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A melhor forma de resolver um problema é colocando-o fora do seu contexto – Einstein – da minha coleção;

Bom, eu só respiro tese.

A minha tem que ter 150 páginas, que é a recomendação geral.

Já cheguei a 33, tirando umas 10 de blá-blá (capa, referências bibliográficas, etc) dá umas 140, falta muito.

E é tempo de pensar sobre academia e seu discurso.

Outro dia estava jantando com um vizinho, que entrou no doutorado recentemente, e vi nele, como em muitos outros (e já tive esses dramas também), aquela repulsa ao discurso acadêmico, amarrado, fechado, cheio de regras e citações.

Pois bem, apesar das críticas, que farei depois é preciso compreender o motivo das regras, com as quais, depois de refletir, concordo.

Um trabalho acadêmico deve respeitar:

  • – o que já se sabe sobre o tema;
  • – a autoria de quem já pensou sobre o assunto;
  • – a indicação de onde você pode procurar se quiser ir mais fundo.

Tudo isso é muito bom, válido, legal.

O conceito de links, na verdade, de indicação, vem da academia, que muito antes do hipertexto, já trabalhava com essa ideia.

É uma aceitação de humildade perante o saber, uma ducha fria na onipotência e um empurrão para a impotência.

Porém, tudo que vem de bom, por um lado, sempre tem outro nocivo.

Qualquer discurso, não é só o acadêmico, amarra a pessoa.

Já conversou com um advogado? 🙂

Vê-se que aquilo entranha na maneira de falar – e de pensar.

Assim, trabalhos acadêmicos, que precisam o tempo todo de citações, vão levando aos pesquisadores a um emaranhado de ideias, que, se não for bem tratado, pode embotar o pensamento.

Pois existe em um trabalho intelectual, que vira texto, sempre três coisas distintas:

  • – a lógica -, com diz o Houaiss: “parte da filosofia que trata das formas do pensamento em geral (dedução, indução, hipótese, inferência etc.) e das operações intelectuais que visam à determinação do que é verdadeiro ou não.”
  • – o recheio –  o conteúdo, como cada um pensou sobre essa lógica estruturante do trabalho e a forma que você vai encadeá-lo;
  • – a forma – como isso tem que ser colocado visualmente em um texto acadêmico.

No  Manual de Estilo Acadêmico, Lubisco lembra que:

(,…) uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutorado não atraem como um conto policial. Não possuem enredo como um romance. O que segura a leitura de um trabalho acadêmico é sua estrutura lógica; é a concatenação de suas partes: introdução que anuncia o tema-problema, referencial teórico se possívelpela revisão da literatura, opção metodológica, discussão, análise e interpretação dosdados, conclusão e recomendações.

O mérito principal de um trabalho , como se vê, é  a lógica de como vamos abordar determinado problema , seja acadêmico, ou não.

Depois, vamos comparar essa lógica, esse ponto de vista inicial, essa visão sobre a realidade, diante do que se diz por aí, na academia, através de um processo de co-criação.

E colocar dentro das normas vigentes.

Nessa ordem.

Muita gente começa pelo conteúdo e pela forma, esquecendo que o principal é a nova lógica, ainda mais em teses de doutorado!

Esse exercício lógico precisa de criatividade, de inovação, de arejamento, o que, nem sempre, as amarras da academia incentivam, pelo contrário, muitas vezes o conteúdo e a norma, se sobressaem à  lógica, principalmente às inovadoras.

Ao invés de ser janela, que é o objetivo, vira grade.

Por isso, acho tão saudável ter um blog para brincar de lógica, sem compromisso, compartilhar ideias soltas.

E, quando necessário, ir às fontes para trabalhar essa lógica em um texto mais formal.

Há de haver equilíbrio, claro, mas hoje estamos muito mais nas normas e no embotamento, do que na criatividade da lógica.

Santo blog!

O que pode acabar nos levando a um  discurso acadêmico  fechado,  que parece ser cada vez mais um vício, do que virtude.

E, por isso, é preciso ter boas novas lógicas para ver o que é ilógico no discurso do outro.

Temos muita forma e conteúdo dentro de uma lógica padrão, do senso comum, sem acrescentar nada de novo ao que interessa à sociedade mutante: inovação.

Está mais se repetindo do que inovando.

O que é um problema sério e desvirtua a própria ideia da Ciência, colocando-a hoje mais no lugar de problema do que de solução.

O problema é óbvio não é só o texto, mas este reflete uma visão geral.

Concordas?


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4 Responses to “Qualidade e risco do discurso acadêmico”

  1. Lucia disse:

    Como sempre Nepô você é de uma clareza de idéias que assusta. É isso aí, disso tudo. Precisamos na academia de mais lógica e ainda acrescento, e menos vaidade…
    bjs

  2. Mônica Couto disse:

    Nepô,
    Ao ler este post gostaria de dar um grito bem alto dizendo: concordooooo!!!
    Fazer um texto que atenda às exigências acadêmicas , mas que consiga manter a janela aberta, acessível e com uma paisagem muito diferente, original, é um desafio e tanto.
    Bendito blog “Neposts”!
    Bom domingo!

  3. Bárbara Ferraz disse:

    Essa leitura não poderia ter sido em melhor fase rs! Muito bom!!

  4. Carlos Nepomuceno disse:

    Meninas, grato…

    De quando em quando, é bom receber elogio.

    Agora, vou administrar meu ego.. 😉

    Reforço, a lógica é tudo, pois em cima dela se constrói o novo e não em cima de normas.

    Beijos,

    Nepô.

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