lidar com problemas/dilemas e não assuntos, já que problemas são dinâmicos, multidisciplinares e assuntos são cumulativos, estáticos e pouco eficientes (ver mais aqui sobre isso). […]

  4. Carlos Nepomuceno disse:

    Malu, grato pela visita..essa ideia de como pode acontecer na prática é o que devemos pensar e refletir, veja dois posts sobre isso:

    http://nepo.com.br/2012/05/08/mestrado-profissional-sobre-redes-cognitivas/

    e esse:
    http://nepo.com.br/2012/05/09/os-dois-mundos-incompativeis/

  5. […] As aulas mais colaborativas têm que passar a lidar com problemas/dilemas e não assuntos, já que problemas são dinâmicos, multidisciplinares. Já assuntos são cumulativos, estáticos e pouco eficientes (ver mais aqui sobre isso). […]

  6. […] As aulas mais colaborativas têm que passar a lidar com problemas/dilemas e não assuntos, já que problemas são dinâmicos, multidisciplinares. Já assuntos são cumulativos, estáticos e pouco eficientes (ver mais aqui sobre isso). […]

  7. […] As aulas mais colaborativas têm que passar a lidar com problemas/dilemas e não assuntos, já que problemas são dinâmicos, multidisciplinares. Já assuntos são cumulativos, estáticos e pouco eficientes (ver mais aqui sobre isso). […]

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