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As coisas não são o que são. Mas são o que somos – Talmude – da minha coleção.

A moto quando você para no sinal tem que colocar o pé no chão, o carro não.

Para dirigir precisa de equilíbrio.

Quando cai fica com o corpo mais exposto à lesões, mas pode trafegar entre os carros e ainda ter o vento diretamente na cara, além do céu como teto.

Qual a diferença entre um motorista de moto e um de carro?

Ambos podem ser gentis, respeitar sinais, os pedestres, ou ao contrário, serem loucos na forma de dirigir.

Certo?

É interessante notar que, apesar de ambas as tecnologias, definir um tipo de prática de uso, na maneira de conduzir o veículo, pelas suas caracaterísticas, limitações e potencialidades (uma moto não é boa para a chuva e, teoricamente também, para longa distâncias, por exemplo), nossa personalidade subjetiva vai aparecer em ambos os veículos.

Assim, o que podemos apreender de anos de uso das duas tecnologias é:

  • Somos limitados e nos adaptamos às suas características básicas, em função das necessidades, perfil e temperamento (tem gente que nunca vai dirigir uma moto);
  • Mas, apesar disso, ao expressar nossa subjetividade, pouco importa o veículo, pois emprestaremos a eles como estamos naquele momento. E, com o tempo, o que somos (lembrando que o ser está sempre em processo.);

Recorro a essas duas tecnologias antigas – que estão entranhadas na nossa vida –  para nos permitir ver com mais clareza o quão é absurdo acreditar que um blog, um twitter, um MSN ou qualquer outra ferramenta cognitiva digital em rede possa – por si só –  alterar a subjetividade de qualquer pessoa, apesar de criar novos compartamentos.

Elas definem um tipo de uso, mas não mudam subjetividades.

Elas mudam comportamentos, mas não a essência de como nos comportamos.

Uma pessoa com maus ou bons hábitos, em relação ao respeito a outros humanos, irá repetí-los seja aonde estiver.

Assim, a meu ver, não  há uma “cultura inanimada” por trás de dada tecnologia.

Há uma maneira de uso, que condiciona uma prática, mas, depois disso, entra a subjetividade de cada um e não o contrário.

Repetindo e clareando:

A tecnologia determina a prática, mas não altera subjetividades.

Você poderá dizer que as tecnologias informacionais cognitivas podem ser diferentes.

Sim, há diferenças.

Quando eu posso trocar com várias pessoas e ampliar meus horizontes, eu posso estar, de fato, alterando minha subjetividade, assim como ao ler um livro de poemas, ou vendo um filme no cinema.

Podem ampliar minha maneira de ver o mundo e me tornar uma pessoa mais sábia.

Ou ao contrário, mais violenta.

Dependerá sempre do grupo, do livro ou do filme.

Aquilo que outro humano preencheu.

A tecnologia é a apenas a casca!

Em uma lista de discussão, por exemplo, consegui trocar com várias pessoas e caiu a ficha em um dado momento, que não cairia se não existisse.

Mas note que o resultado da troca entre humanos é que me fez mudar a subjetividade, a relação que eu consegi estabelecer entre as pessoas, usando aquela nova tecnologia.

Se estivesse em uma lista parada, quieta que ninguém opina ou posta, a tecnologia seria nula, nada.

Assim, aquilo que ela me permite, PODE, ampliar minha subjetividade, mas não o uso dela por ela mesmo.

(Hitler tinha uma biblioteca de 16 mil livros e lia um a cada dia. Mudou alguma coisa?)

Haverá sempre um fator relacional de cada um, a cada momento, dependendo como e com quem estamos trocando.

Por causa disso, atribuir a uma dada tecnologia uma cultura, dá um poder inexistente a ela e, por outro lado, reduz o que fará a diferença: a maneira como usamos e emprestamos nossa subjetividade.

Quando entramos no mundo 2.0, no qual o fator de troca a distância muitos para muitos, passa a ser praticado e ampliado, criamos uma nova forma de interação, viabilizada pela nova tecnologia.

Assim, o que se altera não é o mundo por causa da tecnologia, mas a maneira que trocamos, em função dos novos recursos tecnológicos existentes.

E aí há uma grande diferença, pois é na qualidade da troca que haverá diferença e não da troca facilitada por uma dada tecnologia por ela mesma.

Há, no máximo, perfis, prática de uso, condicionadas pelas características de cada um para o bem ou para o mal.

  • O e-mail é mais lento que uma mensagem no MSN, instântanea.
  • O Twitter é mais versátil que uma lista de discussão, mas se limita a 140 toques.

Uma tecnologia cria uma nova prática de uso, que nos permite trafegar na estrada informacional  de uma nova maneira, quase sempre mais rápida e versátil, é verdade.

Na rede, cada vez somos mais motos rápidas do que carros lentos (seja lá para onde isso esteja nos levando).

Mas, depois que aprendemos a usar, quando os gentis e os malucos assumem o volante, sai da frente, que aí vem gente!

E aí, mermão, minha irmã, é geralmente cada um por si – e, raramente e infelizmente – todos por todos.

Concordas?

Já discuti este tema também em:

A ilusão da Twittosfera

Em busca do computador invisível

2 Responses to “Qual a diferença entre um carro e uma moto?”

  1. Edson Vergilio disse:

    Parece que os dons estão sempre mudando, mas na verdade permanecem sendo os mesmos. O que muda é a época e a tecnologia.
    Resultado = Dom + Idéias + Planejamento

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